Crítica | Eden (2024) | Sangue Tipo B

Com Jude Law, Sydney Sweeney e Ana de Armas em atuações intensas, filme reconstrói episódio real nas Galápagos, mas tropeça na própria ambição.

Imagem do filme 'Eden', mostrando o casal Friedrich e Dore, interpretados por Jude Law e Vanessa Kirby

Jude Law e Vanessa Kirby interpretam o casal Friedrich e Dore no filme 'Eden', de Ron Howard. Foto: Jasin Boland/Jasin Boland - © Cortesia da Vertical

Eden, o novo filme do diretor Ron Howard, dramatiza a história real de um punhado de europeus que, nos anos 1930, tentaram criar uma nova civilização na remota ilha de Floreana, nas Galápagos. Não é apenas um drama histórico, mas um mergulho tortuoso nos instintos mais primitivos da condição humana. Com um elenco estelar e uma abordagem que flerta com o thriller psicológico, o longa é, ao mesmo tempo, fascinante e irregular, oscilando entre momentos de tensão palpável e tropeços de ritmo que minam parte de seu impacto.

A trama acompanha Friedrich Ritter, um médico idealista alemão que, junto à esposa Dore Strauch, abandona a civilização para viver em comunhão com a natureza. O isolamento, porém, não dura muito: logo chegam os Wittmer, uma família suíça liderada por Heinz e a jovem Margret, seguidos pela figura extravagante da baronesa Eloise Bosquet de Wagner Wehrhorn, acompanhada de dois amantes e uma ambição desmedida de transformar o local em um resort para milionários.

A presença de novos colonos transforma rapidamente a utopia em um campo de batalha ideológica, moral e, eventualmente, física. Os conflitos, alimentados por ciúmes, desconfiança e disputas territoriais, ganham contornos cada vez mais sombrios à medida que o isolamento e o calor tropical corroem a sanidade dos envolvidos.

Imagem do filme 'Eden', mostrando a personagem Margret, interpretada por Sydney Sweeney

Margret (Sydney Sweeney) chega à ilha de Floreana no filme 'Eden'. Foto: Jasin Boland/Jasin Boland - © Cortesia da Vertical

O elenco de Eden é, sem dúvida, seu trunfo mais sólido. Jude Law (O Ritmo da Vingança), cada vez mais confortável em personagens despedaçados, entrega um Friedrich contido e tenso, cujo idealismo dá lugar a um niilismo inquietante. Vanessa Kirby (Quarteto Fantástico: Primeiros Passos), embora menos aproveitada, oferece nuance suficiente para que Dore não se torne apenas a “esposa silenciosa”.

Sydney Sweeney (Imaculada) volta a surpreender como Margret, que passa de jovem sonhadora a sobrevivente endurecida, numa trajetória marcada por entrega física e emocional. Mas é Ana de Armas (Bailarina) quem comanda a tela. Sua baronesa é uma mistura de encantamento, teatralidade e ameaça. Ela atua como catalisadora do colapso, provocando os homens e manipulando as mulheres, sempre um passo à frente dos demais.

Conhecido por dramas mais tradicionais como Uma Mente Brilhante, Howard parece interessado em experimentar novos limites aqui. Eden tem momentos de brutalidade inesperada, desconstruções morais radicais e até certo flerte com o horror psicológico, como se o diretor estivesse finalmente disposto a sujar as mãos. A segunda metade do filme, em especial, assume um tom febril, onde as tensões explodem em violência física e emocional.

Imagem do filme 'Eden', mostrando a personagem Baronesa, interpretada por Ana de Armas

Ana de Armas interpreta a baronesa no filme 'Eden', de Ron Howard. Foto: Jasin Boland/Jasin Boland - © Cortesia da Vertical

Mas embora o elenco comprometido e as ocasionais explosões de adrenalina mantenham o interesse pela história relativamente alto, Eden tem problemas que comprometem a diversão. O roteiro constrói um primeiro ato meticuloso, quase frio, que estabelece as dinâmicas dos personagens, mas demora a engrenar. A chegada de um quarto grupo na ilha acentua a lentidão. Quando o caos finalmente toma conta, o filme já perdeu parte de sua força emocional, e algumas resoluções soam apressadas.

O último ato é morno. O final, absolutamente anti-climático. Há também uma certa hesitação visual: a fotografia, embora tecnicamente bela, opta por tons dessaturados que tornam a ilha, teoricamente exuberante, num cenário árido e sem vitalidade, o que limita o contraste simbólico entre o paraíso prometido e o inferno que se forma.

Há algo de corajoso (e por vezes até insano) em ver Howard descer lentamente ao inferno com seus personagens enquanto se lança em um retrato da falência de ideais humanos diante da natureza bruta e do ego inflamado. Ainda assim, Eden está longe de ser a obra-prima que sua premissa promete.

Nota: 5/10

Título Original: Eden.

Título Nacional: Eden.

Gênero: Drama, suspense.

Produção: 2024.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 2 h.

Roteiro: Noah Pink, Ron Howard.

Direção: Ron Howard.

Elenco: Jude Law, Ana de Armas, Vanessa Kirby, Daniel Brühl, Sydney Sweeney, Jonathan Tittel, Felix Kammerer, Toby Wallace, Ignacio Gasparini, Richard Roxburgh, Paul Gleeson, Thiago Moraes, Nicholas Denton, Tim Ross, Antonio Alvarez, Benjamin Gorroño.