Crítica | Cargo (2018)

Martin Freeman em imagem do filme 'Cargo', da Netflix

Por Ed Walter

Em 2013, Ben Howling e Yolanda Ramke conseguiram um feito raro: eles trouxeram uma nova idéia para os filmes de zumbis. Bem, na verdade não era um filme, e sim um curta-metragem. Mas o fato é que a história do pai que após ser mordido por um zumbi luta contra o tempo para encontrar um lugar seguro para deixar sua filha pequena, conseguiu ser tensa, macabra e ao mesmo tempo emocionante.

Cargo, filme que estreou ontem na Netflix, expande o universo do curta. Os próprios Howling e Ramke dirigem, com Martin Freeman (Pantera Negra) assumindo o papel de Andy, o tal pai que percorre um mundo desolado para salvar a filha. A história de Andy se cruza com a de uma menina chamada Thoomi (Simone Landers), que busca por uma salvação para seu pai que já se transformou em um zumbi.

Imagem do drama de terror 'Cargo', da Netflix

A dupla de diretores faz um bom trabalho no primeiro ato. Conhecemos a esposa de Andy, Kay (Susie Porter), e acompanhamos os eventos que levaram à situação mostrada no curta-metragem. O suspense é bem trabalhado e há uma forte carga emocional. No decorrer do filme o roteiro também apresenta algumas idéias interessantes, principalmente com relação ao visual e alguns comportamentos bizarros dos infectados. Não são fornecidas informações sobre a origem da infecção, mas pequenas pistas nos ajudam a ir montando o quebra-cabeças.

Obviamente, transformar um curta de 7 minutos em um filme de 105 tem seus problemas, e eles não demoram a aparecer. Além da garota Thoomi, o roteiro apresenta vários outros personagens, entre eles a professora Etta (Kris McQuade) e o casal Vic e Lorraine (Anthony Hayes e Caren Pistorius). Algumas das interações com esses personagens funcionam bem, mas boa parte delas parece não se encaixar como deveria. Parecem eventos aleatórios colocados ali apenas para esticar a história. Há coincidências demais, clichês demais, e no final nada ganha o aprofundamento que deveria ter.

Imagem do filme 'Cargo', da Netflix

Depois que são mordidos, os infectados passam a usar um pulseira que mostra a eles — e ao público — quanto tempo resta antes que se transformem em zumbis. Mas essa solução acaba se mostrando inútil já que, mesmo tendo apenas 48 horas para encontrar um lugar seguro para deixar a filha, Andy parece agir como se tivesse todo o tempo do mundo. Essa ausência constante de senso de urgência atrapalha muito a imersão. Já a insistência dos diretores em não mostrar cenas de terror é aceitável a princípio, e até ajuda a criar suspense. Mas quando entendemos que eles não vão mostrar de jeito nenhum, a sensação é de frustração.

Tudo bem que o objetivo era se concentrar nas situações dramáticas e na relação entre pai e filha. O problema é que o drama apresentado não é tão interessante assim. E nem de longe é suficiente para carregar o filme inteiro. Cargo tem um bom primeiro ato, um protagonista carismático e alguns momentos criativos, mas se perde ao tentar ser emocionante demais ao invés de ser divertido. Não chega a ser um filme ruim. Mas eu já me esqueci dele.

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Título original: Cargo.
Gênero: Drama, terror. Lançamento: 2018.
País: Austrália. Duração: 105 minutos.
Direção: Ben Howling e Yolanda Ramke.
Roteiro: Yolanda Ramke.
Elenco: Martin Freeman, Anthony Hayes, Susie Porter, Caren Pistorius, Kris McQuade, Natasha Wanganeen, Bruce R. Carter.
 

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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