Peixes pré-históricos transformam spring break em um banho de sangue em 'Piranha', o delicioso remake do clássico de Joe Dante dirigido por Alexandre Aja
A atriz Jessica Szohr como Kelly no filme 'Piranha', de Alexandre Aja |
O cineasta Alexandre Aja alcançou fama internacional em 2003 com o slasher Alta Tensão, considerado um dos grandes representantes da onda de filmes subversivos franceses que surgiu na virada do século XXI. Em 2006, Aja assumiu a responsabilidade de co-escrever e dirigir Viagem Maldita, remake do clássico Quadrilha de Sádicos (1977), do mestre Wes Craven. Dois anos depois, o diretor entregou Espelhos do Medo, outro remake, desta vez do terror sul-coreano Espelho (2003).
Em 2019, Aja nos presentou com Predadores Assassinos, escolhido pela Sangue Tipo B como o melhor filme de terror do ano. Mas antes, precisamente no ano de 2010, ele entregou outra delícia sangrenta e insanamente divertida: Piranha 3D (ou apenas Piranha), que atualiza a história do cult setentista de Joe Dante, sobre piranhas geneticamente modificadas que são acidentalmente lançadas nos rios de um resort de verão, para o desespero dos hóspedes.
PUBLICIDADE
Pete Goldfinger e Josh Stolberg assinam o roteiro da nova versão de Piranha, que troca as criaturas geneticamente modificadas do filme de 1978 por um cardume de Pygocentrus nattereri — piranhas pré-históricas que estavam lacradas em um bolsão subterrâneo no Lago Victoria, no Arizona, mas são libertas quando um terremoto de pequena escala atinge a região. Uma cidade próxima, com o mesmo nome do lago, está recebendo turistas para o spring break americano. Nem é preciso dizer que os peixes pré-históricos esfomeados terão um banquete variado.
Steven R. McQueen e Kelly Brook como Jake e Danni no filme 'Piranha', de Alexandre Aja |
Piranha é dividido em dois núcleos. O primeiro é liderado por Julie Forester (Elisabeth Shue, da série The Boys), uma policial dedicada que se une ao delegado Fallon (Ving Rhames, de Madrugada dos Mortos) para investigar um desaparecimento. Esse é apenas um de muitos desaparecimentos que virão. Inevitavelmente, Julie e Fallon descobrirão que os cidadãos do Lago Victoria não estão apenas sumindo, mas sendo devorados vivos.
As investigações da dupla rendem momentos tensos, com destaque para a ótima cena dos mergulhadores, que parece ter saído diretamente de um dos filmes da franquia Alien. Christopher Loyd surge, hilário, no papel de Carl Goodman, um cientista excêntrico que fornece pistas sobre as piranhas jurássicas. A título de curiosidade, Elisabeth Shue e Christopher Lloyd trabalharam juntos na trilogia De Volta Para o Futuro, ela como a adolescente Jennifer, e ele como o cientista Emmett Brown.
Imagem do filme 'Piranha', de Alexandre Aja |
O segundo núcleo é liderado pelo adolescente Jake, interpretado por Steven R. McQueen, da série The Vampire Diaries. Jake divide seu tempo entre cuidar dos irmãos pequenos, tentar conquistar a amiga Kelly (Jessica Szohr, de Lua Cheia: O Terror dos Virgens) e servir de guia turístico para Derrick Jones (Jerry O'Connell, de Delivery Macabro), o proprietário do site adulto "Wild Wild Girls", que quer aproveitar o spring break no Lago Victoria para filmar seu próximo projeto.
PUBLICIDADE
Jones até trouxe duas modelos, as maravilhosas Danni e Crystal, interpretadas por Kelly Brook (Uma Saída de Mestre) e pela estrela de filmes adultos Riley Steele. Uma de minhas cenas favoritas de Piranha envolve justamente as duas em um balé sincronizado debaixo d'água, ao som do "Dueto de Flores" da ópera "Lakmé", do compositor francês Léo Delibes. O balé aquático de Danni e Crystal é uma homenagem a Fome de Viver (1983) de Tony Scott, que usou a mesma música para uma cena semelhante com Catherine Deneuve e Susan Sarandon.
Imagem do filme 'Piranha', de Alexandre Aja |
O núcleo de Jack oferece a Aja a oportunidade perfeita para entregar humor-negro, nudez gratuita e muitas situações politicamente incorretas. Mas embora o clima de Piranha seja intencionalmente voltado para o trash, a produção está muito acima da média de um filme do gênero. O CGI, convincente para a época, está presente desde a cena de abertura, que mostra os apuros de um pescador interpretado por ninguém menos que Richard Dreyfuss, do clássico Tubarão.
Os fãs mais atentos perceberão que Dreyfuss está vestido como Hooper, o personagem que interpretou no filme de 1975, durante a cena em que canta "Show Me the Way to Go home". Ele também bebe uma cerveja com o mesmo nome da cidade fictícia do clássico de Spielberg. Considerando o perigo que corre na cena de abertura de Piranha, é difícil não rir ao perceber que, novamente, ele vai precisar de um barco maior.
A atriz Kelly Brook como Danni no filme 'Piranha', de Alexandre Aja |
O visual das criaturas é convincente. Mas é quando as piranhas atacam que o diretor realmente impressiona. O CGI se alinha com os efeitos práticos para fazer de cada ataque um espetáculo visceral insanamente divertido. E a coisa explode no último ato, com um verdadeiro banho de sangue que entra facilmente para a lista das melhores sequências de mortes já vistas em um filme de terror. Não sou um grande fã de remakes, mas Piranha supera as melhores expectativas.
Nota: 8.4/10
Título original: Piranha 3D.
Gênero: Terror, comédia.
Produção: 2010.
Lançamento: 2010.
Pais: Estados Unidos, Japão.
Duração: 1 h 28 min.
Roteiro: Pete Goldfinger, Josh Stolberg.
Direção: Alexandre Aja.
Elenco: Steven R. McQueen, Elisabeth Shue, Jerry O'Connell, Jessica Szohr, Kelly Brook, Riley Steele, Christopher Lloyd, Richard Dreyfuss, Adam Scott, Ricardo Chavira, Dina Meyer, Paul Scheer, Brooklynn Proulx, Sage Ryan, Eli Roth.