Crítica | Ninho do Mal (Pahanhautoja / Hatching, 2022)

A imagem da família perfeita é ameaçada pelo surgimento de um monstro em 'Ninho do Mal', o filme de estreia da diretora Hanna Bergholm


A atriz Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm
A atriz Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm


Uma mãe obcecada pela imagem da família perfeita acaba contribuindo para o nascimento de um monstro neste filme de terror deliciosamente viscoso dirigido por Hanna Bergholm. Ninho do Mal é o longa-metragem de estreia da diretora finlandesa, que vem realizando curtas desde 2005. Bergholm também comandou 10 episódios da série Reetta ja Ronja, inédita no Brasil. Ela dirige Ninho do Mal a partir do roteiro de Ilja Rautsi.

Tinja (pronuncia-se Tínia) é uma pré-adolescente tímida e solitária que vive com a família em uma comunidade de casas de aparência idêntica e de ruas estranhamente vazias. Ela está desesperada para impressionar sua mãe arrogante e sem nome, que divide seu tempo entre cobrar mais empenho da menina no esporte, e registrar o dia-a-dia aparentemente perfeito da família em seu vlog, "Adorável Vida Cotidiana".


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Escrevi "aparentemente" porque, como não demoramos para descobrir, apesar dos esforços da mãe, a família não é tão perfeita assim. De um jeito ou de outro, papai, que também não tem nome e muito menos personalidade, aceita as regras impostas pela esposa, sempre com um sorriso falso no rosto. Quanto ao irmão de Tinja, Matias... bem, o menino é uma versão em miniatura do pai, porém mais impaciente.

Imagem do filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm
Imagem do filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm


A harmonia do lar é literalmente quebrada com a chegada de um pássaro inconveniente. O incidente caótico leva Tinja a encontrar um ovo, e ela decide chocá-lo. Como Ninho do Mal é um filme de terror, você provavelmente já deve imaginar que o que sairá do ovo não é coisa boa. De fato, não é, e a falsa realidade perfeita da mãe estará seriamente ameaçada.


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Ninho do Mal tem um elenco competente, com destaque para a performance destemida da novata Siiri Solalinna como a criança assombrada pelo fantasma das expectativas dos pais. Ou, neste caso, da mãe. Sophia Heikkilä (série Syke) também está ótima, entregando uma personagem espinhosa, sutilmente assustadora, mas com disposição para manter as aparências mesmo quando sua face de mãe perfeita começa a apresentar rachaduras.

Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm
Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm


A direção de Bergholm é elegante, o que não significa que você estará livre de cenas de revirar o estômago. Pelo contrário, Ninho do Mal tem momentos realmente desconfortáveis, principalmente quando a diretora joga os holofotes em seu monstro — um animatrônico com um leve acabamento em CGI, que lembra de Alien a Jurassic Park, com pitadas de criatura fantástica de Harry Potter e um toque trash que remete a filmes B de Roger Corman.

A equipe de efeitos práticos faz um trabalho fantástico, garantindo momentos pegajosos de body horror, bem na linha do mestre Cronenberg. Com um pouco de boa vontade, dá até para dizer que Ninho do Mal caminha em um terreno muito próximo do clássico A Mosca (1986), com o diferencial de que, no filme de Bergholm, a metamorfose segue a ordem inversa.

A atriz Ida Määttänen como Reetta no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm
A atriz Ida Määttänen como Reetta no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm


Fã de longa data de filmes e séries de terror provavelmente também encontrarão semelhanças entre o conto de fadas adulto de Bergholm e um certo episódio da série antológica The Haunting Hour. Não entrarei em detalhes para evitar spoilers. Mas posso tranquilizar os leitores e afirmar que, mesmo com elementos familiares, Ninho do Mal tem muita personalidade, e caminha perfeitamente com as próprias pernas.

Se você lançar um olhar mais profundo sobre o filme, poderá encontrar metáforas para diversos temas. Caso não tenha tempo e nem paciência para ficar procurando por significados ocultos e queira apenas se divertir com um filme de monstros, a diretora também lhe oferecerá um passatempo sólido, o que faz de Ninho do Mal uma obra com potencial para agradar gostos variados.

Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm
Siiri Solalinna como Tinja no filme 'Ninho do Mal', de Hanna Bergholm


Senti falta de um pouco mais de aprofundamento nos personagens do pai e do irmão de Tinja, interpretados por Jani Volanen (Trabalho de Homem) e pelo estreante Oiva Ollila. Também gostaria de um final à altura para algumas subtramas, uma envolvendo a mãe de Tinja e o pai solteiro Tero (Reino Nordin, de Game Over), e a outra envolvendo a vizinha amigável da menina, Reetta (Ida Määttänen, da série Sommarkollo). Mesmo não preenchendo essas lacunas, Ninho do Mal é um filme interessante.

Nota: 6.5/10

Título Original: Pahanhautoja / Hatching.
Gênero: Drama, terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Finlândia, Suécia.
Duração: 1 h 26 min.
História: Hanna Bergholm.
Roteiro: Ilja Rautsi.
Direção: Hanna Bergholm.
Elenco: Siiri Solalinna, Sophia Heikkilä, Jani Volanen, Reino Nordin, Oiva Ollila, Ida Määttänen, Saija Lentonen, Stella Leppikorpi, Hertta Nieminen, Aada Punakivi, Hertta Karen, Jonna Aaltonen, Miroslava Agejeva.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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