Crítica | Pecadores (Sinners, 2025)

Michael B. Jordan interpreta gêmeos que enfrentam vampiros no Mississippi da década de 1930 neste drama de terror dirigido por Ryan Coogler


Michael B. Jordan interpreta os gêmeos Smoke e Stack no filme 'Pecadores', de Ryan Coogler
Michael B. Jordan interpreta os gêmeos Smoke e Stack no filme 'Pecadores', de Ryan Coogler


Quando Ryan Coogler anunciou seu interesse em trazer de volta às telas a icônica série Arquivo X, fiquei bastante empolgado. Especialmente porque ele afirmou que gostaria que os novos episódios fossem "realmente assustadores". Após assistir ao novo filme do diretor — um drama de terror sobre vampiros chamado Pecadores —, no entanto, minha empolgação diminuiu consideravelmente. E não apenas porque vi pouco ou quase nada de assustador neste longa, mas também porque encontrei mais um projeto com potencial desperdiçado pela decisão de sacrificar diversão em nome de mensagem.

É realmente uma pena, pois os quarenta minutos iniciais de Pecadores são primorosos. Indiretamente inspirado na lenda do bluesman Robert Johnson — que, segundo diz a tradição oral, teria vendido sua alma ao diabo em uma encruzilhada em troca de fama e talento musical —, o filme nos transporta para o Mississippi de 1932, em meio à segregação racial, numa paisagem ao mesmo tempo ensolarada e opressiva. É nesse cenário que acompanhamos a história dos elegantes, carismáticos e moralmente ambíguos irmãos gêmeos Smoke e Stack (na versão em português, Fumaça e Fuligem), ambos interpretados por um excelente Michael B. Jordan (Creed – Nascido para Lutar), que entrega duas performances distintas com nuances de personalidade e estilo.

PUBLICIDADE

Os dois retornam à cidade natal após uma temporada em Chicago — onde, ao que tudo indica, trabalharam para Al Capone — com muito dinheiro no bolso e o sonho de abrir sua própria juke-joint: um espaço onde a comunidade negra possa se reunir, dançar, beber e celebrar a vida. Para animar o ambiente, eles contratam seu primo, um jovem cantor de blues chamado Sammie (o cantor e compositor R&B Miles Caton, em uma estreia surpreendentemente sólida), cujos acordes de violão têm o poder de, literalmente, romper as barreiras da realidade.

Jayme Lawson como Pearline no filme 'Pecadores'
Jayme Lawson como Pearline no filme 'Pecadores', de Ryan Coogler


O elenco de apoio também se destaca: Hailee Steinfeld (As Panteras) interpreta Mary, ex-amante de Stack; Delroy Lindo (Malcolm X) dá vida ao lendário cantor Delta Slim com presença magnética; e Wunmi Mosaku (O Que Ficou Para Trás) brilha como Annie, a ex-esposa de Smoke, uma cozinheira com profundos conhecimentos de vodu. As atuações são consistentes e carismáticas, ajudadas por figurinos luxuosos e bem pesquisados, e por uma reconstituição de época belíssima — das roupas aos instrumentos musicais, passando pelos cenários de terra batida e salões esfumaçados.

A trilha sonora, centrada no blues raiz, é um dos maiores trunfos do filme: visceral, hipnótica e cheia de alma. Há, inclusive, uma das melhores representações do poder transformador da música que já vi no cinema — uma cena de pura catarse audiovisual que ecoa muito tempo depois que o filme termina.

PUBLICIDADE

Com tantos elementos funcionando em harmonia, quase não percebi que Pecadores já se aproximava da primeira hora e os elementos sobrenaturais ainda não haviam aparecido. Quando enfim surgem, a história muda de tom. A referência à lenda de Robert Johnson volta a ecoar, agora em um contexto mais literal. Para quem se interessa por esse tipo de tema, vale inclusive revisitar Encruzilhada (1986), dirigido por Walter Hill, que também aborda o mito do músico e sua suposta barganha com o diabo.

Hailee Steinfeld e Michael B. Jordan no filme 'Pecadores'
Hailee Steinfeld como Mary e Michael B. Jordan como Stack (ou seria Smoke?) no 'Pecadores', de Ryan Coogler


Curiosamente, é justamente após esse mergulho no sobrenatural que Pecadores começa a perder sua força. Muito tem se comparado o filme a Um Drink no Inferno (1996), de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, pela estrutura narrativa que alterna entre o crime e o terror vampiresco. A semelhança, no entanto, termina aí. Enquanto o terror B dos anos 1990 abraçava a anarquia e o absurdo com prazer quase infantil, Coogler opta por manter o foco na alegoria, nos subtextos e nas críticas sociais que, vale dizer, já estavam mais do que evidentes na primeira metade do filme.

A impressão que fica é a de que Coogler investiu toda sua energia criativa em estabelecer a música como metáfora cultural — o que, de fato, é louvável —, mas se esqueceu de que Pecadores também deveria funcionar como um filme de terror. Há vampiros, suas mordidas vêm acompanhadas de muito sangue, mas senti pouco empenho em criar momentos de tensão e até uma certa pressa nessas cenas, como se estivessem ali apenas por obrigação. Antes mesmo do ato final, eu já estava lamentavelmente entediado com os vampiros cantores liderados por Remmick (Jack O'Connell, de Ferrari), e cada vez mais convencido de que o diretor manteria a mão pesada até os créditos finais — o que, de fato, acontece.

Terei que discordar dos críticos mais entusiasmados, que vêm classificando Pecadores como “o melhor filme de terror do ano” ou “um dos melhores filmes de vampiro já feitos”. Na minha visão, trata-se de um bom drama de época, repleto de imagens poderosas, interpretações competentes e uma atmosfera riquíssima. Mas como filme de terror — e, principalmente, como obra vampírica —, Pecadores deixa bastante a desejar.

Nota: 5,5/10

Título Original: Sinners.

Título Nacional: Pecadores.

Gênero: Drama, terror.

Produção: 2025.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América, Austrália, Canadá.

Duração: 2 h 17 min.

Roteiro: Ryan Coogler.

Direção: Ryan Coogler.

Elenco: Michael B. Jordan, Miles Caton, Hailee Steinfeld, Miles Caton, Jack O'Connell, Wunmi Mosaku, Jayme Lawson, Omar Miller, Delroy Lindo, Sam Malone, Tenaj L. Jackson, Dave Maldonado, Aadyn Encalarde, Helena Hu, Yao, Li Jun Li.

TÓPICOS RELACIONADOS: #Pecadores   #Ryan Coogler   #Michael B. Jordan

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

Postar um comentário

Antes de serem publicados, os comentários serão revisados.

Postagem Anterior Próxima Postagem