Crítica | A Noite Sempre Chega (Night Always Comes, 2025)

Netflix entrega um thriller competente, mas tímido, que evita ir até o fundo de suas próprias feridas


Vanessa Kirby como Lynette no filme 'A Noite Sempre Chega'
Lynette (Vanessa Kirby) precisa de 25 mil dólares e fará de tudo para conseguir em 'A Noite Sempre Chega'. Foto: © 2025 Netflix, Inc.


 Em A Noite Sempre Chega, da Netflix, o diretor Benjamin Caron adapta o romance de Willy Vlautin para as telas com ambição, mas sem a coragem necessária para transformar uma boa ideia em um grande filme. Esse é um thriller interessante, que se apoia na força da protagonista interpretada por Vanessa Kirby, mas acaba desperdiçando parte de seu potencial ao suavizar os elementos mais sombrios da história.

Kirby interpreta Lynette, uma mulher que vive em Portland com a mãe Doreen (Jennifer Jason Leigh) e o irmão Kenny (Zach Robin Gottsagen), que tem síndrome de Down e não pode morar sozinho. Sua maior preocupação é comprar a pequena casa onde vivem para garantir estabilidade à família, mas um obstáculo inesperado surge: o adiantamento de 25 mil dólares, que poderia assegurar o imóvel, foi gasto pela mãe em um carro novo.


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Com prazo até a manhã seguinte para levantar o valor, Lynette embarca em uma corrida desesperada contra o tempo. Determinada a não perder tudo, visita conhecidos e clientes, buscando dinheiro a qualquer custo. Quando a conversa falha, ela recorre a métodos ilícitos: roubo de carro, arrombamento de cofre e chantagens emocionais improvisadas. Essa descida moral, marcada pela urgência, é o motor da narrativa e revela uma protagonista que se transforma diante da necessidade extrema.

A atriz Julia Fox como Gloria no filme 'A Noite Sempre Chega'
Julia Fox interpreta a amiga Gloria no filme 'A Noite Sempre Chega'. Foto: © 2025 Netflix, Inc.


O longa busca equilibrar três frentes narrativas: o drama familiar, a crítica social e o suspense policial. Nenhuma delas, no entanto, se desenvolve plenamente. A relação entre Lynette, sua mãe e o irmão não emociona como deveria, soando mais como uma distração do que um núcleo essencial. Já o comentário social sobre a vida de pessoas pobres que vivem à beira do colapso financeiro, é... bem, ele é chato, como todo comentário social em qualquer filme costuma ser.

Quando mergulha em seu lado mais sombrio, A Noite Sempre Chega mostra uma certa energia. Temas como violência, prostituição e traumas pessoais surgem, mas sempre com certa hesitação, como se o diretor tivesse medo de atravessar limites. Essa timidez resulta em uma obra que evoca o cinema dos anos 70 e 80, mas sem a ousadia que tornava aquelas produções memoráveis. A sensação é a de estar diante de um filme que constantemente freia antes de chegar onde poderia.


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Ainda assim, Caron, que já dirigiu episódios de séries como The Crown e Sherlock, revela competência em alguns momentos-chave. Ele constrói sequências de suspense eficazes, imprime um clima sombrio e sufocante à cidade de Portland, e, em alguns instantes, deixa o caos dominar a tela. Nessas passagens, percebemos o que A Noite Sempre Chega poderia ter sido, caso tivesse abraçado de vez seu lado mais perturbador.

Imagem do filme 'A Noite Sempre Chega'
Imagem do filme 'A Noite Sempre Chega'. Foto: © 2025 Netflix, Inc.


Além da direção, a força do filme está em Kirby. Sua Lynette é contraditória, emocionalmente complexa, e ganha camadas a cada nova cena. O arco da personagem é o que mantém o espectador investido, revelando uma mulher que não é nem heroína nem vilã, mas alguém moldado por circunstâncias cruéis. Ao final, entendemos melhor suas motivações e dilemas morais, e saímos com uma visão mais profunda dela.

A Netflix, ao apostar em uma versão suavizada de um material de origem tão sombrio, entrega um thriller que entretém, mas não provoca, e apenas sussurra quando deveria gritar. A boa atuação de Vanessa Kirby, o suspense e a boa atmosfera o tornam um filme assistível, mas falta ousadia e densidade para que a obra se torne uma experiência memorável. A sensação que fica é de oportunidade perdida.


Nota: 5/10


Título Original: Night Always Comes.

Título Nacional: A Noite Sempre Chega.

Gênero: Suspense, drama, policial.

Produção: 2025.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América, Reino Unido.

Duração: 1 h 48 min.

Roteiro: Willy Vlautin, Sarah Conradt.

Direção: Benjamin Caron.

Elenco: Vanessa Kirby, Zack Gottsagen, Jennifer Jason Leigh, Jennifer Lanier, Jason Rouse, Christian Blair, Erin Way, J. Claude Deering, Smack Louis, Stephan James, Tami Yeager, Randall Park, Amanda Sloane, Julia Fox.



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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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