Os Warren voltam para um último caso que, ironicamente, também é o mais esquecível de todos
![]() |
Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam como Ed e Lorraine Warren em 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual'. Foto: © 2025 - Warner Bros. Pictures |
Invocação do Mal 4: O Último Ritual chega com o peso simbólico de encerrar uma das franquias mais consistentes do terror moderno, mas tropeça feio no próprio epitáfio. A despedida de Ed e Lorraine prometia um clímax à altura do casal que se tornou ícone do gênero. O que se vê, porém, é um filme hesitante, fragmentado e emocionalmente anêmico. O início ainda seduz com alguma atmosfera, mas o encanto se dissolve rápido, como um exorcismo malfeito.
Ambientada em 1986, a história revisita o caso real da família Smurl, que afirmava ser atormentada por forças malignas em sua casa na Pensilvânia. O gatilho do horror é um espelho antigo, metáfora óbvia, mas funcional, que dá início a uma sequência de eventos sobrenaturais. A tensão inicial é promissora, sustentada por um bom controle de ritmo, até que o roteiro decide se perder em círculos. As idas e vindas não apenas cansam, como diluem o impacto dos sustos e a densidade do mistério.
Michael Chaves, que vem comandando alguns derivados do universo de James Wan (A Freira 2 e Invocação do Mal 3 têm sua assinatura), demonstra um olhar apurado para a composição visual. Há momentos inspirados — o jogo de sombras no porão, a distorção dos reflexos — que revelam um diretor capaz de criar belas imagens. O problema é que o terror não sobrevive apenas de belas imagens. Falta ritmo, falta pulso e, definitivamente, falta foco para que as aparições sobrenaturais não pareçam tão aleatórias.
![]() |
Leigh Jones interpreta o fantasmagórico Abner em 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual'. Foto: © 2025 - Warner Bros. Pictures |
O maior pecado, porém, é estrutural. Ed e Lorraine passam boa parte do filme como espectadores da própria trama, confinados em um subplot doméstico que humaniza o casal, mas desarma a narrativa principal. O prólogo sugere um elo sinistro entre eles e o espelho amaldiçoado, mas o roteiro demora tanto a conectar as pontas que, quando finalmente o faz, o impacto já se perdeu. A sensação é de acompanhar dois filmes diferentes lutando pelo mesmo espaço, e ambos saem perdendo.
Patrick Wilson e Vera Farmiga continuam sendo o coração da franquia. A química entre os dois segue intacta, mesmo quando o texto não lhes dá muito o que fazer além de repetir discursos sobre fé e esperança. A subtrama de Judy Warren (Mia Tomlinson, da série O Reino Perdido dos Piratas), agora adulta e tentando lidar com dons psíquicos cada vez mais intensos, rende bons momentos (a sequência no provador de espelhos é uma das melhores do filme), mas jamais se integra ao núcleo central. E enquanto isso, a família Smurl, que deveria ser o eixo emocional da história, some aos poucos sob o peso do fan service e da nostalgia.
Há lampejos de vida aqui e ali: aparições divertidas de Annabelle, um susto bem cronometrado, um enquadramento engenhoso. Mas tudo parece encaixado por obrigação, como peças soltas de um quebra-cabeça que já perdeu o sentido. Quando os Warren finalmente entram em ação, a tensão já evaporou. O que resta é um desfile previsível de possessões, gritos e jump scares que parecem saídos de um gerador automático de sustos.
O filme também fracassa em justificar sua existência como o “último caso” do casal. O roteiro insinua uma ameaça definitiva, algo que colocaria fim ao legado dos Warren, mas o que entrega é um conflito genérico, sem peso emocional ou consequências reais. Os diálogos carregados de presságios soam vazios, e o suposto grande mistério termina com a mesma energia de um sussurro sem eco.
![]() |
Mia Tomlinson como Judy em 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual'. Foto: © 2025 - Warner Bros. Pictures |
Invocação do Mal 4: O Último Ritual é o capítulo mais fraco da saga dos Warren: uma despedida burocrática, o tipo de encerramento que parece existir mais por contrato do que por necessidade artística. Falta urgência, falta alma, falta o terror genuíno que pulsava nos melhores momentos da franquia. O que deveria ser um adeus épico termina como um murmúrio cansado: um espelho embaçado refletindo o que restou de um dos universos mais influentes do horror contemporâneo.
Nota: 4.9/10
Título Original: The Conjuring: Last Rites.
Título Nacional: Invocação do Mal 4: O Último Ritual.
Gênero: Terror.
Produção: 2025.
Lançamento: 2025.
País: Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá.
Duração: 2 h 15 min.
História: David Leslie Johnson-McGoldrick, James Wan.
Roteiro: Ian Goldberg, Richard Naing, David Leslie Johnson-McGoldrick.
Direção: Michael Chaves.
Elenco: Patrick Wilson, Vera Farmiga, Mia Tomlinson, Ben Hardy, Steve Coulter, Rebecca Calder, Elliot Cowan, Beau Gadsdon, Kíla Lord Cassidy, John Brotherton, Shannon Kook, Paula Lindblom, Madison Lawlor, Orion Smith, Emmy Nolan, Peter Wight, Kate Fahy, Tilly Walker, Molly Cartwright.
RELACIONADOS: #Invocação do Mal 4: O Último Ritual #Michael Chaves #Patrick Wilson #Vera Farmiga