Samantha Robinson conjura amor e um pouco de morte em 'A Bruxa do Amor', a deliciosa fantasia de terror retrô da diretora e roteirista Anna Biller
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A atriz Samantha Robinson como Elaine no filme 'A Bruxa do Amor', de Anna Biller. Foto: ©Oscilloscope |
Há algo errado com a cena de abertura de A Bruxa do Amor, a estilosa fantasia de terror da diretora Anna Biller. Não me refiro apenas ao fato de sua protagonista, Elaine, estar enquadrada em uma projeção traseira deliciosamente brega. O que me deixou com a pulga atrás da orelha é que, enquanto ela dirige seu Mustang conversível vermelho dos anos 60 pelas rodovias da Califórnia, suas palavras contradizem o flashback que ilustra o relato.
A projeção traseira falsa é intencional, pois quase tudo no filme de Biller é estilizado, ora para parecer um melodrama technicolor sessentista, ora para evocar um conto de fadas vagamente psicodélico. Quanto ao conflito entre o que a protagonista diz e o que flashback revela... bem, vamos dizer que embora Elaine pense em si mesma como "apenas uma garotinha sonhando em ser levada em um cavalo branco", atrás de seu delineador preto, sombra azul e batom rosa, existe uma figura um pouco mais complexa.
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Samantha Robinson e Gian Keys como Elaine e Griff no filme 'A Bruxa do Amor', de Anna Biller. Foto: ©Oscilloscope |
Interpretada pela maravilhosa Samantha Robinson (Era Uma Vez Em... Hollywood), Elaine é uma jovem de cabelos escuros, olhar de estrela de filme da Hammer e visual que remete a Soledad Miranda, musa do início dos anos 70 que teve presença marcante nos filmes do mestre do trash espanhol, Jesús Franco. Ela está se recuperando de um romance fracassado, mas não desistiu de encontrar um homem que se apaixone por ela. Ah, e eu já falei que Elaine é uma bruxa? Pois ela é.
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Flashbacks e encontros com seus amigos frequentemente nus que realizam rituais na floresta revelam como e porque nossa linda protagonista aderiu à bruxaria. Uma conversa com uma amiga em uma casa de chá vitoriana revela que ela tem uma visão inusitada sobre o papel da mulher na sociedade. O fato de criar poções do amor para tentar fazer com que os homens a amem, deixa claro que ela parece não ter noção de sua beleza. Ou será que tem, o que a tornaria ainda mais complexa do que imaginávamos?
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Laura Waddell e Samantha Robinson como Trish e Elaine no filme 'A Bruxa do Amor', de Anna Biller. Foto: ©Oscilloscope |
O roteiro, também escrito por Biller, tem diversas camadas, e quem mergulhar nelas terá material de sobra para refletir. Sobre feminismo, sobre patriarcado, sobre como nossa cultura lida com o poder da sexualidade feminina. A maneira brincalhona como Biller explora esses temas garante um clima agradável a A Bruxa do Amor. E a diretora ainda se preocupa em oferecer diversão para quem não tem paciência para ficar procurando significados em filmes, e prefere se manter na primeira camada.
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A combinação das poções do amor, os poderes sobrenaturais e o erotismo de Elaine acabam despertando uma profundidade de emoções em seus alvos. O roteiro sugere que algumas não são "naturais" para um homem. Seja como for, o efeito é devastador, e seus pobres candidatos a marido correm o risco de, literalmente, morrer de amor. Junte a tudo isso alguns assassinatos, e temos um filme com emoções variadas.
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Gian Keys, Jared Sanford e Samantha Robinson como Griff, Gahan e Elaine no filme 'A Bruxa do Amor', de Anna Biller. Foto: ©Oscilloscope |
Outros personagens ganham destaque, como a amiga Trish (Laura Waddell, de A Colina Escarlate) e seu marido Richard (Robert Seeley, de O Homem da Máscara de Ferro). Jeffrey Vincent Parise (série Sobrenatural) interpreta um professor que acaba não resistindo aos encantos de Elaine. O acúmulo de corpos chama a atenção do policial Griff (Gian Keys, de Dark Woods), que entra em rota de colisão com a bruxa carente.
A Bruxa do Amor está repleto de trajes belíssimos, feitos à mão pela própria Biller. Ela também é responsável pela música e design de produção. O filme foi rodado no glorioso 35 mm. Seu visual e figurino deslumbrantes nos jogam em algum lugar entre as décadas de 60 e 70. Veículos modernos e celulares nos arrastam de volta para o presente, o que resulta em um espetáculo atemporal fascinante, além de sugerir que certos comportamentos resistem à ação do tempo.
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Robert Seeley e Samantha Robinson como Richard e Elaine no filme 'A Bruxa do Amor', de Anna Biller. Foto: ©Oscilloscope |
É preciso dizer que entender a proposta da diretora de homenagear o cinema B do passado é requisito mínimo para se divertir aqui. As atuações são propositalmente exageradas. Os closes dramáticos são hilários. A edição é calculadamente imprecisa. E, é claro, temos uma dose de tinta vermelha aguada para simular sangue, e garantir alguns pontos a mais de breguice planejada.
Um pouco de paciência também ajudará na sua experiência com o filme, pois o ritmo realmente é lento para os padrões atuais. Se você conseguir entrar no clima da brincadeira, será provavelmente envolvido pela magia de A Bruxa do Amor.
Nota: 6.8/10
Título original: The Love Witch.
Gênero: Comédia, romance, terror.
Produção: 2016.
Lançamento: 2017.
País: Estados Unidos.
Duração: 120 minutos.
Roteiro: Anna Biller.
Direção: Anna Biller.
Elenco: Samantha Robinson, Jeffrey Vincent Parise, Laura Waddell, Jeffrey Vincent Parise, Jared Sanford, Robert Seeley, Jennifer Ingrum, Randy Evans, Clive Ashborn, Lily Holleman, Jennifer Couch, Stephen Wozniak, Giselle DaMier, April Showers, Elle Evans.
É puro entretenimento! Coisa difícil de se ver nos dias contemporâneos. Confesso que dei boas gargalhadas,apesar de ser sinistro e perturbador em algumas cenas e audacioso em outras.Relembrei os antigos filmes do cinema com muitas cores fortes e até mesmo berrantes. e luzes.Sim,temos sangue,e ou melhor,algo parecido com tinta fresca.Vale pelo deslumbre de recordar o passado. Nem que seja a última coisa que faça em sua vida assista este filme.Velhos tempos,belos dias! É diversão garantida e muita loucura,suor e é claro o que não poderia faltar, lágrimas de crocodilo.
ResponderExcluir...levantem a mão quem já assistiu,reverenciou e adorou ELVIRA A RAINHA DAS TREVAS?!....todo mundo né,ou no mínimo a maioria.Elvira, Mistress of the Dark é um filme estadunidense do género comédia trash de humor negro (1988) Esta é uma versão melhorada,,digo,superior,sem demagogia!
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