Crítica | Hipersomnia (2016)

Yamila Saud interpreta jovem atriz atormentada por visões assustadoras em 'Hipersomnia', do diretor argentino Gabriel Grieco


A atriz Yamila Saud como Milena no filme 'Hipersomnia'
A atriz Yamila Saud como Milena no filme 'Hipersomnia', de Gabriel Grieco


Quatro anos antes da aspirante a designer de moda Eloise começar a ter visões que a transportavam para a década de 1960 em Noite Passada em Soho, outra jovem passou por uma situação semelhante, só que mais assustadora. Seu nome é Milena, e ela é protagonista de Hipersomnia, um híbrido de suspense e terror psicológico, intrigante e ocasionalmente perturbador, dirigido pelo argentino Gabriel Grieco.

Hipersomnia é estrelado pela atriz Yamila Saud, cujos trabalhos incluem a minissérie Condicionados e o romance Solo el Amor. Ela também é produtora. O roteiro é do próprio Grieco, em parceria com Alejandro Montiel e Sebastian Rotstein. O longa foi lançado na Argentina em 30 de março de 2017, e se tornou o terceiro filme de maior bilheteria do gênero de terror no país.


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Hipersomnia começa com uma cena chocante, que serve para alertar o espectador sobre os temas pesados que o diretor e seus co-roteiristas pretendem abordar. O que posso dizer é que enquanto em seu longa-metragem de estreia, Natureza Morta, Grieco entregava uma mensagem contra o abuso de animais e o consumo de carne, em Hipersomnia ele se debruça sobre os horrores vividos pelas mulheres vítimas de tráfico humano.

A atriz Vanesa González como Roxy no filme 'Hipersomnia'
A atriz Vanesa González como Roxy no filme 'Hipersomnia', de Gabriel Grieco


Se você decidir continuar a jornada, será apresentado à protagonista, a jovem e ambiciosa atriz Milena (Saud), que sonha em conseguir o papel principal em uma peça de teatro dirigida por Federico Del Pino (Gerardo Romano, de Melodia Para Um Crime), um sujeito excêntrico com métodos pouco convencionais de ensaio. O primeiro ato de Hipersomnia mostra um pouco da vida de Milena e seu relacionamento com o namorado Nico (Nazareno Casero, de Crônica de Uma Fuga) e com o diretor da peça. Mas as coisas não demoram para ficar estranhas.


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Durante seu primeiro ensaio, Milena tem um sonho lúcido assustador, onde se vê momentaneamente ocupando o corpo de outra pessoa: uma garota idêntica a ela, conhecida como Laly, que está sendo mantida em cativeiro com outras mulheres em um lugar sinistro. No início, Milena acredita que a visão foi ocasionada pelo estresse com a peça. Mas quando o fenômeno se torna mais frequente e intenso, ela começa a acreditar que Laly pode ser real. 

Yamila Saud e Gerardo Romano como Milena e Federico no filme 'Hipersomnia'
Yamila Saud e Gerardo Romano como Milena e Federico no filme 'Hipersomnia', de Gabriel Grieco


Hipersomnia tem um visual que alterna das luzes carregadas, típicas do subgênero giallo, a tons sombrios que destacam o ambiente opressor que cerca a personagem Laly. Novamente como em Noite Passada em Soho, o roteiro tenta traçar um paralelo entre a horrível situação de Laly no "mundo alternativo" com a da própria Milena no "mundo real", submetida por seu diretor a situações constrangedoras durante os ensaios.

Mas dizer qual das duas está vivendo no mundo real não é uma tarefa tão simples quanto o parágrafo acima faz parecer. Acredito até que, a certa altura, muitos estarão se questionando se está assistindo a um filme sobre uma atriz sonhando ser uma mulher sequestrada, ou sobre uma mulher sequestrada sonhando ser uma atriz. Grieco nos provoca constantemente para descobrir o que está acontecendo, e abre espaço para diversas teorias, incluindo a possibilidade de universos alternativos.

Peter Lanzani e Fabiana Cantilo como Rino e 'El Jefe' no filme 'Hipersomnia'
Peter Lanzani e Fabiana Cantilo como Rino e 'El Jefe' no filme 'Hipersomnia', de Gabriel Grieco


Da mesma forma que a protagonista transita entre uma realidade e outra sem saber qual é o verdadeiro mundo a que pertence, somos conduzidos através de um pesadelo que alterna entre diversos gêneros e subgêneros do cinema. Hipersomnia começa como um drama, flerta com os filmes exploitation, assume tons de terror psicológico e explode em um final violento, que pode ser descrito como uma mistura de slasher e thriller de vingança feminina.

A situação de Milena e de sua doppelgänger fica ainda mais assustadora quando entra em cena uma figura misteriosa conhecida como Jardineiro, que parece ter nascido diretamente de uma fusão de Psicose, O Albergue e O Massacre da Serra Elétrica. Esse personagem e sua fixação por plantas e insetos rende algumas cenas particularmente desagradáveis, mas sua presença também expõe algumas inconsistências do roteiro, algo que se agrava conforme o filme avança para seu ato final.

A atriz Yamila Saud como Laly no filme 'Hipersomnia'
A atriz Yamila Saud como Laly no filme 'Hipersomnia', de Gabriel Grieco


A resolução dos mistérios até que faz sentido, no universo proposto pelo filme. Entretanto, as respostas são entregues de maneira atropelada, e boa parte de seu impacto acaba se perdendo.  As limitações orçamentárias, visíveis principalmente nas cenas de confronto, não atrapalharam tanto minha experiência. O mesmo não pode ser dito sobre a enxurrada de conveniências jogadas na tela depois que todas as cartas são colocadas na mesa. Esses problemas não arruínam o filme, mas o resultado acaba não ficando à altura de toda a expectativa gerada.

Nota: 6/10

Título original: Hipersomnia.
Gênero: Drama, terror.
Produção: 2016.
Lançamento: 2017.
País: Argentina.
Duração: 1h 30m.
Roteiro: Gabriel Grieco e Sebastian Rotstein.
Direção: Gabriel Grieco.
Elenco: Yamila Saud, Gerardo Romano, Jimena Barón, Vanesa González, Candela Vetrano, Florencia Torrente, Nazareno Casero, Sofía Gala, Gustavo Garzón, Belén Chavanne, Fabiana Cantilo, Peter Lanzani, Chucho Fernández, Daniel Valenzuela, Claudia Cantero, Horacio Marassi, Miguel Ángel Paludi, Aldo Onofri, Fiorela Duranda, Claudia Puyó, Willy Lemos, Camilo García, Florencia Fernández, Gastón Sardelli, Gustavo Telcher, Naiara Awada, Sharon Zelaya.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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