Crítica | Anon (2018)

A atriz Amanda Seyfried em imagem do thriller de ficção-científica "Anon"

Por Ed Walter

Em um futuro não muito distante, todas as pessoas possuem um implante ocular que serve como dispositivo de realidade aumentada e também permite que tudo que vemos durante nossa vida seja gravado em um servidor chamado Ether. As imagens podem ser acessadas por seu proprietário e também compartilhadas com outras pessoas. E também estão disponíveis em tempo real para a polícia, que as usa para solucionar crimes. A taxa de criminalidade foi reduzida a quase zero. Mas a privacidade deixou de existir, já que o uso do implante é obrigatório para todos os cidadãos.

Nesse mundo onde todos são vigiados, Sal Frieland (Clive Owen, de Confiar) é um detetive de meia idade que trabalha solucionando pequenos casos com facilidade, até o dia em que se depara com algo inesperado: um caso de assassinatos em série onde não existem imagens do assassino. Aparentemente os crimes são cometidos por um hacker que consegue não apenas deletar seus dados do sistema, mas também pode invadir e manipular os implantes de suas vítimas e testemunhas, tornando-se invisível. Sem poder contar com o auxílio da tecnologia, a polícia precisará realizar uma investigação "à moda da antiga", antes que uma nova vítima apareça.

O ator Clive Owen em imagem do thriller sci-fi "Anon"

Sim há muitas informações nos parágrafos acima. E tudo isso é apresentado ao público logo nos primeiros minutos de Anon, thriller de ficção científica alemão que foi adquirido essa semana pela Netflix. Mas é bem fácil assimilar os conceitos do filme, já que tudo é apresentado ao público de maneira orgânica. Entendemos rapidamente como as regras funcionam, e conforme pequenos detalhes são apresentados — como a possibilidade de hackear um ser humano —, o universo filme se torna ainda mais fascinante.

A direção e o roteiro são de Andrew Nicol, responsável por Gattaca: Experiência Genética, Simone e O Preço do Amanhã. Aqui ele revisita o estilo do cinema noir, entregando uma obra de narrativa lenta, que dá destaque à investigação ao invés da ação. A atmosfera é sombria, misteriosa, e a fotografia desbotada passa a impressão de que estamos assistindo a um filme antigo. E se por um lado não temos um narrador, por outro temos outros recursos que o substituem.

A atriz  Amanda Seyfried em imagem de "Anon"

Sempre que o mundo é mostrado sob a perspectiva de um dos protagonistas, o implante ocular garante que a tela seja invadida por uma quantidade absurda de informações escritas, que nos contam muito sobre o cenário e até permite traçar um perfil sobre cada personagem apresentado. Como se refletisse o excesso de informações disponíveis no mundo virtual, o mundo real é vazio, repleto de cenários grandiosos mas totalmente limpos, onde as pessoas ocupam apenas pequenos espaços. Esse vazio afeta também a existência das pessoas, todas indiferentes, sem vida.

É fácil entender a obsessão do detetive Frieland pela hacker Anon (Amanda Seyfried, de A Garota da Capa Vermelha) ao descobrir que ela não pode ser rastreada pelo sistema. Em um mundo onde todos são um livro aberto, é o desconhecido quem chama a atenção. E o comportamento imprevisível de Anon — que é invisível não porque tem objetivos grandiosos, mas simplesmente porque quer ser — trazem um sopro de vida à rotina monótona do detetive. O relacionamento dos dois é perigoso. E mesmo que a resolução da história seja anti-climática e esteja longe de ser complexa como o roteiro tenta fazer parecer que é, ainda assim ela combina com o estilo frio da obra.

Clive Owen e Amanda Seyfried em imagem de "Anon"

É provável que boa parte do público se irrite com o ritmo lento do filme, com a falta de emoção dos personagens e situações, ou com o final abaixo do esperado. Isso não me incomodou tanto. E Anon, mesmo com seus problemas, acabou sendo um passatempo interessante.

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Título original: Anon.
Gênero: Suspense, Ficção Científica. Lançamento: 2018.
País: Alemanha. Duração: 100 minutos.
Direção e roteiro: Andrew Niccol.
Elenco: Clive Owen, Amanda Seyfried, Afiya Bennett, Morgan Allen, Jeffrey Men, James Tam, Rachel Roberts.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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