Crítica | A Maldição da Freira (The Devil's Doorway, 2018)

Found footage do diretor estreante Aislinn Clarke acompanha dois padres investigando suposto milagre em uma Lavanderia de Madalena

Helena Bereen em imagem do filme 'A Maldição da Freira'

Por Ed Walter

Os asilos de Madalena eram instituições que existiram entre o século XVIII e o final do século XX. Essas casas abrigavam mulheres com deficiência física e mental, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro, prostitutas, rebeldes e aquelas que eram consideradas de caráter duvidoso para os padrões sociais e religiosos da época.

Inicialmente a missão dos asilos era "reabilitar" essas mulheres para reintegrá-las à sociedade. Mas no início do século XX as casas se tornaram punitivas, mais parecidas com prisões. Na Irlanda, essas casas administradas pela igreja católica eram conhecidas pelo nome de Lavanderias de Madalena. E é justamente uma dessas lavanderias que serve de cenário para o filme de estréia do diretor Aislinn Clarke: o curioso The Devil's Doorway, que chega ao Brasil com o título de A Maldição da Freira.

Lalor Roddy em imagem do filme  'A Maldição da Freira'

O ano é 1960. O padre Thomas, interpretado pelo ótimo ator Lalor Roddy, é enviado pelo Vaticano para uma Lavanderia de Madalena para investigar relatos sobre um possível milagre: uma estátua da Virgem Maria estaria chorando lágrimas de sangue. Thomas está acompanhado de seu jovem colega John (Ciaran Flynn), que irá filmar toda a investigação. Mas os dois não apenas começam a presenciar fenômenos inexplicáveis, como também são arrastados para o centro de uma trama diabólica que envolve torturas, depravações e rituais assustadores.

O roteiro de Martin Brennan, Aislinn Clarke e Michael B. Jackson oferece uma premissa para lá de interessante. E a princípio a desenvolve muito bem. Os momentos reservados às conversas entre Thomas e a madre superiora — interpretada com energia pela atriz Helena Bereen — são muito bem escritos, e geram debates morais, sociais e religiosos. Todos os atores entregam atuações competentes. Lalor Roddy e Ciaran Flynn representam bem o contraste entre o ceticismo e a fé. E a atriz Lauren Coe faz da jovem Kathleen uma personagem  ao mesmo tempo carismática e assustadora.

Lauren Coe em imagem do filme  'A Maldição da Freira'

O filme, aliás, tem alguns momentos medonhos. Embora tenha trabalhado apenas com curtas-metragens, o diretor estreante Aislinn Clarke conhece bem os clichês desse gênero e os subverte para tentar surpreender o público. A ótima fotografia de Ryan Kernaghan simula as filmagens caseiras antigas. Acaba se tornando um espetáculo à parte. E ajuda muito a dar impacto à cenas repentinas de terror.

Infelizmente toda a empolgação que o filme gera começa a diminuir a partir de sua segunda metade. O roteiro se perde. O diretor se rende a sustos fáceis. O que era original se torna mais do mesmo. E tudo culmina em um terceiro ato fraco, onde todos os clichês do sub-gênero found footage aparecem de uma só vez, incluindo a tradicional câmera que não pára de tremer um segundo. Isso não tira os méritos da obra. Mas atrapalha bastante.

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O melhor: Uma boa premissa e cenas assustadoras.
O pior: É um found footage, e cedo ou tarde ele mostra sua cara feia.
Pequena Kathleen: Você é assustadora, menina!

Título original: The Devil's Doorway.
Gênero: Terror.
Produção: 2018.
Lançamento: 2018.
País: Inglaterra.
Duração: 76 minutos.
Roteiro: Martin Brennan, Aislinn Clarke e Michael B. Jackson.
Direção: Aislinn Clarke.
Elenco: Lalor Roddy, Ciaran Flynn, Helena Bereen, Lauren Coe, Dearbhail Lynch, Carleen Melaugh.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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