Crítica | Mary Shelley (2017)

Elle Fanning interpreta a autora de 'Frankenstein' no drama gótico da diretora Haifaa Al-Mansour

Douglas Booth e Elle Fanning em imagem do filme 'Mary Shelley'

Por Ed Walter

A saudita Haifaa Al-Mansour é responsável pelo curta-metragem Ana Wa Alakhar (2001), o documentário Women Without Shadows (2005) e a elogiada comédia O Sonho de Wadjda (2012). Agora ela se une à roteirista Emma Jensen para nos entregar Mary Shelley, drama baseado na vida da mulher que escreveu o clássico da literatura gótica de terror, FrankensteinEu não costumo fazer reviews sobre dramas. Mas se é sobre Mary Shelley, não tem como deixar passar em branco.

A cinebiografia acompanha três anos da vida da escritora. Detalha como suas alegrias, dúvidas e angústias serviram de inspiração para a criação de seu monstro. E mostra principalmente a luta de uma mulher contra o preconceito de uma sociedade que não apenas se recusava a reconhecê-la como autora mas também se escandalizava diante de suas idéias muito à frente de seu tempo. Mary é interpretada por Elle Fanning, de O Demônio de Neon. E a atriz encontra um bom equilíbrio entre a delicadeza, a determinação e a fúria para criar uma protagonista marcante.

Elle Fanning em imagem do filme 'Mary Shelley'


O público é apresentado a Mary em um cemitério, onde ela passa seu tempo escrevendo esboços de histórias de terror. Sua mãe, a filósofa, escritora e defensora dos direitos das mulheres Mary Wollstonecraft, faleceu pouco depois de seu nascimento. Mary foi criada pelo pai, o jornalista inglês, filósofo político e novelista William Godwin (Stephen Dillane, da série Game of Thrones). E os genes dos dois aparentemente influenciaram na formação de sua personalidade: Mary tem só 16 anos, mas suas idéias já incomodam a sociedade conservadora do século 19.

O filme mostra um pouco do convívio tumultuado de Mary com sua família, sua viagem à Escócia e seu primeiro encontro com o poeta Percy Shelley (Douglas Booth, de O Destino de Júpiter). Também testemunhamos a escritora embarcando em uma jornada de novas descobertas ao lado de sua meia-irmã Claire Clairmont (Bel Powley, de Selvagem). E conhecemos Lord Byron (Tom Sturridge, de A Última Jornada) e seu médico John Polidori (Ben Hardy, de X-Men: Apocalipse), que se tornaria outro nome importante da literatura de terror.


Elle Fanning e Bel Powley em imagem do filme 'Mary Shelley'

Todos os eventos se alinham para nos levar até a famosa reunião na mansão de Genebra, de onde surgiram os esboços não apenas de Frankenstein mas também de The Vampire, considerado um dos precursores da literatura de vampiros e, consequentemente, uma das inspirações para o irlandês Bram Stoker escrever sua obra-prima Drácula. Eu já havia presenciado essa reunião em outro filme: Gothic (1986), de Ken Russel, que trazia Natasha Richardson no papel de Mary Shelley. Aqui esse momento não causa o mesmo impacto do filme de Russel. Mas continua emocionante.

É claro que Mary Shelley não está livre de problemas. O roteiro omite alguns fatos interessantes da vida da escritora, ao mesmo tempo em que mostra outros fictícios não tão interessantes assim. As situações são romantizadas para que o filme se adeque aos padrões da classificação indicativa PG-13. E, por mais de uma vez, eu tive a sensação de estar assistindo a um romance teen açucarado. Por sorte, o elenco talentoso, a produção bem cuidada e a mensagem poderosa por trás da história de Mary conseguem tornar esses inconvenientes suportáveis. E a relação agitada dos protagonistas gera barracos divertidos o suficiente para que o filme não caia na monotonia.

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O melhor: A história de Mary tem uma mensagem poderosa.
O pior: As situações são um pouco mais romantizadas do que eu esperava.

Título original: Mary Shelley.
Gênero: Biografia, drama, romance.
Produção: 2017.
Lançamento: 2018.
Pais: UK, Luxemburgo, USA.
Duração: 120 minutos.
Roteiro: Emma Jensen, Haifaa Al-Mansour.
Direção: Haifaa Al-Mansour.
Elenco: Elle Fanning, Douglas Booth, Bel Powley, Tom Sturridge, Ben Hardy, Maisie Williams, Joanne Froggatt, Derek Riddell, Stephen Dillane, Hugh O'Conor, Stuart Graham, Ciara Charteris.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

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  1. Belíssimo trabalho de época! Demonstra como a angustia,o ódio e a solidão,entre outros sentimentos,podem ser transformados em uma obra perfeita escrita há muito tempo atrás e que dura e nos surpreende a cada leitura.Figurino e locações deslumbrantes de encher e brilhar os olhos. Atores jovens,porém envolvidos com a trama e uma direção singular e ímpar.Romantico e envolvente,com sentimentalismo,porém realista, faz deste filme cinebiografico uma obra prima e inesquecível! Nào espere ver muito sangue e violência típico dos filmes de terror grotescos.O que o telespectador pode esperar é uma obra delicada feita nos mínimos detalhes e sem exageros,mas com sentimentalismo e amor, que nos transporta num passado aonde a mulher apesar de forte não era reconhecida e muito desvalorizada simplesmente pelo seu gênero,exemplo de superação.Sim,sentaremos numa poltrona aconchegante e macia,compraremos pipoca,refrigerante,montaremos num burro bravo e subiremos num pau de sebo e gritaremos bem alto e forte: Äleluiaa! Este é para quem sabe apreciar uma divina obra de arte.

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