Crítica | Climax (2018)

Grupo de dançarinos é arrastado para um pesadelo alucinante no drama musical de terror de Gaspar Noé

Imagem do filme 'Climax', de Gaspar Noé

Por Ed Walter

Assistir a um filme de Gaspar Noé é sempre um desafio para mim. A culpa é de Irreversível, cujas cenas medonhas me perturbam até hoje. Climax, drama musical com toques de terror filmado em 15 dias e com apenas cinco páginas de roteiro, é o novo trabalho do diretor. Aqui Noé está um pouco mais contido do que de costume. Mas sua obra ainda tem calibre para causar muito incômodo.

A trama é ambientada na década de 1990 e acompanha um grupo de dançarinos urbanos que se reúne para um ensaio em um local isolado no meio de uma floresta cercada de gelo. Depois de horas cansativas de trabalho, eles resolvem organizar uma festa regada a sangria, uma bebida feita à base de vinho, semelhante ao ponche de frutas. O problema é que alguém decide batizar a bebida com uma substância alucinógena. E o que era para ser uma comemoração entre amigos se transforma em uma descida ao inferno.

Imagem do filme 'Climax', de Gaspar Noé

Os personagens são apresentados através de uma série de entrevistas mostradas em uma TV antiga. Ao lado do aparelho podem ser vistas fitas VHS e livros que fazem referência a Dario Argento, Nietzsche, Murnau, Fritz Lang, Luis Buñuel e o filósofo e escritor romeno Emil Cioran, famoso por sua visão negativa sobre a vida e a humanidade. Esses detalhes não estão ali por acaso. São pistas importantes sobre o caminho que o filme irá trilhar. De acordo com o próprio diretor, a primeira metade de Climax é como uma montanha russa. A segunda, como um trem fantasma.

Depois de um longo número de dança, passamos um bom tempo conhecendo os personagens. Como há uma variedade invejável de pessoas de gêneros, cor de pele, classes sociais e opiniões diferentes, Noé encontra terreno fértil para discutir assuntos como religião, casamento, o papel dos pais na criação dos filhos. E sexo, que parece ser o tema preferido da galera. O elenco se sai bem com seus diálogos improvisados. E se sai melhor ainda dançando: todos, com exceção da atriz Sofia Boutella (A Múmia) são dançarinos profissionais.

Imagem do filme 'Climax', de Gaspar Noé

Mensagens e créditos tardios escritos com letras cafonas pipocam na tela. E quando a droga começa a fazer efeito, o caos reivindica seu espaço. Medo, insegurança, paranoia e alucinações fazem parte do show de horrores. Uma criança perdida no meio dos dançarinos alucinados ajuda a tornar a experiência um pouco mais angustiante. A câmera de Noé nos agarra pelo pescoço e nos conduz por salas e corredores claustrofóbicos em planos-sequência vertiginosos. E a iluminação repleta de azul, verde e vermelho, contribui para nos deixar ainda mais desorientados.

O que eu não gostei foi do plano-sequência final, que dura cerca de 10 minutos e é filmado com a câmera invertida. Ok, ele cumpre seu papel de tentar fazer com que o público se sinta na pele dos personagens (se é que era essa a intenção), e faz ligação com a cena das entrevistas. Mas não deixa de ser incrivelmente chato. Como todo filme de Noé, Climax é uma obra que parece ter sido feita para ser amada ou odiada. Mas dessa vez eu vou ficar no meio termo.

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O melhor: É um pesadelo incômodo e imprevisível.
O pior: Os minutos finais são incrivelmente chatos.

Título original: Climax.
Gênero: Drama, musical, terror.
Produção: 2018.
Lançamento: 2019.
Pais: França, Bélgica, EUA, Suíça, Mônaco.
Duração: 95 minutos.
Roteiro: Gaspar Noé.
Direção: Gaspar Noé.
Elenco: Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub, Kiddy Smile, Claude-Emmanuelle Gajan-Maull, Giselle Palmer, Taylor Kastle, Thea Carla Schott, Sharleen Temple, Lea Vlamos, Alaia Alsafir, Kendall Mugler, Lakdhar Dridi, Adrien Sissoko, Mamadou Bathily.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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