Charlie Shotwell interpreta menino com doença rara que se depara com segredos assustadores em hospital, no terror sobrenatural do diretor Ciarán Foy
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Charlie Shotwell em imagem do filme 'Eli', de Ciarán Foy |
Por Ed Walter
A Netflix está aproveitando o mês do Halloween para lançar um filme de terror atrás do outro. A nova aposta do serviço de streaming é Eli, novo trabalho do realizador de A Entidade 2, Ciarán Foy. O longa foi lançado neste final de semana, praticamente junto com Contato Visceral, de Babak Anvari. Só que enquanto o body horror de Anvari perde tempo com metáforas e simbolismo e se esquece de ser divertido, Eli vai direto ao ponto. Não existe pretensão de ser nada além de um filme de terror. E esse é um dos motivos que o torna tão bom.
Charlie Shotwell interpreta Eli, um menino de 11 anos que sofre de uma doença rara que o obriga a viver em um espaço hermeticamente fechado, improvisado em casa. Nos raríssimos momentos em que tem contato com o mundo exterior, ele precisa usar um traje que o deixa parecido com um astronauta e o torna alvo de bullying. E somente o amor de seus pais (Kelly Reilly e Max Martini) impedem que a vida de Eli se transforme em um inferno.
Em um esforço final para tentar dar ao menino uma vida normal, seus pais o levam até uma mansão adaptada para ser um hospital, onde irá se submeter a um tratamento radical. Eli demonstra que já estava preparado para a farta dose de agulhadas e outros procedimentos dolorosos. Mas com certeza ele não esperava que sua estadia no hospital fosse marcada por aparições fantasmagóricas e mensagens misteriosas surgindo do nada nos espelhos. Será que ele está tendo alucinações devido à medicação? Ou esse hospital é assombrado?
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Charlie Shotwell e Kelly Reilly em imagem do filme 'Eli', de Ciarán Foy |
O roteiro de David Chirchirillo, Ian Goldberg e Richard Naing entrega uma história que se divide entre o drama familiar e o terror sobrenatural. Há muitos mistérios. E dois plot twists que conseguiram me surpreender muito mais do que eu esperava. A sensação de que existe algo muito errado no hospital se intensifica com a chegada de uma nova personagem: a misteriosa Haley (Sadie Sink, da série Stranger Things), que parece saber mais do que aparenta sobre o lugar. Os atores mirins têm uma ótima química. E Charlie Shotwell (Capitão Fantástico) também manda muito bem quando precisa atuar ao lado do elenco adulto.
Kelly Reilly (10x10) e Max Martini (Cinquenta Tons de Liberdade) estão bem como mamãe Rose e papai Paul. E Lily Taylor, atriz que já participou de filmes como Massacre no Texas e Invocação do Mal, não decepciona como a dra. Horn, a diretora do hospital que está convencida de que pode ajudar o menino. Em alguns momentos, as reações dos personagens parecem contraditórias. Mas fique tranquilo, porque (quase) tudo faz sentido no final.
A direção de Ciarán Foy é competente. Ele sabe a hora certa para apresentar novos mistérios, o que ajuda a deixar o público sempre interessado na história. Tudo bem que o diretor dá ligeiras escorregadas ao tentar gerar jump scares. Mas ele compensa entregando ótimos truques de câmera, brincando com luz e sombras e subvertendo as expectativas do público, como na deliciosa cena em que Eli acredita estar vendo o reflexo de um fantasma no espelho. Há bons momentos de tensão. E o clima de paranoia está sempre presente.
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Charlie Shotwell e Sadie Sink em imagem do filme 'Eli', de Ciarán Foy |
Mas o que torna a direção de Foy tão especial é sua empolgação ao transportar para a tela elementos de terror B que a maioria dos diretores têm medo de mostrar, com medo de sair mal na foto. Temos um hospital que por fora mais parece o castelo do Conde Drácula, com direito a névoa e portas que abrem sozinhas. Temos enfermeiras assustadoras que falam coisas assustadoras. E temos um terceiro ato tão diabolicamente extravagante, que é difícil não se divertir.
Encerrar alguns segundos antes do diálogo final provavelmente teria ajudado a aumentar o impacto do filme. Mas esse detalhe não atrapalha o resultado geral. Eli é uma ótima surpresa. E eu espero que façam logo uma sequência.
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O melhor: Muitos mistérios, dois plot twists interessantes e um terceiro ato deliciosamente extravagante.
O pior: O diretor dá algumas patinadas na hora de criar jump scares. Mas nada que atrapalhe a diversão.
Título original: Eli.
Gênero: Terror.
Produção: 2019.
Lançamento: 2019.
Pais: Estados Unidos.
Duração: 98 minutos.
Roteiro: David Chirchirillo, Ian Goldberg, Richard Naing.
Direção: Ciarán Foy.
Elenco: Charlie Shotwell, Kelly Reilly, Max Martini, Lili Taylor, Sadie Sink, Deneen Tyler, Katia Gomez, Austin Foxx, Kailia Posey, Parker Lovein, Lou Beatty Jr., Jared Bankens, Nathaniel Woolsey, Mitchell de Rubira.