Crítica | Arpão (Harpoon, 2019)

Três amigos participam de uma viagem de barco infernal no novo filme do diretor e roteirista Rob Grant

Munro Chambers, Emily Tyra e Brett Gelman em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant
Munro Chambers, Emily Tyra e Brett Gelman em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant

Arpão é o novo trabalho de Rob Grant, diretor e roteirista canadense responsável pelo drama sci-fi Desolate (2013) e o terror Alive (2019). Trata-se de uma produção de baixo orçamento, com elenco reduzido e praticamente um único cenário. Mas fique tranquilo, porque Grant dribla as limitações com muito estilo e criatividade, e transforma essa mistura de drama, terror e humor-negro em uma deliciosa surpresa para os fãs do gênero.

Jonah (Munro Chambers) é um jovem que perdeu os pais em um acidente de carro e teve que abrir mão de sua casa para saldar as muitas dívidas da família. Seu melhor amigo, Richard (Christopher Gray), é um rapaz rico e estressado que namora uma garota elegante chamada Sacha (Emily Tyra). Depois de um desentendimento, os três se reúnem para um passeio de barco. Mas o que deveria ser uma viagem de reconciliação toma um rumo assustador.

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O conto tragicômico de Grant faz constantes referências ao romance A Narrativa de Arthur Gordon Pym, de Edgar Allan Poe. Trás reflexos tanto de A Faca na Água (1962), de Roman Polanski, quanto de Um Barco e Nove Destinos (1944), de Alfred Hitchcock. E também tem inesperadas similaridades com o recente O Farol, de Robert Eggers. Ambos falam sobre isolamento. As superstições marinhas (e as gaivotas) têm uma certa influência na trama. E há até uma cena que me fez lembrar das bebedeiras de Robert Pattinson e Willem Dafoe no filme de Eggers.

Munro Chambers e Emily Tyra em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant
Munro Chambers e Emily Tyra em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant

Só que enquanto O Farol é sisudo e sua trama se arrasta com passos de tartaruga, aqui temos uma trama divertida onde as coisas acontecem bem rápido. Um narrador onipresente (Brett Gelman) aparece ocasionalmente para explicar detalhes sobre o passado dos personagens. E há tantas situações inesperadas se amontoando na primeira meia hora, que eu cheguei a temer que o diretor já tivesse usado todas as cartas que tinha na manga e o filme mergulhasse no abismo da chatice depois disso.

Por sorte, Grant ainda tem munição de sobra, e conduz o espectador pelo que pode ser chamado de uma montanha-russa de emoções intensas. Você pode até pensar que sabe quem é o protagonista, o vilão e a vítima, como o relacionamento entre os personagens funciona, e o que cada um quer do outro. Mas logo vai perceber que nem os próprios personagens sabem exatamente quem são até serem colocados diante de situações extremas. Grant puxa constantemente nosso tapete. E seu roteiro guarda surpresas hilárias e chocantes até a última cena.

Emily Tyra e Munro Chambers em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant
Emily Tyra e Munro Chambers em imagem do filme 'Arpão', de Rob Grant

Os momentos de violência são acompanhados por efeitos práticos muitos bons. E há uma quantidade generosa de cenas sangrentas, em especial quando a tensão explode no barco e os instintos de sobrevivência vêm à tona. É preciso reconhecer que nem todas as reviravoltas fluem de maneira orgânica, e algumas parecem estar ali apenas para provocar risos nervosos. Mas diante de tantos acertos, eu não tive problemas em relevar esse detalhe.

Arpão é um filme criativo, cínico e violento. Às vezes é perturbador, às vezes é hilário. Tem uma direção cheia de estilo e seu elenco entrega atuações sólidas. Se eu tivesse assistido no ano passado, ele entraria facilmente para minha lista dos melhores de 2019. Como só tive a oportunidade de assisti-lo esta semana, resta indicá-lo para tentar corrigir a injustiça.

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O melhor: Oferece uma verdadeira montanha-russa de emoções intensas.
O pior: Algumas reviravoltas parecem estar ali apenas para nos fazer rir um pouco. Mas isso não é tão ruim assim.
O que o filme nos ensina? Que contos sobre isolamento podem ser divertidos.

Título original: Harpoon.
Gênero: Suspense, comédia, terror.
Produção: 2019.
Lançamento: 2019.
País: Canadá.
Duração: 83 minutos.
Roteiro: Rob Grant, Mike Kovac.
Diretor: Rob Grant.
Elenco: Brett Gelman, Munro Chambers, Emily Tyra, Christopher Gray.
 

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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