Crítica | Demoníaca (The Dark and the Wicked, 2020)

Marin Ireland e Michael Abbott Jr. interpretam irmãos atormentados por presença sombria em 'Demoníaca', o novo filme de terror do diretor Bryan Bertino


Imagem do filme 'The Dark and the Wicked'
Marin Ireland em imagem do filme 'The Dark and the Wicked', de Bryan Bertino


Demoníaca é um filme de terror psicológico inquietante sobre uma família atormentada por fenômenos estranhos em uma fazenda remota. É a mais recente obra do texano Bryan Bertino, diretor que conquistou o respeito dos fãs do cinema de terror graças a filmes como o thriller de invasão domiciliar Os Estranhos (2008) e o assustador Um Monstro no Caminho (2016), um dos meus filmes de terror favoritos da A24.

O próprio Bertino assina o roteiro de Demoníaca, que segue dois irmãos, Louise e Michael, retornando à fazenda onde viveram quando crianças, em uma região de Thurber, Texas. Eles visitam o pai, que estava doente e agora está em estado de coma. A mãe, Virginia (Julie Oliver-Touchstone, da série Preacher), não parece muito feliz com a chegada das visitas em casa, provavelmente porque acredita que a doença do marido é causada por uma presença sobrenatural.

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De fato, desde a cena de abertura, é possível sentir uma ameaça quase onipresente, não apenas na casa, mas também nas paisagens planas e vazias e, especialmente, naquele celeiro assustador repleto de cabras inquietas. A cinematografia entrega composições meticulosas que transmitem uma sensação constante de inquietação. A paleta de cores sombrias e tonalidades austeras serve como uma extensão visual da angústia dos personagens, enquanto a trilha sonora minimalista e inquietante eleva sutilmente a tensão, entrelaçando-se com a narrativa e contribuindo para a atmosfera envolvente.

Imagem do filme 'The Dark and the Wicked'
Michael Abbott Jr. em imagem do filme 'The Dark and the Wicked', de Bryan Bertino


Nos meandros de Demoníaca, reside uma exploração temática de luto, culpa e a fragilidade da mente humana. O elenco, liderado por Marin Ireland (Piercing) e Michael Abbott Jr. (Separados Pelo Sangue) como os irmãos atormentados, oferece atuações que transcendem a superfície da realidade. Suas representações emotivas fundem-se perfeitamente com o clima opressivo do filme, transformando-os em figuras críveis e vulneráveis, arrastadas para o turbilhão do inexplicável.

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Tanto a tensão quanto as emoções intensas da fatídica reunião familiar aumentam à medida que conhecemos novos personagens, como uma enfermeira religiosa (Lynn Andrews, de Justine) e um padre de comportamento bizarro (Xander Berkeley, de As Garotas Vão ao Bar). E, é claro, uma garota assustadora interpretada por Ella Ballentine (A Convocação), que bate à porta da família para adicionar mais lenha à fogueira.

Imagem do filme 'The Dark and the Wicked'
Marin Ireland e Michael Abbott Jr. em imagem do filme 'The Dark and the Wicked', de Bryan Bertino


Bertino utiliza o sobrenatural como metáfora, destacando como os demônios internos frequentemente ecoam os horrores externos. À semelhança de seus trabalhos anteriores, ele demonstra habilidade magistral em criar tensão por meio de uma narrativa fragmentada e sutil. Ele evita os clichês do gênero, preferindo insinuar o terror por meio de sombras inquietantes, objetos que se movem por vontade própria e breves vislumbres de figuras sombrias.

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O problema é que o diretor parece tão empenhado em explorar a ideia de que o diabo está nos detalhes, que acaba adiando demais aquele momento mágico em que os filmes param de criar mistérios e começam a apresentar respostas. Sim, é divertido tentar adivinhar o que está acontecendo nessa fazenda infernal, e as aparições arrepiantes e os momentos pontuais de violência gráfica ajudam a superar o ritmo lento da narrativa. No entanto, passar o filme inteiro fazendo isso, definitivamente não é.

Na verdade, isso é entediante, e a maneira abrupta e nada recompensadora com que o filme termina contribui para tornar a experiência frustrante, de uma maneira que apenas os filmes de pós-terror e de “terror elevado” conseguem ser.

Nota: 5/10

Título original: The Dark and the Wicked.
Gênero: Drama, terror.
Produção: 2020.
Lançamento: 2020.
País: Estados Unidos.
Duração: 95 minutos.
Roteiro: Bryan Bertino
Direção: Bryan Bertino.
Elenco: Marin Ireland, Michael Abbott Jr., Julie Oliver-Touchstone, Lynn Andrews, Tom Nowicki, Michael Zagst, Xander Berkeley, Charles Jonathan Trott, Ella Ballentine, Mel Cowan, Mindy Raymond, Chris Doubek.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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