Jovens são atacados por família de canibais em região remota do Texas em 'O Massacre da Serra Elétrica', clássico do cinema de terror dirigido por Tobe Hooper
O ator Gunnar Hansen como Leatherface no filme 'O Massacre da Serra Elétrica', de Tobe Hooper |
Cerca de uma década antes de entregar delícias como Poltergeist: O Fenômeno (1982) e Força Sinistra (1985), o texano Tobe Hooper deu uma chacoalhada no cinema de terror com O Massacre da Serra Elétrica, filme de baixo orçamento, mas enorme sucesso, filmado de maneira independente, que se tornou um clássico do gênero. Realizado em 1974, a assustadora história dos jovens que se deparam com uma família de canibais em uma região remota do Texas marcou época e chocou plateias. Tanto que o filme permaneceu proibido por muitos anos em alguns países, incluindo o Brasil.
Surpreendentemente, a intenção de Hooper não era essa. Ele planejava conseguir uma classificação indicativa baixa, manteve a violência moderada, a linguagem leve e o horror implícito. Pode-se dizer que O Massacre da Serra Elétrica é um dos filmes de terror slasher menos sangrentos de todos os tempos. Ainda assim, o resultado ficou mais medonho do que Hooper imaginava, e mesmo com cortes e submissões repetidas, O Massacre da Serra Elétrica não conseguiu menos que a classificação "R", dada a filmes indicados para maiores de 17 anos.
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O pesadelo de Hooper começa com um texto e um narrador aterrorizando o público, alegando que os eventos mostrados no filme são baseados em uma história real. Na verdade, não são, embora a inspiração tenha sido mesmo uma figura real: o assassino de Wisconsin, Ed Gein, que também inspirou na criação de outros personagens fictícios do cinema e da TV, como Norman Bates, de Psicose, Buffalo Bill, de O Silêncio dos Inocentes, e Bloody Face, da série American Horror Story. Como lembra o ator Gunnar Hansen, os vilões de O Massacre da Serra Elétrica foram descritos por Hooper e seu roteirista, Kim Henkel, como "uma família inteira de Ed Geins".
Imagem do filme 'O Massacre da Serra Elétrica', de Tobe Hooper |
O personagem de Hansen é conhecido como Leatherface, e hoje ele está presente em praticamente todas as listas sobre os vilões mais marcantes de filmes de terror, ao lado de figuras como o assassino silencioso Michael Myers, de Halloween, o morto-vivo Jason Voorhees, de Sexta-Feira 13, e o mestre dos sonhos Freddy Krueger, de A Hora do Pesadelo. Assassinos mascarados não eram exatamente uma novidade em 1974, em parte graças ao subgênero italiano giallo. Mas Leatherface tem algumas características que o destacaram dos demais.
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O fato do vilão se comportar como uma criança no corpo de um adulto muito grande que persegue suas vítimas carregando uma serra-elétrica (na verdade, é uma motosserra) já seria suficiente para torná-lo assustador. Acrescente o detalhe de que ele usa máscaras feitas com a pele de suas vítimas, e temos uma figura ainda mais apavorante. Em O Massacre da Serra Elétrica, Leatherface usa três máscaras diferentes, que determinam sua personalidade. Segundo Hansen, Hooper e Henkel, não há personalidade sob a máscara. Leatherface tem que colocá-las para se expressar, pois ele mesmo não consegue.
Imagem do filme 'O Massacre da Serra Elétrica', de Tobe Hooper |
Criar um vilão de filme slasher marcante, porém, não foi suficiente para Hooper e seus colaboradores. Eles também apresentaram a lendária Sally Hardesty, personagem interpretada por Marilyn Burns que reúne algumas características da figura que hoje conhecemos como final girl. Para quem não está familiarizado com o termo, final girl refere-se à última mulher viva de um filme de terror, que enfrenta o assassino e tenta sobreviver para contar a história. O conceito foi aprimorado nos anos seguintes, mas pode-se dizer que tudo começou com Sally.
No filme, Sally está viajando com o irmão cadeirante Franklin (Paul A. Partain) para visitar o túmulo do avô, numa pequena cidade do interior do Texas. O casal Pam (Teri McMinn) e Kirk (William Vail) os acompanha. O namorado de Sally, Jerry (Allen Danziger), dirige o veículo que os transporta. O quinteto decide fazer uma visita à antiga casa do avô. Muito antes de chegarem lá e terem seu primeiro contato com a família de canibais que mora nas redondezas, o filme nos apresenta dois outros elementos que se tornariam recorrentes no cinema slasher: o posto de gasolina na beira da estrada e, é claro, o homem idoso que tenta avisá-los do perigo que os aguarda.
A atriz Teri McMinn como Pam no filme 'O Massacre da Serra Elétrica', de Tobe Hooper |
A jornada dos jovens em apuros é registrada com movimentos lentos de aproximação da câmera, ângulos baixos e closes dramáticos. Para driblar o orçamento apertado, Hooper usa poucos takes e muita luz natural. Some a isso uma trilha sonora praticamente ausente, e temos um filme com um tom quase documental. Assim como aconteceu com muitas obras de terror dos anos 1970, isso funciona a favor do filme, dando um impacto muito maior a cenas como a impressionante primeira aparição de Leatherface e a enervante perseguição na floresta de espinhos.
Embora composto por nomes pouco conhecidos do público, o elenco entrega performances convincentes. Inclusive os vilões, que além de Leatherface, incluem um caroneiro psicótico (Edwin Neal), um sujeito estressado que controla a família infernal (Jim Siedow) e, é claro, o bizarro "vovô". Dizem que o trabalho de maquiagem desse personagem era tão complexo, que o ator John Dugan decidiu que nunca mais queria passar pelo processo novamente, o que significa que todas as cenas com ele precisaram ser filmadas na mesma sessão, antes que ele pudesse tirá-la.
A atriz Marilyn Burns como Sally no filme 'O Massacre da Serra Elétrica', de Tobe Hooper |
As filmagens das cenas do vovô consumiram 36 horas, cinco das quais apenas para colocar a maquiagem. A maioria das participações do personagem acontecem durante a bizarra cena do jantar, que causou um enorme impacto na época, e foi reproduzida em praticamente todos os filmes da franquia. Considerando que essa cena se passa em uma sala cheia de animais mortos e comida podre, sem ar condicionado ou ventiladores elétricos, durante uma forte onda de calor, é fácil entender porque ela é citada pelos atores como o momento mais estressante do filme.
Curiosamente, a cena do jantar destoa de quase tudo que foi apresentado em O Massacre da Serra Elétrica. O filme continua assustador e inquietante, mas já é possível notar um diretor sedento por abraçar o humor-negro, algo que ocasionalmente ele até faz. Essa tendência ficaria explícita na injustiçada sequência que o próprio Hooper dirigiria em 1986: o insano O Massacre da Serra Elétrica 2 que, para mim, se mantém até hoje como a sequência mais sangrenta e divertida da franquia.
Nota: 8/10
Título original: The Texas Chainsaw Massacre.
Gênero: Terror.
Produção: 1974.
Lançamento: 1974.
País: Estados Unidos.
Duração: 1h 23m.
Roteiro: Kim Henkel, Tobe Hooper.
História: Kim Henkel.
Direção: Tobe Hooper.
Elenco: Marilyn Burns, Allen Danziger, Paul A. Partain, William Vail, Teri McMinn, Edwin Neal, Jim Siedow, Gunnar Hansen, John Dugan, Robert Courtin, William Creamer, John Henry Faulk, Jerry Green, Ed Guinn, Joe Bill Hogan, Perry Lorenz, John Larroquette, Levie Isaacks.