Crítica | Candy Land (2022)

Profissionais do sexo abrigam jovem religiosa enquanto um assassino aterroriza parada de caminhões em 'Candy Land', drama de terror com estética retrô do diretor John Swab


Imagem do filme 'Candy Land', de John Swab. Foto: Roxwell Films / Quiver Distribution
Imagem do filme 'Candy Land', de John Swab. Foto: Roxwell Films / Quiver Distribution


Novo filme do diretor de Traficantes de Corpos, John Swab, este drama com estética retrô que lentamente pega um desvio surreal rumo ao inferno, mergulha na vida das lot lizards, profissionais do sexo que trabalham em paradas de caminhões. O cenário é justamente uma dessas paradas, localizada em uma das saídas da Rota 66.

O lugar é muito conhecido em círculos sociais de caminhoneiros. Tanto que ganhou até um apelido: Candy Land. O filme começa mostrando um pouco da rotina de Sadie (Sam Quartin, de Tyger Tyger), uma das lot lizards que trabalham na área. Também conhecemos Riley (Eden Brolin, de Pacto de Sangue), Liv (Virginia Rand, de As Faces do Medo) e Levy (Owen Campbell, de X: A Marca da Morte), único homem do grupo.

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Os quatro se reúnem diariamente em um banco de posto de gasolina. Trabalham juntos, apoiando-se mutualmente contra os perigos inerentes da profissão. E há muitos perigos em Candy Land, como Levy descobre em uma cena particularmente horrível. O clima fica ainda mais tenso quando uma das mulheres encontra um corpo ensanguentado no banheiro.

Eden Brolin e Virginia Rand como Riley e Liv no filme 'Candy Land', de John Swab
Eden Brolin e Virginia Rand como Riley e Liv no filme 'Candy Land', de John Swab


Quando uma jovem aparentemente inocente chamada Remy (Olivia Luccardi, de Soft & Quiet) é abandonada na parada de caminhão pelos membros de um culto que buscam "purificar" a Terra, Sadie e suas amigas temem por sua segurança e a acolhem no hotel que, juntas, transformaram em algo parecido com um lar. Logo, mais corpos aparecem.

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Swab, que também escreveu o roteiro, dedica uma boa parte do filme para estabelecer os personagens, além de entregar comentários sociais tão sutis que alguns provavelmente nem perceberão que estão lá. A chegada de Remy permite que ele crie momentos que transitam com facilidade entre o emocionante e o deprimente. Também permite que mergulhe ainda mais fundo nas complexas regras sociais de seu mundo, que passa longe de ser glamouroso, mas é retratado com um certo fascínio.

Olivia Luccardi como Remy no filme 'Candy Land', de John Swab
Olivia Luccardi como Remy no filme 'Candy Land', de John Swab


O elenco principal entrega boas atuações. Olivia Luccardi transmite de maneira convincente o conflito de sua personagem, uma pária devota dividida entre suas crenças e a inesperada gentileza de seus novos amigos com ideias tão contrárias às suas. Quartin, Brolin e Rand também entregam personagens críveis, o que dificulta assistir quando algo ruim acontece com eles. E, acredite, coisas ruins acontecem em Candy Land, principalmente na metade final.

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Guinevere Turner (Psicopata Americano) surge como Nora, a mulher que comanda os lot lizards de Candy Land com a ajuda do moralmente ambíguo xerife Rex (William Baldwin, de Invasão de Privacidade). Mark Ward (Ida Red) faz uma ótima participação no papel de um padre assustador, que garante um dos momentos mais desconfortáveis do filme. Brad Carter (série Dexter) interpreta o fanático religioso Theo, que surge na parada de caminhões oferecendo às mulheres salvação antes da "purificação final". Desnecessário dizer que o discurso não as convence.

William Baldwin como Rex no filme 'Candy Land', de John Swab
William Baldwin como Rex no filme 'Candy Land', de John Swab


Alguns personagens ganham um arco inesperadamente interessante. Outros aparecem apenas para morrer. Afinal, embora se apresente como um híbrido de drama e sexploitation — longa-metragens independentes de baixo orçamento que serviam em grande parte como veículo para a exibição de situações sexuais não explícitas e nudez gratuita —, essa história de sonhos destruídos e repressão religiosa também é um slasher, e não dá para fazer um slasher sem algumas mortes.

A partir da descoberta do primeiro corpo, Candy Land se transforma em um thriller de mistério. A passagem completa para o terror só acontece depois da marca dos 40 minutos. Nem todas as mortes são chamativas, e algumas são até repetitivas. Mas a contagem de corpos é elevada, e há pelo menos dois momentos onde o diretor abraça o gore com gosto.

Sam Quartin e Virginia Rand como Sadie e Liv no filme 'Candy Land', de John Swab
Sam Quartin e Virginia Rand como Sadie e Liv no filme 'Candy Land', de John Swab


A história se passa no Natal de 1996, e ocasionalmente o diretor resgata a breguice saborosa dos thrillers B daquela época. Mas o que mais chama a atenção é o charme do cinema de terror setentista, que escorre na maioria dos quadros. A arma do assassino, por exemplo, parece ter saído diretamente de uma cópia riscada de 35 mm esquecida no chão de um cinema grindhouse, salas que exibiam filmes de terror, splatter e exploitation para adultos.

Candy Land não é tão elaborado quanto um Planeta Terror ou um A Prova de Morte, filmes dirigidos por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, que também prestavam homenagem ao cinema grindhouse. Mas Swab com certeza é ousado, e sua viagem infernal cruza algumas linhas espinhosas que Tarantino e Rodriguez decidiram não ultrapassar. O resultado é um filme envolvente e angustiante, além de ocasionalmente sangrento o suficiente para merecer uma espiada.

Nota: 6.5/10

Título Original: Candy Land.
Gênero: Drama, suspense, terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2023.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 33 min.
Roteiro: John Swab.
Direção: John Swab.
Elenco: Olivia Luccardi, Sam Quartin, Eden Brolin, Owen Campbell, Virginia Rand, William Baldwin, Guinevere Turner, Brad Carter, Bruce Davis, Mark Ward, Billy Blair, Laevin Story, Mark Murphy, Liz Ann Montaneli, Kendall Wind, Khyl Lorenzen, Matt Markese, Clint Patterson, Katie Lundy, Mike Brown, Nick HallBilsback, Paola Beck Gisler, Nick Casa.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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