Crítica | Soft & Quiet (2022)

Reunião de mulheres termina de maneira assustadora em 'Soft & Quiet', o perturbador pesadelo em tempo real da diretora Beth de Araújo


Stefanie Estes como Emily no filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions
Stefanie Estes como Emily no filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions


Longa-metragem de estreia da diretora norte-americana com cidadania brasileira Beth de Araújo, este terror social adquirido pela Blumhouse nos leva para uma cidade linda e verdejante no que parece ser o noroeste do Pacífico. Acompanhamos Emily (Stefanie Estes, de The Bunnyman Massacre), uma mulher na faixa dos 30 anos que trabalha como professora de jardim de infância. Nós a conhecemos em um momento de grande dor, pouco antes dela dar conselhos no mínimo suspeitos para um de seus alunos.

Emily está organizando uma reunião com algumas mulheres locais que compartilham de ideias semelhantes às suas. Ela inclusive carrega uma torta de cereja horrivelmente decorada para se juntar aos bolos trazidos pelas amigas e servidos em pratos com estampa floral. A reunião termina de uma maneira diferente do que planejaram. Ao voltar para casa com as amigas, um encontro com alguém de seu passado desencadeia eventos assustadores.

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Não posso dar detalhes sobre esses eventos assustadores, pois eles só começam a tomar forma na marca dos 40 minutos, e o resto do filme praticamente gira em torno deles. Mas não se preocupe, porque Araújo, que também é responsável pelo roteiro, aponta o caminho que Soft & Quiet seguirá bem cedo, durante um longo diálogo que acontece durante a reunião. Infelizmente, não dá para dizer que a cena favoreça o filme.

Imagem do filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions
Imagem do filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions


Ao contrário do que o título original sugere, as questões abordadas são declaradas de maneira tão forçada que muitos provavelmente pensarão que estão assistindo a uma paródia. E isso não seria um problema se o filme se assumisse como tal, o que não acontece. Além de comprometer a credibilidade dramática da obra, a decisão de escancarar motivações e intenções de maneira atropelada cria outro problema que comprometerá seriamente o envolvimento do espectador com Soft & Quiet.

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Novamente para evitar spoilers, direi apenas que descobrimos cedo demais que as personagens não são exatamente agradáveis. Na verdade, são horríveis, não por culpa das atrizes, que entregam atuações elogiáveis, mas porque foram escritas de uma forma que faz Annie, a insuportável protagonista de Dashcam, parecer uma garota legal que você convida para ir passear na Disney. As únicas personagens que ganham a simpatia do espectador têm pouco tempo de tela, e praticamente nenhum desenvolvimento.

Jon Beavers e Stefanie Estes como Craig e Emily no filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions
Jon Beavers e Stefanie Estes como Craig e Emily no filme 'Soft & Quiet', de Beth de Araújo. Foto: © Blumhouse Productions


Mas se por um lado os personagens detestáveis e a maneira como o fio se desenrola são difíceis de engolir, por outro a maneira como Araújo registra tudo rende bons momentos de tensão. Principalmente quando o filme entra em um território muito próximo do exploitation e nos bombardeia com cenas de crueldade implacável. Soft & Quiet foi rodado com cortes mínimos, ao longo de quatro dias subsequentes. Basicamente, isso significa que acompanhamos o pesadelo quase em tempo real, o que torna a experiência ainda mais profundamente desconfortável do que seria com uma filmagem tradicional.

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Obviamente, a escolha desse formato traz algumas limitações que podem comprometer ainda mais a imersão. Acompanhar longas cenas das personagens se locomovendo de um cenário para o outro, por exemplo, é um pouco cansativo. Os minutos finais, ambientados em um cenário escuro, são mais confusos do que precisavam. E contrariando a abordagem nem um pouco sutil apresentada no início, a diretora decide abrir espaço para interpretações justamente na cena final que, na falta de palavras suaves, só posso descrever como frustrante.

Araújo opta por desviar a câmera durante algumas cenas de violência mais pesadas. Costumo torcer fortemente o nariz quando isso acontece em um filme de terror. Mas como Soft & Quiet já é suficientemente perturbador sem essas cenas, cheguei à conclusão de que foi melhor assim.

Nota: 4.5/10

Título Original: Soft & Quiet.
Gênero: Drama, suspense, terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
Roteiro: Beth de Araújo.
Direção: Beth de Araújo.
Elenco: Jon Beavers, Stefanie Estes, Nina E. Jordan, Jayden Leavitt, Olivia Luccardi, Cissy Ly, Shannon Mahoney, Dana Millican, Jovita Molina, Melissa Paulo, Eleanore Pienta, Rebekah Wiggins.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

3 Comentários

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  1. será que o crítico não gostou dos diálogos por se tratar de algo feminista? Como não vi o filme não posso dizer; como não pretendo ver, não terei certeza.

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    1. Bem provável que não, é bem frouxo mesmo, falacao demais, pouca ação, porém é levemente angustiante e desagradável, personagens odiaveis com ótimas atuações. Mas peca demais, e é bem mais para um suspense leve do que terror.

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    2. Não é um filme feminista, Cristal. Há inclusive um diálogo onde as personagens criticam o feminismo, dizendo algo como "não somos feministas, mas femininas".

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