Retro Review | A Volta dos Mortos Vivos (The Return of the Living Dead, 1985)

Os mortos-vivos estão mais vivos do que nunca no divertido clássico cult de Dan O'Bannon, estrelado por Clu Gulager e Linnea Quigley


Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Em 1968, George A. Romero e seu co-roteirista John A. Russo nos presentearam com A Noite dos Mortos-Vivos, clássico em preto e branco que definiu os zumbis como os conhecemos hoje. Os dois tiveram ideias diferentes para uma sequência e acabaram se separando. Romero dirigiu outro clássico, Despertar dos Mortos (1978). Russo começou a trabalhar em um romance que havia escrito chamado 'The Return of the Living Dead', que por pouco não virou filme pelas mãos de Tobe Hooper, o diretor de O Massacre da Serra Elétrica e Poltergeist: O Fenômeno.

Adquirido pelo produtor independente Tom Fox, o romance foi parar nas mãos de Dan O'Bannon, roteirista de Força Sinistra e Alien - O 8º Passageiro. O'Bannon, no entanto, se recusou a adaptá-lo como foi escrito. Ele considerou a história uma tentativa muito séria de fazer uma continuação de A Noite dos Mortos-Vivos, e não queria se intrometer tão diretamente no território de Romero. O'Bannon acabou reescrevendo a história com mais humor-negro, a ponto de apenas superficialmente se assemelhar ao romance. Nascia o filme A Volta dos Mortos Vivos, uma delícia oitentista cujo impacto na cultura pop é sentido até hoje.

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James Karen (Todos o Homens do Presidente) interpreta Frank, um experiente funcionário de um depósito de suprimentos médicos numa cidade no interior dos Estados Unidos. Durante uma conversa casual com um funcionário novato chamado Freddy (Thom Mathews, o Tommy Jarvis de Sexta-Feira 13, Parte 6: Jason Vive), ele faz uma revelação surpreendente: o filme A Noite dos Mortos-Vivos foi baseado em um evento real ocorrido em 1969, quando uma substância química chamada 2-4-5 Trioxin caiu sobre o necrotério do Hospital de Veteranos de Pittsburgh, fazendo com que os cadáveres voltassem à vida.

Thom Mathews e Jame Karen como Freedy e Frank no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Thom Mathews e Jame Karen como Freedy e Frank no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Você deve estar imaginando que Frank quer apenas amedrontar o rapaz. Mas não, a substância reanimadora de cadáveres realmente existe (pelo menos no universo do filme), e graças a um erro de logística do exército, um barril dela foi enviado por engano para o depósito onde a dupla trabalha. Será que Frank e Freddy vão acidentalmente liberar a substância? Será que os mortos do cemitério ao lado vão voltar à vida? Bem, sim, e isso acontecerá bem mais rápido do que você imagina.

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O cult clássico de Dan O'Bannon apresenta algumas ideias revolucionárias para a época. Sabe aquela história de que zumbis têm um grande apetite por cérebros humanos e que eles gemem "Braaiinnsss!" enquanto andam? Pois isso não surgiu nos filmes de George Romero, e sim em A Volta dos Mortos Vivos. Além disso, ao invés das figuras lentas e cambaleantes popularizadas por Romero, os mortos-vivos de O'Bannon são apresentados como criaturas rápidas e ágeis, capazes até de correr. Alguns criam estratégias para atrair mais cérebros frescos para o cemitério. E eles falam!

Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Um dos momentos mais memoráveis do filme é justamente a cena em que um morto-vivo que matou um dos personagens é amarrado a uma mesa e explica que os mortos comem cérebros porque isso "alivia a dor de estar morto". Esse diálogo deu origem a uma teoria medonha, que diz que no universo do filme, morrer não significa deixar de existir, mas ficar paralisado, sentindo a dor de seu corpo se decompondo. Segundo essa teoria, a 2-4-5 Trioxin não revive os mortos, apenas permite que recuperem seus movimentos e saiam em busca de uma maneira de aliviar sua dor.

Outros momentos inesquecíveis de A Volta dos Mortos Vivos incluem uma batalha hilária contra um cadáver amarelo sem cabeça. E, é claro, temos a famosa cena da dança na lápide, que alavancou a maravilhosa Linnea Quigley (Ruas Selvagens) para o posto de uma das scream queens mais amadas dos anos 80. Quigley interpreta Trash, uma jovem punk obcecada com a morte, que festeja com os amigos no cemitério. Nem é preciso dizer que a festa terá muitos convidados indesejados, putrefatos e mortais.

Beverly Randolph e Thom Mathews como Tina e Freddy no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Beverly Randolph e Thom Mathews como Tina e Freddy no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Linnea Quigley não foi a primeira escolha para o papel de Trash. O diretor queria que a personagem fosse interpretada por Jewel Shepard (Força Cruel), que na época trabalhava como stripper. Shepard recusou, pois estava farta de ficar nua no palco e em seus pequenos papéis no cinema na época. Ela própria sugeriu o nome de Quigley para interpretar Trash, e escolheu participar no filme no papel da festeira Casey.

Os punks são liderados por Suicide (Mark Venturini, da série Ilha da Fantasia), um rapaz frequentemente estressado e ocasionalmente filosófico, que faz questão de lembrar que suas roupas de couro com detalhes metálicos não são uma fantasia, mas um estilo de vida. O grupo também conta com Tina (Beverly Randolph, de Death House), Spider (Miguel A. Núñez Jr., de A Garota dos Meus Sonhos), Scuz (Brian Peck, de X-Men 2) e Chuck (John Philbin, de Caçadores de Emoção), que tem uma estranha semelhança com o ator Tom Cruise.

Miguel A. Núñez Jr. e Linnea Quigley como Spider e Trash no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Miguel A. Núñez Jr. e Linnea Quigley como Spider e Trash no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Outros peronagens surgem no meio do caos, como o gerente do depósito de suprimentos médicos, Burt (Clu Gulager, de Piranha 2), e o embalsamador Ernie (Don Calfa, de Mulher Nota 10), cujo passado implícito também gera muitas teorias entre os fãs. O diretor apresenta os núcleos do armazém e dos punks festeiros separadamente, para depois uni-los em uma batalha pela sobrevivência. Cada personagem tem visual e traços distintos de personalidade, e diferente do que acontece na maioria dos filmes de zumbis, todos são carismáticos, convivem relativamente bem, e trabalham em equipe contra os devoradores de cérebros do além.

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O tom do filme é bem-humorado, com toques de sarcasmo e ironia. Os diálogos são divertidos e bem escritos, com algumas piadas que realmente arrancam risos da audiência. Há também humor visual, que fica mais perceptível quando você assiste ao filme pela segunda vez. Esse clima descontraído não sabota as cenas de terror, e algumas conseguem até ser assustadoras e horripilantes.

Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


A direção de O'Bannon é sólida, e ele sabe como criar tensão e suspense nos momentos certos. A cinematografia é impressionante, com imagens ricas em detalhes e uma iluminação que adiciona uma camada extra de horror ao filme. O design de produção é excelente, com cenários e locações que são autênticos e detalhados. A edição e ritmo também funcionam bem, criando uma narrativa fluida e envolvente que nunca deixa o espectador entediado.

Outro aspecto marcante do filme é a trilha sonora, que apresenta várias canções do punk rock da época, como 'Surfin 'Dead' do The Cramps e 'Partytime' do 45 Grave. Isso sem contar a maravilhosa 'Tonight We'll Make Love Until We Die' de Stacey Swain, que toca durante a dança no cemitério e retorna em uma versão sombria na metade final para nos apresentar a uma Trash, digamos, diferente. As canções combinam perfeitamente com a vibe rebelde do filme, adicionando um toque adicional de diversão.

Beverly Randolph como Tina no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Beverly Randolph como Tina no filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Por fim, A Volta dos Mortos Vivos também entrega uma seleção de efeitos práticos de causar inveja a muitos filmes de zumbis atuais. A maioria dos mortos-vivos não vai muito além de uma maquiagem básica. Mas você com certeza não vai se esquecer da "meio-corpo", a zumbi faladeira amarrada na mesa. O fantoche animatrônico, com detalhes insanos que o fazem parecer um cadáver ressecado partido ao meio, foi criado por Tony Gardner, e lançou sua carreira como maquiador independente.

Você também não vai se esquecer do Tarman, o zumbi desajeitado de pele derretida que aterroriza o porão do armazém. Interpretado pelo ator e marionetista Allan Trautman (The Muppets), o personagem se mostrou tão popular que retornou em A Volta dos Mortos Vivos 2 (1988). O comedor de cérebros mais famoso do cinema também fez uma participação especial em A Volta dos Mortos Vivos - Rave (2005), tornando-se o cartão de visita da franquia.

Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon
Imagem do filme 'A Volta dos Mortos Vivos', de Dan O'Bannon


Minha única reclamação é sobre os minutos finais, não apenas porque a essa altura não temos mais a companhia de Trash ou do Tarman, mas porque o clímax, embora considerado por alguns como um dos momentos mais inesperado do cinema, não é exatamente interessante. Isso não tira os méritos da obra, mas acredito que este clássico incrivelmente divertido do cinema de terror merecia um final mais elaborado.

Nota: 9/10

Título Original: The Return of the Living Dead.
Gênero: Terror, ficção científica, comédia.
Produção: 1985.
Lançamento: 1985.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
História: Rudy Ricci, John A. Russo, Russell Streiner.
Roteiro: Dan O'Bannon.
Direção: Dan O'Bannon.
Elenco: Clu Gulager, James Karen, Don Calfa, Thom Mathews, Beverly Randolph, John Philbin, Jewel Shepard, Miguel A. Núñez Jr., Brian Peck, Linnea Quigley, Mark Venturini, Jonathan Terry, Cathleen Cordell, Drew Deighan, James Dalesandro, John Durbin, David Bond, Bob Libman, John Stuart West.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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