O zelador de um acampamento de verão inicia uma onda de assassinatos no slasher 'Chamas da Morte', do diretor Tony Maylam
A atriz Carrick Glenn como Sally no filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam. Foto: © 1981 Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. |
O camp slasher Chamas da Morte abre com alguns campistas fazendo uma pegadinha de péssimo gosto com Cropsy (Lou David, de O Último Dragão), o zelador do acampamento de verão Blackfoot. A brincadeira dá muito errado, e o pobre homem termina com o corpo terrivelmente queimado. Quando sai do hospital, cinco anos depois, Cropsy pega a estrada rumo ao acampamento de verão mais próximo, o Stonewater, decidido a executar uma vingança sangrenta.
A primeira morte, bem ao estilo de Lucio Fulci, acontece em um quarto de hotel na cidade, lá pela marca dos 12 minutos. Podemos sentir a presença de Cropsy rondando o acampamento de verão, como na cena onde a campista Tyger (a estreante em longas-metragens Shelley Bruce) procura por uma bola na floresta para dar prosseguimento a uma animada partida de beisebol. Mas o vilão vingativo só volta a atacar mesmo na marca dos 40 minutos.
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Isso pode parecer chato para os padrões de um slasher, e acredito que o filme ganharia se intercalasse os momentos de calmaria com algumas mortes aleatórias. Mas o diretor Tony Maylam (O Enigma das Areias) e seus roteiristas preenchem esse tempo com relativa competência, apresentando e desenvolvendo os relacionamentos de seus vários personagens e revelando as falhas de caráter e pontos fortes de cada um.
Leah Ayres e Brian Matthews como Michelle e Todd no filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam |
Entre os personagens principais está Todd (Brian Matthews, da série O Barco do Amor), um monitor que tenta proteger os jovens do acampamento Stonewater dos ataques de Cropsy. Todd está quase sempre acompanhado da namorada, uma moça corajosa e determinada chamada Michelle (Leah Ayres, de O Grande Dragão Branco). Artistas conhecidos como Holly Hunter (O Piano) e Jason Alexander (série Seinfeld) fazem participações especiais, em seus primeiros papeis no cinema.
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O roteiro tem algumas particularidades que tornam Chamas da Vingança um camp slasher bastante único para sua época, começando pelo fato de que a maioria dos campistas mortos não fez sexo antes de morrer. Outra característica do filme são seus personagens repletos de tons de cinza, com direito inclusive a um "herói" com um passado violento. Temos também um valentão que faz bullying com um dos campistas. Isso cria uma situação no mínimo estranha, já que a vítima de bullying é um voyeur que anda fazendo visitas não autorizadas ao banheiro feminino.
Brian Matthews como Todd no filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam |
Por outro lado, Chamas da Vingança tem muitas semelhanças com outro filme muito famoso na época, sobre adolescentes e monitores que também eram espetados e fatiados em um acampamento de verão. O mergulho naturalista de Karen (Carolyn Houlihan, de A Little Sex), por exemplo, parece uma versão estendida da cena de mergulho de uma das divas de Crystal Lake, Terry (Kirsten Baker), em Sexta-Feira 13, Parte 2, com direito inclusive ao ladrão de roupas na floresta.
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Outro momento que parece ter saído diretamente dos filmes do velho Jason é a cena noturna onde os campistas se reúnem em volta da fogueira para contar histórias de terror que, rapidamente, levam à lenda de Cropsy. Quando a brincadeira à luz do luar acabou, fiquei esperando um dos campistas sair do meio do mato fantasiado de monstro, para assustar os amigos. E sim, acontece exatamente isso.
Imagem do filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam |
Curiosamente, uma das cenas de Chamas da Morte parece ter influenciado o diretor Danny Steinmann e seus roteiristas quando assumiram a missão de entregar Sexta-Feira 13, Parte 5: Um Novo Começo, feito quatro anos depois. Se você assistiu aos dois filmes, verá que o ataque de Cropsy à personagem Sally (Carrick Glenn, de Girls Nite Out) é quase idêntico ao de Jason à personagem Tina, interpretada por Deborah Voorhees no filme de 1985.
Carrick Glenn como Sally no filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam |
O diretor Tony Maylam aproveita bem os cenários variados, que incluem o hospital, florestas, as ruínas de uma mina de cobre abandonada e o acampamento de verão. Grande parte das filmagens, aliás, ocorreu dentro e ao redor de acampamentos de verão existentes para dar uma aparência autêntica ao filme. A edição é bem executada, e a trilha sonora contribui para aumentar a tensão de algumas cenas.
As mortes são medonhas e sangrentas. Não dava para esperar menos, já que os efeitos práticos foram criados pelo grande Tom Savini. O ponto alto de Chamas da Morte é a memorável cena da jangada, que contribuiu muito para que o longa-metragem se tornasse um dos primeiros filmes a entrar na lista de video nasties do Reino Unido. O ponto fraco é seu ato final, que falha em entregar um confronto climático.
Lou David como Cropsy no filme Chamas da Morte (1981), de Tony Maylam |
Aparentemente o roteiro tentou inovar, colocando a candidata a final girl para escanteio e impedindo que a maioria dos sobreviventes participasse do confronto final. Se isso parecia uma boa ideia no papel, eu não sei, mas sei que, definitivamente, não funcionou na tela. Ainda assim, Chamas da Morte é um filme de terror habilidoso e bem executado para sua época, e mesmo hoje ainda pode render uma experiência divertida.
Nota: 6/10
Título Original: The Burning.
Gênero: Terror.
Produção: 1981.
Lançamento: 1981.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
Hitória: Harvey Weinstein, Tony Maylam, Brad Grey.
Roteiro: Peter Lawrence, Bob Weinstein.
Direção: Tony Maylam.
Elenco: Brian Matthews, Leah Ayres, Brian Backer, Larry Joshua, Jason Alexander, Ned Eisenberg, Carrick Glenn, Carolyn Houlihan, Fisher Stevens, Lou David, Shelley Bruce, Sarah Chodoff, Bonnie Deroski, Holly Hunter, Kevi Kendall, J.R. McKechnie, George Parry, Ame Segull, Jeff DeHart, Bruce Kluger, Keith Mandell, Jerry McGee, Mansoor Najee-ullah, Willie Reale, John Roach, K.C. Townsend, John Tripp, James Van Verth.