Crítica | Confiança (Trust, 2025)

Sophie Turner tenta em vão dar energia a um thriller sem rumo dirigido por Carlson Young


Sophie Turner em arte do filme 'Confiança'
Arte do filme 'Confiança'


Os rumores de que Sophie Turner poderia viver Lara Croft em um novo Tomb Raider ganharam força nos últimos meses e, sinceramente, não me animaram. Embora tenha admirado o trabalho da atriz como Sansa Stark em Game of Thrones, nunca a vi com as características físicas ou o magnetismo necessários para encarnar a icônica caçadora de relíquias. Após assistir a seu filme mais recente, um suspense desorientado e sem personalidade lançado no Brasil como Confiança, comecei a duvidar também de seu carisma para sustentar uma franquia desse porte.

Híbrido desajeitado de Trancada e No Limite da Proteção, Confiança apresenta Turner como Lauren Lane, uma ex-estrela mirim que se tornou o rosto da televisão americana, um símbolo de pureza e perfeição fabricadas pela mídia. O filme abre com a desconstrução dessa imagem: um hacker invade a privacidade da atriz, expondo seus contatos, fotos íntimas e uma imagem de um teste de gravidez positivo. É o suficiente para transformar sua reputação cuidadosamente construída em pó e lançar sua vida em um caos de manchetes e julgamentos.


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Fugindo do escândalo e da imprensa, Lauren se refugia em uma cabana isolada com seu fiel cachorro, Georgie. O cenário parece ideal para recomeçar, mas a calma dura pouco. As ligações constantes, o assédio virtual e o medo de ser vigiada transformam o isolamento em paranoia. Para piorar, três criminosos invadem o local, transformando o retiro em um pesadelo físico e psicológico.

Sophie Turner como Lauren Lane no filme 'Confiança'
Sophie Turner interpreta Lauren Lane no suspense 'Confiança'


Durante a invasão, Lauren se esconde no porão enquanto tenta proteger Georgie, numa sequência que deveria gerar claustrofobia e desespero, mas que o filme não consegue sustentar. Quando os invasores se revelam trapalhões e o roteiro adiciona, de maneira abrupta, a subtrama de um assassino contratado para eliminar Lauren, a narrativa começa a se fragmentar de vez, acumulando ideias que não se conectam.

A direção da texana Carlson Young (Upgrade: As Cores do Amor) parece perdida, incapaz de encontrar um tom coerente. O roteiro de Gigi Levangie (Lado a Lado) mistura thriller psicológico, drama de celebridade e sátira midiática, mas não consegue equilibrar esses elementos. Há momentos em que Confiança quer ser um suspense tenso, e outros em que escorrega para o humor involuntário de uma comédia desajeitada. O resultado é um filme instável, em que boas ideias surgem apenas para desaparecer sem deixar marcas.


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O ponto mais provocante surge quando o filme revela a identidade do pai do bebê de Lauren, expondo uma relação abusiva e manipuladora dentro do universo televisivo infantil. É um tema poderoso, que poderia transformar Confiança em um estudo sobre corrupção e poder nas engrenagens do entretenimento. No entanto, a revelação é tratada com pressa, como mero artifício narrativo, sem o peso moral ou psicológico que o assunto exige. A ironia é que o título se perde justamente porque o filme não confia no próprio material.

Sophie Turner como Lauren em 'Confiança'
Lauren (Sophie Turner) precisa enfrentar ladrões e um assassino profissional no suspense 'Confiança'


A estrutura fragmentada agrava o problema. Subtramas irrelevantes, como a que envolve Loretta (Katey Sagal, da série Disque Amiga Para Matar), uma balconista que encontra o cachorro desaparecido de Lauren e começa a tomar as rédeas da história, diluem completamente o foco. Essa alternância entre tensão e comicidade destrói o senso de perigo e impede o filme de mergulhar no abismo que ele mesmo constrói.

Justiça seja feita, Turner se empenha. Sua atuação carrega o colapso de uma mulher sitiada — por câmeras, ameaças e traumas — e reflete uma cultura que consome e descarta ídolos com a mesma velocidade. É uma performance comprometida, mas em vão, pois nem o roteiro, nem a direção, nem os coadjuvantes colaboram. E com diálogos tão horrendos, sua protagonista parece mais uma caricatura de celebridade em crise do que um retrato humano de alguém à beira da ruína.

Confiança é um filme sobre exposição e violação, mas que se perde na superfície do próprio escândalo. O que poderia ser um retrato incisivo sobre a destruição pública de mulheres no entretenimento, um suspense de invasão angustiante ou mesmo um thriller simples e direto sobre vingança feminina — há um eco tímido de A Vingança de Jennifer na cena da invasão — acaba se transformando em uma colagem de ideias desconexas. A tensão inicial se dilui em confusão, e o que resta é a frustração de ver um bom conceito afundar em um filme que nunca soube em que história queria acreditar.


Nota: 1/10


Título Original: Trust.

Título Nacional: Confiança.

Gênero: Suspense.

Produção: 2025.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 1 h 30 min.

Roteiro: Gigi Levangie.

Direção: Carlson Young.

Elenco: Sophie Turner, Rhys Coiro, Billy Campbell, Peter Mensah, Forrest Goodluck, Gianni Paolo, Renata Vaca, Katey Sagal, Milton Darnell Smith, Victor Oliveira, Katie Barberi, Cal Butler.



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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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