Sophie Turner tenta em vão dar energia a um thriller sem rumo dirigido por Carlson Young
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| Arte do filme 'Confiança' |
Os rumores de que Sophie Turner poderia viver Lara Croft em um novo Tomb Raider ganharam força nos últimos meses e, sinceramente, não me animaram. Embora tenha admirado o trabalho da atriz como Sansa Stark em Game of Thrones, nunca a vi com as características físicas ou o magnetismo necessários para encarnar a icônica caçadora de relíquias. Após assistir a seu filme mais recente, um suspense desorientado e sem personalidade lançado no Brasil como Confiança, comecei a duvidar também de seu carisma para sustentar uma franquia desse porte.
Híbrido desajeitado de Trancada e No Limite da Proteção, Confiança apresenta Turner como Lauren Lane, uma ex-estrela mirim que se tornou o rosto da televisão americana, um símbolo de pureza e perfeição fabricadas pela mídia. O filme abre com a desconstrução dessa imagem: um hacker invade a privacidade da atriz, expondo seus contatos, fotos íntimas e uma imagem de um teste de gravidez positivo. É o suficiente para transformar sua reputação cuidadosamente construída em pó e lançar sua vida em um caos de manchetes e julgamentos.
Fugindo do escândalo e da imprensa, Lauren se refugia em uma cabana isolada com seu fiel cachorro, Georgie. O cenário parece ideal para recomeçar, mas a calma dura pouco. As ligações constantes, o assédio virtual e o medo de ser vigiada transformam o isolamento em paranoia. Para piorar, três criminosos invadem o local, transformando o retiro em um pesadelo físico e psicológico.
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| Sophie Turner interpreta Lauren Lane no suspense 'Confiança' |
Durante a invasão, Lauren se esconde no porão enquanto tenta proteger Georgie, numa sequência que deveria gerar claustrofobia e desespero, mas que o filme não consegue sustentar. Quando os invasores se revelam trapalhões e o roteiro adiciona, de maneira abrupta, a subtrama de um assassino contratado para eliminar Lauren, a narrativa começa a se fragmentar de vez, acumulando ideias que não se conectam.
A direção da texana Carlson Young (Upgrade: As Cores do Amor) parece perdida, incapaz de encontrar um tom coerente. O roteiro de Gigi Levangie (Lado a Lado) mistura thriller psicológico, drama de celebridade e sátira midiática, mas não consegue equilibrar esses elementos. Há momentos em que Confiança quer ser um suspense tenso, e outros em que escorrega para o humor involuntário de uma comédia desajeitada. O resultado é um filme instável, em que boas ideias surgem apenas para desaparecer sem deixar marcas.
O ponto mais provocante surge quando o filme revela a identidade do pai do bebê de Lauren, expondo uma relação abusiva e manipuladora dentro do universo televisivo infantil. É um tema poderoso, que poderia transformar Confiança em um estudo sobre corrupção e poder nas engrenagens do entretenimento. No entanto, a revelação é tratada com pressa, como mero artifício narrativo, sem o peso moral ou psicológico que o assunto exige. A ironia é que o título se perde justamente porque o filme não confia no próprio material.
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| Lauren (Sophie Turner) precisa enfrentar ladrões e um assassino profissional no suspense 'Confiança' |
A estrutura fragmentada agrava o problema. Subtramas irrelevantes, como a que envolve Loretta (Katey Sagal, da série Disque Amiga Para Matar), uma balconista que encontra o cachorro desaparecido de Lauren e começa a tomar as rédeas da história, diluem completamente o foco. Essa alternância entre tensão e comicidade destrói o senso de perigo e impede o filme de mergulhar no abismo que ele mesmo constrói.
Justiça seja feita, Turner se empenha. Sua atuação carrega o colapso de uma mulher sitiada — por câmeras, ameaças e traumas — e reflete uma cultura que consome e descarta ídolos com a mesma velocidade. É uma performance comprometida, mas em vão, pois nem o roteiro, nem a direção, nem os coadjuvantes colaboram. E com diálogos tão horrendos, sua protagonista parece mais uma caricatura de celebridade em crise do que um retrato humano de alguém à beira da ruína.
Confiança é um filme sobre exposição e violação, mas que se perde na superfície do próprio escândalo. O que poderia ser um retrato incisivo sobre a destruição pública de mulheres no entretenimento, um suspense de invasão angustiante ou mesmo um thriller simples e direto sobre vingança feminina — há um eco tímido de A Vingança de Jennifer na cena da invasão — acaba se transformando em uma colagem de ideias desconexas. A tensão inicial se dilui em confusão, e o que resta é a frustração de ver um bom conceito afundar em um filme que nunca soube em que história queria acreditar.
Nota: 1/10
Título Original: Trust.
Título Nacional: Confiança.
Gênero: Suspense.
Produção: 2025.
Lançamento: 2025.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 30 min.
Roteiro: Gigi Levangie.
Direção: Carlson Young.
Elenco: Sophie Turner, Rhys Coiro, Billy Campbell, Peter Mensah, Forrest Goodluck, Gianni Paolo, Renata Vaca, Katey Sagal, Milton Darnell Smith, Victor Oliveira, Katie Barberi, Cal Butler.
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