Uma adolescente desconfia que seus tutores não são o que aparentam em 'A Casa de Vidro', suspense do diretor Daniel Sackheim estrelado por Leelee Sobieski
Leelee Sobieski como Ruby no filme 'A Casa de Vidro', de Daniel Sackheim |
Embora o título original sugira, este suspense de 2001 não tem relação com o filme de televisão The Glass House (1972), lançado no Brasil como O Sistema, sobre um jovem guarda e um professor universitário em seu primeiro dia na prisão. Em A Casa de Vidro, estrelado por Leelee Sobieski, acompanhamos a história de dois irmãos que perdem os pais em um misterioso acidente de carro, exatamente na noite em que completam vinte anos de casamento.
O advogado da família garante que o casal deixou dinheiro suficiente para os irmãos sobreviverem pelo resto de suas vidas. No entanto, a aprendiz de adolescente rebelde Ruby Baker só tem 16 anos, e até atingir a maioridade, ela e seu irmão caçula, Rhett, precisarão de tutores. A boa notícia é que os ex-vizinhos de sua família, Erin e Terry Glass, estão muito dispostos a cuidar dos dois. Mas enquanto Rhett se adequa rapidamente à nova vida, Ruby não está muito convencida de que seus guardiões são quem parecem ser.
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A Casa de Vidro abre com Ruby e suas amigas em um cinema, assistindo a um slasher fictício chamado 'Prom Nightmare' — uma brincadeira com a franquia de terror Prom Night, conhecida no Brasil como Baile de Formatura. Os ataques do assassino mascarado mostrados na tela grande não impressionam Ruby, que permanece tranquila saboreando sua pipoca. Aparentemente, a abordagem violenta também não interessa ao diretor Daniel Sackheim (Arquivo X: O Filme), que conduz A Casa de Vidro em um ritmo bem lento.
Stellan Skarsgård e Leelee Sobieski como Terry e Ruby no filme 'A Casa de Vidro', de Daniel Sackheim |
Algumas situações desconfortáveis surgem aqui e ali, como na cena em que Ruby tem seu banho noturno de piscina interrompido por um visitante indesejado. Ou na cena do restaurante, onde um dos personagens demonstra um interesse doentio pela moça. O roteiro de Wesley Strick (Lobo), porém, rapidamente deixa esse assunto de lado, e o acúmulo de tensão gerado pelas duas cenas se perde tão rapidamente quanto o interesse daquela assistente social pela situação dos irmãos órfãos.
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Há outros elementos e personagens jogados no filme apenas para serem abandonados no momento seguinte. As amigas de Ruby, por exemplo, comentam que estão preocupadas com a falta de notícias da moça, e desaparecem sem acrescentar nada à história. Parte dessas lacunas provavelmente deve-se ao fato de que o corte original de A Casa de Vidro tinha quase 180 minutos, e 74 deles foram excluídos durante a pós-produção. Ruby inclusive teria um interesse amoroso, mas esse enredo foi completamente deletado na versão final.
Stellan Skarsgård e Diane Lane como Terry e Erin no filme 'A Casa de Vidro', de Daniel Sackheim |
Apesar desses problemas, os dois primeiros atos de A Casa de Vidro funcionam bem. Parte do mérito é do elenco comprometido, com destaque para a encantadora Leelee Sobieski. A atriz, conhecida por seus papéis em filmes como Nunca Fui Beijada e Lugares Escuros, personifica com habilidade a vulnerabilidade e a determinação de Ruby, capturando a complexidade emocional da personagem à medida que ela se vê presa em uma teia de mentiras.
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Diane Lane (O Homem de Aço) e Stellan Skarsgård (Ninfomaníaca) também entregam performances convincentes, retratando a ambiguidade e a ameaça latente presentes em seus personagens. Bruce Dern (Os Oito Odiados) surge como Begleiter, o advogado que cuida dos assuntos da família Baker e que pode ou não ser um aliado dos irmãos. Trevor Morgan (O Sexto Sentido) não tem muito o que fazer além de jogar videogame, mas funciona bem como o irmão caçula Rhett.
Trevor Morgan e Leelee Sobieski como Rhett e Ruby no filme 'A Casa de Vidro', de Daniel Sackheim |
As interações entre os personagens são carregadas de subtexto e dualidade, aprofundando a intriga e aumentando a sensação de desconfiança. Os ângulos de câmera e os enquadramentos realçam a vulnerabilidade dos protagonistas, enquanto o design de produção meticuloso e a direção de fotografia cuidam para que a mansão à beira de um penhasco na praia de Malibu assuma uma aparência de prisão de concreto e vidro.
A metáfora do ambiente de vidro, que aparenta transparência, mas esconde segredos obscuros, é uma representação simbólica das ilusões e enganos que permeiam a trama, convidando-nos a questionar a confiabilidade de nossas percepções e a refletir sobre o poder da manipulação sobre a mente humana. Este tema está presente na cena de abertura no cinema e no breve diálogo entre Ruby e sua mãe, e retorna sutilmente em outros momentos do filme.
A atriz Leelee Sobieski como Ruby no filme 'A Casa de Vidro', de Daniel Sackheim |
O último ato se destaca pelo ritmo mais ágil, mas também por algumas decisões questionáveis do roteiro. Um simples diálogo poderia ter resolvido um impasse, mas o diretor e seu roteirista convenientemente deixam a situação caminhar rumo à tragédia. A atitude agressiva de um dos personagens na cena seguinte também desafia a lógica. Essas inconsistências não arruínam a experiência, mas comprometem um pouco a diversão.
Nota: 5.8/10
Título Original: The Glass House.
Gênero: Drama, mistério, suspense.
Produção: 2001.
Lançamento: 2001.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 46 min.
Roteiro: Wesley Strick.
Direção: Daniel Sackheim.
Elenco: Leelee Sobieski, Diane Lane, Stellan Skarsgård, Bruce Dern, Kathy Baker, Trevor Morgan, Chris Noth, Michael O'Keefe, Vyto Ruginis, Gavin O'Connor, Carly Pope, China Shavers, Agnes Bruckner, Michael Paul Chan, Rachel Wilson, Rutanya Alda, Erick Avari.