A possessão se torna viral em 'Fale Comigo', o surpreendente filme de estreia dos irmãos Danny e Michael Philippou, estrelado por Sophie Wilde
A atriz Sophie Wilde como Mia no filme 'Fale Comigo', de Danny e Michael Philippou. Foto: © A24 |
A cena de abertura com um desfecho impactante de Fale Comigo deixa evidente o talento com a câmera dos irmãos australianos Danny Philippou e Michael Philippou, até então conhecidos pelo seu canal no YouTube, RackaRacka. Rapidamente, também fica claro que os jovens diretores são virtuosos na condução de seu elenco, permitindo, em primeiro lugar, que os personagens adolescentes comportem-se com a autenticidade que lhes é inerente e, em seguida, fornecendo um pano de fundo substancial para garantir que as decisões que tomam, mesmo as aparentemente sem sentido, pareçam surpreendentemente críveis.
Assim, fica fácil se envolver com a assustadora história de Mia (Sophie Wilde, da série Eden), uma jovem de 17 anos que vive na cidade de Adelaide, no sul da Austrália. Mia luta para superar a prematura perda de sua mãe, cuja vida foi tragicamente interrompida por uma overdose de medicamentos aparentemente acidental, dois anos antes. A lembrança dessa tragédia assombra seu relacionamento com o pai e os amigos, mergulhando-a numa espiral de obsessão, alimentada pelo desejo de estabelecer contato com o espírito da mãe.
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Não é surpresa que Mia queira participar de uma "festa de possessão", um jogo macabro que se tornou febre entre os adolescentes de Adelaide, rendendo até vídeos virais nas redes sociais. O jogo envolve uma misteriosa mão decepada envolta em cerâmica e grafitada com nomes e símbolos, que um dos jovens garante ter pego emprestada de um amigo. Dizem que aquele que toca na mão consegue ver gente morta. Dizem até que, seguindo certas regras, é possível ter seu corpo possuído por um espírito por um período de 90 segundos.
Imagem do filme 'Fale Comigo', de Danny e Michael Philippou. Foto: © A24 |
O roteiro, elaborado por Danny Philippou em colaboração com Bill Hinzman, é baseado em um conceito de Daley Pearson. Ele oferece pistas acerca da origem da enigmática mão, mas habilmente também apresenta argumentos contraditórios que lançam dúvidas sobre o conhecimento dos jovens protagonistas acerca do objeto, assim como questionam a eficácia das regras que, a princípio, garantiriam sua segurança durante a efêmera possessão.
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Mia arrasta a melhor amiga Jade (Alexandra Jensen, da série Amazing Grace) e o irmão mais novo de Jade, Riley (Joe Bird, da minissérie Primeiro Dia), para uma dessas reuniões adolescentes. À medida que a excitação dos jovens em torno da brincadeira do além ganha intensidade, cresce no espectador a sensação de que a situação pode fugir do controle a qualquer momento e que as consequências podem ser terríveis. De fato, são, e os irmãos Philippou não pisam no freio quando as coisas ruins acontecem.
Sophie Wilde como Mia no filme 'Fale Comigo', de Danny e Michael Philippou. Foto: © A24 |
Ainda que pontuais, os choques visuais presentes em Fale Comigo impressionam, em boa parte graças aos efeitos práticos deliciosamente pegajosos. Outros momentos são genuinamente arrepiantes, e os diretores conseguem tudo isso sem recorrer a jump scares. O elenco jovem desempenha suas funções de forma notável, entregando diálogos naturais. Durante as cenas em que são possuídos pelos espíritos, alguns pacíficos, outros nem um pouco, entregam-se a interpretações impressionantes, contorcendo-se, tremendo e sufocando-se como se estivessem à beira da morte, enquanto suas pupilas se dilatam em obscuridades profundas.
Uma menção especial deve ser feita à talentosa Sophie Wilde, que confere diversas camadas à sua atormentada protagonista, enquanto o roteiro entrelaça metáforas tocantes sobre vícios, luto e os danos irreversíveis que nossas escolhas podem infligir àqueles que amamos. Acredito que o filme se beneficiaria se alguns personagens tivessem mais tempo de tela (boa parte deles simplesmente se despede na metade final) e se a conclusão fosse um pouco mais caótica. Ainda assim, o final, surpreendentemente pessimista, impacta profundamente, garantindo que o primeiro longa-metragem dos irmãos Philippou se consolide como um filme de terror acima da média.
Nota: 7/10
Título Original: Talk to Me.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2022.
Lançamento: 2023.
País: Austrália, Reino Unido.
Duração: 1 h 35 min.
Conceito: Daley Pearson.
Roteiro: Danny Philippou, Bill Hinzman.
Direção: Danny Philippou, Michael Philippou.
Elenco: Sophie Wilde, Alexandra Jensen, Joe Bird, Ari McCarthy, Hamish Phillips, Kit Erhart-Bruce, Sarah Brokensha, Jayden Davison, Sunny Johnson, Marcus Johnson, Kidaan Zelleke, James Oliver, Joe Bird, Jett Gazley, Dog, Helene Philippou, Miranda Otto, Jude Turner, Zoe Terakes, Chris Alosio, Otis Dhanji.
É isso que não consigo compreender em críticas. Um texto extremamente elogioso ao filme, com uma única ressalva em meia linha, e não é propriamente algo que o crítico tenha odiado mas sim preferia diferente, e a nota final é: 7.
ResponderExcluirÉ preciso haver coerência entre texto e nota
A meu ver, após a impressionante cena de abertura, o filme só pega embalo mesmo a partir da primeira possessão.
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