Crítica | Dear David (2023)

John McPhail dirige 'Dear David', filme de terror baseado em thread do Twitter sobre quadrinista atormentado por entidade fantasmagórica


Augustus Prew como Adam no filme 'Dear David', de John McPhail
Augustus Prew como Adam no filme 'Dear David', de John McPhail


No território das adaptações cinematográficas de tópicos do Twitter (agora 'X'), John McPhail, conhecido por sua comédia musical de zumbis, Anna e o Apocalipse, faz uma incursão ousada ao dirigir Dear David. Este filme de terror, inspirado na notória thread que narra as assombrações vividas por um quadrinista chamado Adam, lança luz sobre a intrincada relação entre o mundo digital e o cinema de horror. No entanto, o resultado deixa a desejar.

Adam, o protagonista em questão, encontra-se em um estado de incerteza tanto pessoal quanto profissional. Trabalhando como quadrinista para o portal viral Buzzfeed, sua vida toma uma reviravolta sinistra quando começa a experimentar episódios de paralisia do sono. Ele testemunha, horrorizado, a cadeira de balanço verde de seu apartamento oscilando misteriosamente no escuro. Esta situação aterrorizante desencadeia uma série de eventos sobrenaturais, culminando em aparições fantasmagóricas e ameaças físicas contra o atribulado Adam.


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A inspiração para Dear David origina-se nas palavras digitais do artista e escritor Adam Ellis, cuja thread no Twitter manteve os leitores com os dedos trêmulos em seus smartphones por mais de um ano. Com atualizações contínuas que incluíam fotos, vídeos, gravações de áudio e desenhos, Ellis traçou uma narrativa impressionante de uma suposta assombração em seu apartamento. Este cenário não é inédito no cinema de terror. Você Pode Ser o Assassino (2018), por exemplo, também encontrou seu ponto de partida na esfera virtual.

Imagem do filme 'Dear David', de John McPhail
Imagem do filme 'Dear David', de John McPhail


A transposição de Dear David do ciberespaço para a tela grande, no entanto, apresenta desafios peculiares. O maior obstáculo reside na dificuldade de traduzir os momentos assustadores da thread de Adam para a linguagem visual do cinema. Momentos que deveriam ser arrepiantes, como o primeiro encontro de Adam com a entidade conhecida como David, ou o comportamento dos gatos à meia-noite, perdem muito de seu impacto na tela grande. O suspense e o terror que permearam a experiência original são reduzidos a um simulacro frágil e, por vezes, risível. O excesso de jump scares telegrafados apenas exacerba o problema.

O roteiro de Mike Van Waes e do também produtor executivo Evan Turner enfrenta dificuldades em conferir ao enredo a profundidade e a sensibilidade necessárias para transcender a sensação de um telefilme. Comentários sobre o lamentável estado da mídia e a pressão esmagadora por tráfego surgem aqui e ali, mas também carecem de profundidade. McPhail e seu diretor de fotografia se debatem para elevar o projeto acima da mediocridade, mas a decisão de tentar criar uma atmosfera opressiva por meio de cenas excessivamente sombrias resulta em uma experiência visual frustrante para o público.

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Além disso, a trama de terror é diluída por subtramas que expandem o material da thread para a duração de um longa-metragem. O relacionamento entre Adam, sua colega de trabalho Evelyn (Andrea Bang, de Um Milhão de Coisas) e o namorado Kyle (René Escobar Jr., de Neon Lights), não adiciona profundidade à narrativa. As atuações são monótonas, incluindo a do personagem principal interpretado por Augustus Prew (série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder). Nem mesmo a presença do carismático Justin Long (Arraste-me Para o Inferno), como o CEO do Buzzfeed, Jonah Peretti, é capaz de insuflar vida ao filme.

Justin Long como Bryce no filme 'Dear David', de John McPhail
Justin Long como Bryce no filme 'Dear David', de John McPhail


John McPhail evidencia uma triste falta de capricho e criatividade em Dear David. O resultado deixa muito a desejar em termos de talento artístico e visão. As deficiências da cinematografia digital e os gráficos desajeitados gerados por computador tornam evidente a frustrante incapacidade de dar vida ao fenômeno digital que encantou o público há cinco anos.

Dear David emerge como uma valente tentativa de explorar a relação entre a cultura digital e o cinema de horror. No entanto, a adaptação de um fenômeno viral para as telas revela-se uma tarefa desafiadora, resultando em um filme que, lamentavelmente, não atende às expectativas. A busca por uma transição bem-sucedida do mundo virtual para o domínio cinematográfico continua a ser um desafio premente, e Dear David não é senão mais um exemplo de sua esquiva natureza.

Nota: 1/10

Título Original: Dear David.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 34 min.
Roteiro: Evan Turner, Mike Van Waes.
Baseado nos tweets de: Adam Ellis.
Direção: John McPhail.
Elenco: Augustus Prew, Justin Long, Andrea Bang, Rachel Wilson, René Escobar Jr., Tricia Black, Ethan Hwang, Cameron Nicoll, Rachel Risen, Shreya Patel, David Tompa, Tremaine Nelson, Deshay Padayachey, Jarrett Siddall, Seth Murchison, Masini McDermott.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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