Crítica | A Autópsia (The Autopsy of Jane Doe, 2016)

Brian Cox, Emile Hirsch e Olwen Catherine Kelly estrelam 'A Autópsia', o arrepiante terror sobrenatural do diretor André Øvredal


A atriz Olwen Catherine Kelly como Jane Doe no filme 'A Autópsia', de André Øvredal
A atriz Olwen Catherine Kelly como Jane Doe no filme 'A Autópsia', de André Øvredal


Após assistir a uma exibição de Invocação do Mal (2013), de James Wan, o diretor norueguês André Øvredal gostou tanto do que viu que ligou para seu agente dizendo que deveriam tentar encontrar um bom roteiro de terror para ele. Um mês depois, lhe mostraram um roteiro de Ian Goldberg e Richard Naing, sobre dois legistas que testemunham eventos sobrenaturais em um necrotério. Øvredal ficou imediatamente interessado. Ainda bem, pois em suas mãos, a história virou um dos filmes de terror mais arrepiantes do ano.

A Autópsia apresenta Brian Cox (Planeta dos Macacos: A Origem) e Emile Hirsch (A Hora da Escuridão) como Tommy Tilden e seu filho Austin, responsáveis por um dos lugares mais inerentemente assustadores de um filme de terror: um necrotério de cidade de interior. Eles estão se preparando para encerrar mais uma jornada de trabalho. Apesar da noite chuvosa, Austin já tem até um encontro marcado com sua namorada, a ligeiramente macabra Emma (Ophelia Lovibond, de Guardiões da Galáxia).

PUBLICIDADE

O encontro vai por água abaixo, porque o xerife da cidade, Burke (Michael McElhatton, de A Maldição da Floresta) tem um trabalho extra para os legistas. Seus parceiros policiais encontraram corpos brutalmente assassinados em uma casa. Também encontraram uma mulher nua semienterrada no porão. Burke precisa que a dupla faça uma autópsia para determinar quem é essa moça misteriosa e, principalmente, porque enquanto os outros corpos estão em pedaços, ela não tem sequer um arranhão.

Ophelia Lovibond, Emile Hirsch e Michael McElhatton como Emma, Austin e Burke no filme 'A Autópsia', de André Øvredal
Ophelia Lovibond, Emile Hirsch e Michael McElhatton como Emma, Austin e Burke no filme 'A Autópsia', de André Øvredal


Vale lembrar que, ao contrário do que sugerem o título original e alguns diálogos, nem o xerife confuso e nem os legistas atarefados sabem o nome da moça que parece estranhamente viva. "Jane Doe", como a chamam, é um pseudônimo coletivo usado nos Estados Unidos para se referir a uma pessoa ou a um cadáver cuja identidade é desconhecida, ou não confirmada. Para homens, usa-se "John Doe". Para crianças, usam-se variantes como "Baby Doe", "Janie Doe" ou "Johnny Doe".

PUBLICIDADE

Também vale mencionar que embora existam algumas próteses no filme, na maior parte do tempo o papel da moça morta foi desempenhado pela atriz e modelo Olwen Catherine Kelly (Winter Ridge), que passou cerca de oito horas por dia, durante cinco semanas, deitada nua em uma mesa de autópsia. Uma das razões pelas quais foi selecionada para o papel foi seu conhecimento de ioga, que a ajudou a controlar seu corpo e respiração.

Os atores Brian Cox e Emile Hirsch como Tommy e Austin no filme 'A Autópsia', de André Øvredal
Os atores Brian Cox e Emile Hirsch como Tommy e Austin no filme 'A Autópsia', de André Øvredal


Você vai perceber como a atriz é boa na fina arte de se fingir de morta nas várias cenas em que o diretor dá closes em seu rosto. Provavelmente, também perceberá que a atriz consegue provocar calafrios sem precisar mover um músculo. Enquanto somos tomados pela inquietante sensação de que aquele cadáver pode abrir os olhos a qualquer momento, o trabalho dos legistas avança e suas discussões e teorias sobre a causa da morte dão ao filme uma vibe de Arquivo X, série de ficção científica/terror cultuada na década de 1990.

A turnê arrepiante pelas entranhas da jovem desconhecida se revela um quebra-cabeça repleto de detalhes bizarros. Quando um mistério é solucionado, novos aparecem e mais coisas estranhas acontecem no necrotério. Não demora para que o filme se torne uma história de fantasmas repleta de cenas assustadoras, e tensão suficiente para deixar à flor da pele até mesmo os nervos do espectador que pensava ter visto de tudo no gênero.

O ator Emile Hirsch como Austin no filme 'A Autópsia', de André Øvredal
O ator Emile Hirsch como Austin no filme 'A Autópsia', de André Øvredal


Se você assistiu ao filme anterior de Øvredal, o fascinante found footage O Caçador de Trolls, sabe que o diretor não encontrou dificuldades para transformar as belas paisagens geladas de seu país de origem em cenários opressivos e atmosféricos. Mesmo trabalhando em um cenário infinitamente menor, ele repete a dose em A Autópsia, transformando o necrotério em algo muito mais assustador do que necrotérios geralmente são.

Cox e Hirsch fazem um bom trabalho, entregando diálogos naturais e reagindo convincentemente diante dos eventos horripilantes que presenciam. Se por um lado o clima de tensão é diluído no ato final, frenético, visceral e com alguns jump scares, por outro o impacto de tudo que veio antes ainda é forte. Isso garante que a experiência continue assustadora de uma maneira que poucos diretores conseguem fazer.

Nota: 8/10

Título original: The Autopsy of Jane Doe.
Gênero: Terror.
Produção: 2016.
Lançamento: 2017.
Pais: Reino Unido, Estados Unidos.
Duração: 86 minutos.
Roteiro: Ian Goldberg e Richard Naing.
Direção: André Øvredal.
Elenco: Brian Cox, Emile Hirsch, Olwen Catherine Kelly, Ophelia Lovibond, Michael McElhatton, Jane Perry, Parker Sawyers, Mary Duddy, Mark Phoenix.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

Antes de serem publicados, os comentários serão revisados.

  1. Esse é, com certeza, o melhor filme de terror dos últimos 5 anos (pra ser humilde). Achei os jumpscares muito bem acertados, até pq terror tem que ter jumpscare. Não é preciso exagerar, mas ainda não conheço um bom terror sem jumpscare. No mais, excelente filme!

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem