Crítica | Operação Overlord (Overlord, 2018)

Paraquedistas americanos descobrem experimentos nazistas bizarros neste filme de terror dirigido por Julius Avery


Mathilde Ollivier e Jovan Adepo como Chloe e Boyce em 'Operação Overlord'
Chloe e Boyce investigam um laboratório nazista em 'Operação Overlord'. Foto: © 2018 Paramount Pictures.


Em 2017, Jeremy Gillespie e Steven Kostanski se inspiraram em filmes de terror B da década de 1980 e entregaram A Seita Macabra, um pesadelo sangrento e divertido que fez a alegria dos fãs do gênero. Agora é a vez do diretor Julius Avery e dos roteiristas Billy Ray e Mark L. Smith beberem da mesma fonte para nos entregar Operação Overlord, longa produzido por J. J. Abrams e primeiro filme da Bad Robot a receber classificação indicativa R da MPAA.

O filme nos transporta para o ano de 1942, onde acompanhamos um grupo de paraquedistas americanos enviados à França ocupada para destruir uma torre de rádio nazista e, assim, facilitar o avanço do Dia D. O que poderia ser apenas um drama de guerra com altas doses de ação se transforma em algo mais perturbador, quando os soldados descobrem que o exército nazista está envolvido em experimentos grotescos que desafiam os limites da ciência e da natureza. É nesse ponto que o filme revela seu verdadeiro núcleo de terror.


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Operação Overlord escapa a classificações fáceis. Embora parta de um cenário histórico bastante concreto — a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente a invasão da Normandia —, rapidamente desliza para o território do horror, mesclando ação militar, suspense e elementos sobrenaturais com a ousadia de uma produção que se assume híbrida desde os primeiros minutos. O resultado é um filme que tanto homenageia quanto subverte convenções de gêneros distintos, criando uma experiência intensa e singular.

Mathilde Ollivier como Chloe em 'Operação Overlord'
Mathilde Ollivier interpreta Chloe no filme 'Operação Overlord'. Foto: © 2018 Paramount Pictures.


A direção de Julius Avery é marcada por um ritmo firme, que alterna entre momentos de tensão quase sufocante e explosões de violência crua. O prólogo, que mostra a queda dos aviões e a caótica aterrissagem dos soldados, já dá o tom de urgência e desorientação, lembrando o espectador de que, antes de qualquer desvio para o horror, estamos diante de uma representação brutal da guerra. Essa escolha é crucial: ela confere credibilidade ao filme, permitindo que, quando os elementos fantásticos surgem, eles não soem deslocados, mas sim como uma extensão natural de um mundo já mergulhado no absurdo.

O elenco contribui enormemente para essa construção. Jovan Adepo, no papel do soldado Boyce, oferece uma performance marcada por vulnerabilidade e coragem, equilibrando a ingenuidade de um novato com o crescimento diante de situações extremas. Wyatt Russell, como Ford, assume o arquétipo do líder endurecido pela guerra, mas o faz com nuances que evitam a caricatura. A química entre os dois sustenta grande parte da narrativa, enquanto Mathilde Ollivier, interpretando a francesa Chloe, acrescenta uma dimensão emocional e humana à luta contra os inimigos.


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A atmosfera sombria das catacumbas nazistas, repletas de experimentos grotescos, evoca filmes de horror corporal e de monstros (homenagens a Re-Animator e O Enigma de Outro Mundo fazem parte do pacote) mas nunca abandona a sensação de que tudo está enquadrado da guerra. Os nazistas, historicamente associados a atrocidades científicas, são levados aqui ao extremo da ficção, criando uma metáfora interessante que amplia o terror já inerente ao conflito.

Wyatt Russell como Ford no filme 'Operação Overlord'
Ford descobre experimentos bizarros no filme 'Operação Overlord'. Foto: © 2018 Paramount Pictures.


A fotografia, com seu uso intenso de contrastes e sombras, reforça o clima opressivo, enquanto os efeitos visuais e práticos se mantêm convincentes e muitas vezes chocantes. O design sonoro é outro componente essencial, com ruídos metálicos, explosões abafadas e gritos distorcidos, criando uma atmosfera que nunca deixa o espectador confortável. Há um cuidado em manter a ilusão de realismo, mesmo quando a narrativa se entrega ao absurdo, e isso dá ao filme uma força rara.

Operação Overlord não é isento de críticas. Há ocasionais momentos de lentidão. Em outros, a trama parece ceder à tentação do espetáculo exagerado, privilegiando cenas de ação barulhentas em detrimento de um aprofundamento maior dos personagens ou da própria mitologia por trás dos experimentos nazistas. Ainda assim, o filme nunca chega a perder o fio da narrativa, e consegue manter o interesse ao longo de toda sua duração. É uma obra que prefere a intensidade à sutileza, mas faz isso com estilo.


Nota: 6,9/10


Título original: Overlord.

Título Nacional: Operação Overlord.

Gênero: Terror, ação.

Produção: 2018.

Lançamento: 2018.

Pais: Estados Unidos, Canadá.

Duração: 1 h 50 min.

Roteiro: Billy Ray e Mark L. Smith.

Direção: Julius Avery.

Elenco: Jovan Adepo, Wyatt Russell, Mathilde Ollivier, Pilou Asbæk, John Magaro, Iain De Caestecker, Jacob Anderson, Dominic Applewhite, Gianny Taufer, Joseph Quinn, Bokeem Woodbine, Erich Redman.



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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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