Crítica | Piercing (2018)

Christopher Abbott e Mia Wasikowska estrelam adaptação do livro de Ryû Murakami, dirigida por Nicolas Pesce

Mia Wasikowska e Christopher Abbott em imagem de 'Piercing', de Nicolas Pesce

Piercing é a adaptação do romance de 2014 escrito por Ryû Murakami, autor japonês que também é responsável pelo livro que deu origem ao clássico Audição (1999), de Takashi Miike. A direção é de Nicolas Pesce, que em 2016 nos entregou o cult em preto-e-branco Os Olhos de Minha Mãe. e no ano que vem volta à cadeira de diretor com o reboot de O Grito.

Christopher Abbott (Ao Cair da Noite) estrela no papel de Reed, um arquiteto bem-sucedido, bem casado e pai de uma criança recém-nascida. Mesmo assim, Reed sente um enorme vazio em sua vida e acredita que existe apenas uma maneira de preenchê-lo: cometendo um assassinato. A vítima escolhida é uma garota de programa chamada Jackie (a maravilhosa Mia Wasikowska, de A Colina Escarlate). Só que os planos de Reed não sairão exatamente da maneira que ele imaginava.

Mia Wasikowska em imagem de 'Piercing', de Nicolas Pesce

A direção de Pesce trasborda estilo. Se em seu trabalho anterior o diretor caminhava no terreno de Hitchcock, aqui a inspiração são os giallos e o cinema europeu de terror dos anos 70. A jornada sadomasoquista de Reed e Jackie é marcada por muita tela dividida, como no cinema de De Palma. A trilha sonora pega emprestado alguns temas de filmes clássicos de Dario Argento. Mas ela também varia de vez em quando, e até a 'Garota de Ipanema', de Tom Jobim, serve de fundo para uma das cenas.

Os efeitos sonoros são um show à parte. Aliás, na sequência em que Reed ensaia seu plano, o diretor consegue causar uma sensação de desconforto absurda, usando apenas o som e cortes criativos. Os cenários internos são elegantes. Os externos são construídos com a ajuda de miniaturas, o que confere à obra um clima surreal de história em quadrinhos. Piercing é sempre estiloso. Às vezes é sexy. E na maior parte do tempo é inesperadamente engraçado.

Mia Wasikowska e Christopher Abbott em imagem de 'Piercing', de Nicolas Pesce

Abbot e Wasikowska estão muito bem como as duas almas torturadas que aprendem juntas a exorcizar seus demônios. O filme inclusive pode ser considerado um romance, ainda que distorcido e marcado por cenas de violência. Piercing tem dois atos empolgantes, mas segue por um caminho pouco convencional no terceiro. Gestos, frases, visões e pesadelos até fornecem pistas sutis para que o público tente montar as peças de um quebra-cabeças complexo. Mas infelizmente não dá tempo de completá-lo graças a um final inesperado que joga um balde de água fria em nossa empolgação.

É possível entender o que o diretor tentou transmitir aqui. É possível até admirá-lo por sua ousadia. Mas o fato de entender, nem de longe diminuiu minha decepção. A maneira com que Piercing termina tem potencial para enfurecer boa parte do público. E dessa vez, vou ficar do lado da multidão furiosa.

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O melhor: É estiloso, engraçado e tem protagonistas carismáticos.
O pior: O final é frustrante de um jeito que poucos filmes conseguem ser.

Título original: Piercing.
Gênero: Suspense, terror.
Produção: 2018.
Lançamento: 2019.
Pais: Estados Unidos.
Duração: 81 minutos.
Roteiro: Nicolas Pesce.
Direção: Nicolas Pesce.
Elenco: Christopher Abbott, Mia Wasikowska, Laia Costa, Olivia Bond, Maria Dizzia, Marin Ireland, Dakota Lustick, Wendell Pierce.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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