Crítica | Rondo (2018)

Terapia desencadeia eventos chocantes no thriller de humor-negro do diretor e roteirista Drew Barnhardt

Brenna Otts em imagem do filme 'Rondo', de Drew Barnhardt

Por Ed Walter

Depois de assistir o ótimo The Perfection, fiquei com a sensação de que demoraria um bom tempo para que outro filme conseguisse me surpreender com reviravoltas. E então assisti Rondo, e percebi que estava enganado. O novo trabalho do diretor e roteirista Drew Barnhardt (o mesmo realizador de Murder Loves Killers Too, de 2009) pode não ser tão refinado quanto o thriller de humor-negro da Netflix. Mas ele consegue surpreender de uma maneira que poucos filmes ousaram fazer.

A trama acompanha Paul (Luke Sorge), um jovem que voltou da guerra com uma dispensa desonrosa e um quadro de Perturbação de Stress Pós-traumático. Ele tem uma consulta marcada com Cassie (Gena Shaw), uma terapeuta que não demora para chegar à conclusão de que o rapaz está precisando de um pouco de sexo. Paul é aconselhado a procurar os serviços do que parece ser um clube privado, e parte para lá munido apenas com um cartão e uma senha: "Rondo". Tudo isso acontece nos primeiros minutos do filme. E para evitar spoilers, tudo que posso dizer é que as coisas ficam muito estranhas depois disso.

Luke Sorge em imagem do filme 'Rondo', de Drew Barnhardt

Estética e narrativamente o filme resgata muitos elementos de clássicos do cinema exploitation dos anos 60 e 70. Há cenas de nudez e sexo. E também momentos insanamente sangrentos. Na maior parte do tempo a violência é estilizada. Mas os efeitos práticos deliciosamente indigestos e a maneira explícita com que tudo é mostrado garantem momentos com potencial para incomodar o público mais sensível. A brutalidade vem misturada com doses cavalares de humor-negro. E há pelo menos três reviravoltas que levam o filme para um caminho deliciosamente imprevisível.

Algumas decisões tomadas por Barnhardt contribuem para tornar sua obra ainda mais charmosa. Há um narrador (Steve Van Beckum) que vai dando detalhes sobre a vida de cada personagem. E ele não se intimida em interromper alguns diálogos para que o espectador saiba sua opinião sobre a conversa. A trilha sonora também é intencionalmente intrusiva. E às vezes até o som ambiente é usado para abafar algumas conversas. 

Imagem do filme 'Rondo', de Drew Barnhardt

Rondo também se destaca por sua iluminação e cinematografia. A produção é de baixo orçamento mas existem momentos incrivelmente bem planejados aqui, que vão da ótima cena do sprinkler durante o depoimento de Jill (a bela Brenna Otts) até a sequência que mostra a personagem sentada semi-nua em uma cadeira enquanto uma festa bizarra tem início ao seu redor. Isso sem contar o último ato — um verdadeiro banho de sangue filmado em câmera lenta em um cenário escuro onde apenas os personagens são perfeitamente visíveis, como se fosse uma peça teatral.

O longa tem uma pequena queda no ritmo em sua segunda metade. Alguns diálogos se estendem mais do que o necessário. Há alguns furos no roteiro. E acredito que o filme deveria ter acabado alguns segundos antes da cena final, deixando para o público a tarefa de imaginar o que aconteceu a seguir. Já a falta de desenvolvimento dos personagens não me incomodou nem um pouquinho. O diretor não está interessado em entregar uma obra profunda. Quer apenas contar uma história divertida e ao mesmo tempo chocante. E isso ele faz muito bem.

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O melhor: É uma homenagem divertida — e violenta — aos clássicos do cinema exploitation dos anos 60 e 70.
O pior: O ritmo diminui um pouquinho na metade final.
Fique longe do trailer: Porque ele contém spoilers.

Título original: Rondo.
Gênero: Suspense, humor-negro.
Produção: 2018.
Lançamento: 2018.
Pais: Estados Unidos.
Duração: 90 minutos.
Roteiro: Drew Barnhardt.
Direção: Drew Barnhardt.
Elenco: Brenna Otts, Luke Sorge, G.C. Clark, Ketrick 'Jazz' Copeland, Reggie De Morton, Ashley Gagnon, Meegan Kiefel, Grant Benjamin Leibowitz, Iva Nora, Kevin Sean Ryan, Steve Van Beckum, Michael Vasicek, Joseph M. Veals.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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