Crítica | O Rebanho (The Other Lamb, 2019)

Raffey Cassidy interpreta jovem que começa a questionar os fundamentos de sua fé no drama sombrio 'O Rebanho', da diretora Malgorzata Szumowska


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Raffey Cassidy em imagem do filme 'O Rebanho', de Malgorzata Szumowska


Drama com pitadas de terror psicológico, O Rebanho é o novo filme da premiada diretora polonesa Malgorzata Szumowska, a mesma realizadora O Rosto (2018). A trama, descrita pela própria diretora como "um grito sombrio contra o patriarcado", nos leva para um complexo rural em uma floresta bucólica, onde acompanhamos a rotina de um culto liderado por um homem conhecido como "Pastor". Apenas mulheres são aceitas no culto. As adultas são chamadas de esposas. As mais jovens, de filhas. O Pastor se refere a todas como "meu rebanho".

Selah  é uma adolescente que se torna a filha favorita do Pastor. Ela já se prepara para assumir o papel de uma de suas esposas. Selah recebe a grande honra de participar do ritual sagrado do nascimento dos cordeiros, do qual o rebanho depende para sobreviver. Só que durante a cerimônia, ela passa por uma experiência chocante e começa a ter visões que a fazem questionar sua própria realidade e os ensinamentos do Pastor.


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Como o roteiro de C.S. McMullen nos joga de cabeça no meio da história e não se preocupa em explicar as regras e a mitologia do culto, demora um tempinho para que as peças do quebra-cabeças comecem a encaixar. Mas a maioria delas se encaixa com o tempo, principalmente se você ficar atento aos detalhes dos cenários e às pequenas pistas jogadas entre um diálogo e outro. Quanto mais o roteiro mergulha nas profundezas do abuso e da subjugação e explora as tensão entre as mulheres do culto, mais o filme fica sombrio.

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Michiel Huisman em imagem do filme 'O Rebanho', de Malgorzata Szumowska


A magnífica fotografia de Michal Englert, os planos longos e estáticos e a câmera que alinha o espectador à perspectiva de Selah garantem que a jornada de aprendizado da heroína seja um espetáculo visual fascinante. As atuações são muito boas, com destaque para a talentosa Raffey Cassidy (O Sacrifício do Cervo Sagrado); e para Michiel Huisman (série Game of Thrones), que capricha no cinismo para compor o líder do culto  — um lobo em pele de pastor que conduz seu rebanho com rédeas bem curtas.


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Tudo isso garante uma metade inicial promissora. Mas as coisas esfriam na reta final, quando o roteiro praticamente não tem mais surpresas para apresentar. Os personagens conversam, andam do ponto x até o ponto y e pouca coisa interessante acontece. A sensação de que existe uma parte da história escondida do público (as tais peças do quebra-cabeças que não encaixaram) finalmente começa a incomodar. E a lentidão incomoda mais ainda.

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Raffey Cassidy e Michiel Huisman em imagem do filme 'O Rebanho', de Malgorzata Szumowska


A montagem tenta dar um ar de complexidade ao filme, intercalando cenas do presente, passado e futuro. Isso é divertido no início, mas no fim o recurso serve apenas para deixar as coisas mais confusas do que precisavam. O final, apressado e extremamente frustrante, me fez lembrar de um diálogo onde Sarah (Denise Gough, de Juliet, Nua e Crua), a misteriosa esposa amaldiçoada que vive isolada em uma casa na floresta, diz a Selah que "A atenção do Pastor é como o Sol: glorioso no começo, mas depois queima". Essa frase resume bem o filme.

Nota: 5/10

Título original: The Other Lamb.
Gênero: Drama, terror.
Produção: 2019.
Lançamento: 2020.
País: Irlanda, Bélgica, Estados Unidos.
Duração: 97 minutos.
Roteiro: C.S. McMullen.
Direção: Malgorzata Szumowska.
Elenco: Raffey Cassidy, Michiel Huisman, Mallory Adams, Kelly Campbell, Eve Connolly, Isabelle Connolly, Ailbhe Cowley, Juliette Crosbie, Zara Devlin, David Fawaz, Denise Gough, Jane Herbert, Irene Kelleher, Charlotte Moore, Eva Mullen.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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