Crítica | Dois (Dos, 2021)

Marina Gatell e Pablo Derqui estrelam como desconhecidos unidos cirurgicamente em 'Dois', da diretora Mar Targarona


Marina Gatell e Pablo Derqui como Sara e David no filme 'Dois'
Marina Gatell e Pablo Derqui como Sara e David no filme 'Dois', de Mar Targarona


Dois estranhos descobrem que estão mais unidos do que gostariam neste filme B curioso, minimalista e bizarro, dirigido pela espanhola Mar Targarona. E não me refiro a uma união qualquer, mas a uma fisicamente dolorosa, já que alguém ou algo decidiu brincar de centopeia humana com eles e ligou seus abdomens cirurgicamente.

Dois é o terceiro trabalho de Targarona, responsável pela comédia Mor, vida meva (1996), o suspense Sequestro (2016) e o drama biográfico O Fotógrafo de Mauthausen. O filme estrelado por Marina Gatell (série A Cozinheira de Castamar) e Pablo Derqui (Os Olhos de Júlia) foi adquirido pela Netflix para distribuição internacional, e já está disponível no catálogo do serviço de streaming.


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Sara (Gatell) e David (Derqui) acordam na cama do que parece ser um quarto de hotel. Ambos estão nus. Eles não se conhecem e não fazem ideia de como chegaram lá. Como se isso já não fosse suficientemente preocupante, descobrem que foram costurados um no outro. Em condições normais, seria difícil escapar do quarto trancado. Do jeito que estão, a tarefa é quase impossível.

Pablo Derqui e Marina Gatell como David e Sara no filme 'Dois'
Pablo Derqui e Marina Gatell como David e Sara no filme 'Dois', de Mar Targarona


Dois flerta com o suspense e com o terror corporal. Tem efeitos práticos adequadamente desagradáveis. Como destaquei no primeiro parágrafo, a situação remete imediatamente a A Centopeia Humana. Mas é possível notar a influência de diversos outros filmes, que vão do cult clássico Cubo ao torture porn Jogos Mortais, passando pelo drama de terror Jogo Perigoso até produções mais recentes, como o delicioso Till Death, com Megan Fox.

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Como é comum em filmes sobre desconhecidos arrastados para situações horríveis, somos jogados direto no meio da confusão, sem ter informações sobre a vida passada dos protagonistas. Assim, experimentamos o horror ao mesmo tempo que eles. A possibilidade de que um deles não seja confiável deixa o clima no quarto ainda mais tenso.

Pablo Derqui e Marina Gatell como David e Sara no filme 'Dois'
Pablo Derqui e Marina Gatell como David e Sara no filme 'Dois', de Mar Targarona


Marina Gatell e Pablo Derqui entregam performances convincentes. Ocasionalmente a diretora os filma em posições que não condizem nem um pouco com as de pessoas costuradas pelo abdômen, mas dá para relevar esses deslizes. O mesmo não pode ser dito do caminho que o filme toma na reta final, quando a figura misteriosa por trás desse jogo doentio é finalmente revelada, e entrega as peças que faltavam para que o casal monte o quebra-cabeças.

As explicações vagas, apressadas e pouco convincentes expõe uma série de inconsistências do roteiro. Uma das revelações tinha potencial para levar Dois para um terreno bem próximo do perturbador, mas acaba não tendo peso algum. O final estiloso, mas pouco recompensador, reforça a sensação de que havia uma boa ideia aqui, mas a diretora e seus roteiristas se perderam ao tentar concluí-la.

Nota: 5/10

Título original: Dos / Two.
Gênero: Suspense, mistério, drama, terror.
Produção: 2021.
Lançamento: 2021.
País: Espanha.
Duração: 1h 10m.
Roteiro: Cuca Canals, Christian Molina, Mike Hostench.
História: Daniel Padró.
Direção: Mar Targarona.
Elenco: Pablo Derqui, Marina Gatell, Esteban Galilea, Anna Chincho Serrano, Kandido Uranga.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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