A viagem de três mochileiros se transforma em um pesadelo sangrento em 'O Albergue', do diretor e roteirista Eli Roth
Petr Janis e Jay Hernandez como "O Cirurgião" e Paxton no filme 'O Albergue', de Eli Roth | © 2005 Sony Screen Gems |
Eli Roth estreou na direção em 2002 com Cabana do Inferno, sobre cinco estudantes universitários que alugam uma cabana na floresta e começam a ser vítimas de um vírus carnívoro. O sucesso fez com que os fãs do gênero ficassem de olho no diretor, que mais tarde entregaria filmes menos interessantes como Canibais (2013), remake do clássico Holocausto Canibal, de Ruggero Deodato, e Bata Antes de Entrar (2015), que apresenta um jogo de sedução perigoso entre os personagens de Keanu Reeves, Lorenza Izzo e Ana de Armas.
Mas Roth também entregou um marco para a história do gênero: O Albergue, sobre três mochileiros que partem para uma cidade eslovaca em busca de diversão, sem a menor idéia do inferno que os aguarda. O filme arrecadou US$ 20 milhões apenas no fim de semana de estreia. O faturamento bruto nas bilheterias mundiais ultrapassou a marca dos US$ 81 milhões. O Albergue foi o primeiro filme de terror que ganhou o rótulo de torture porn, aplicado a filmes que exageram na violência gráfica. Ou, neste caso, na violência gráfica e em imagens sexualmente sugestivas.
Jay Hernandez, Eythor Gudjonsson e Derek Richardson como Paxton, Oli e Josh no filme 'O Albergue', de Eli Roth | © 2005 Sony Screen Gems |
De fato, esses dois ingredientes são abundantes na jornada dos mochileiros americanos Paxton e Josh (Jay Hernandez, de Esquadrão Suicida, e Derek Richardson, de O Poder de Alguns), melhores amigos viajando pela Europa em busca de novas experiências sexuais. Para Paxton, há um motivo a mais para a viagem: ele acredita que poderá ajudar o amigo a superar uma desilusão amorosa. Oli (o estreante Eython Gudjonsson), um islandês com senso de humor duvidoso, acaba pegando carona com os dois.
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O trio se acomoda em um albergue na Eslováquia, nos arredores de Bratislava, porque um cara estranho lhes disse que lá suas experiências serão levadas para um nível ainda mais alto do que imaginaram. À primeira vista a informação procede, pois o albergue é povoado por mulheres lindas com pouca ou nenhuma roupa, que imediatamente convidam nossos heróis para se juntarem a elas em um spa.
Derek Richardson, Barbara Nedeljakova, Jana Kaderabkova e Jay Hernandez como Josh, Natalya, Svetlana e Paxton no filme 'O Albergue', de Eli Roth | © 2005 Sony Screen Gems |
Entre uma festa e outra, o trio encontra vários personagens, incluindo algumas crianças assustadoras que provavelmente se sairiam bem como vilões em seu próprio filme de terror. E, é claro, também conhecem as beldades Natalya e Svetlana, interpretadas por Barbara Nadeljakova (Strippers vs Werewolves) e pela estreante Jana Kaderabkova, que se tornam suas parceiras nas noites agitadas da cidade.
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As coisas ficam assustadoras quando o trio descobre que virou alvo de uma organização que sequestra turistas desavisados e os oferece a clientes dispostos a pagar muito dinheiro pela oportunidade de torturar alguém. A partir daí, bisturis, martelos, furadeiras e até motosserras ganham destaque para garantir que o sangue jorre com gosto. Não se espante se você se pegar instintivamente cobrindo os olhos, porque os efeitos práticos são realmente impressionantes. O nível de tensão que o diretor atinge, também.
Derek Richardson, Jennifer Lim e Jay Hernandez como Josh, Kana e Paxton no filme 'O Albergue', de Eli Roth | © 2005 Sony Screen Gems |
A virada acontece na marca dos 40 minutos. Não pude deixar de pensar que, se fosse produzido hoje, haveria uma boa chance de que os roteiristas usassem esse tempo para nos entediar com metáforas e simbolismos. Felizmente O Albergue é de 2005, uma época em que os realizadores ainda se preocupavam em entregar filmes de terror divertidos.
Sendo assim, não espere por um roteiro profundo ou por personagens complexos. No máximo, temos uma jornada de redenção para Paxton e alguns diálogos que fornecem pistas sobre o dilema de Josh. O diretor preenche o resto dos 40 minutos iniciais com situações repletas de humor-negro e muita nudez gratuita. É uma abordagem semelhante à que vemos em muitos slashers da década de 1980. Só faltou uma final girl para completar a fórmula. Mas tudo bem, porque temos um final boy carismático.
O Albergue é produzido por Quentin Tarantino, que faz uma participação-relâmpago como um alemão sem camisa gritando de uma janela. Um trecho de Pulp Fiction: Tempo de Violência, um dos maiores sucesso de Tarantino, chega a ser exibido em uma TV no albergue. Os fãs mais atentos notarão uma participação rápida de outro nome conhecido no gênero: o cultuado diretor japonês Takashi Miike, cujo clássico Audição (1999) também parece ter influenciado o filme de Roth. Miike interpreta um empresário na cena do armazém.
Outro filme que aparentemente inspirou o roteiro de O Albergue ganha uma homenagem bem mais discreta. Ela acontece por volta dos 26 minutos, quando Josh, Paxton, Natalya e Svetlana voltam ao albergue depois da boate. Se nossos heróis soubessem que a música que toca ao fundo é uma versão de 'Willow's Song', de O Homem de Palha (1973), teriam feito as malas e saído dali o mais rápido possível.
Nota: 8.2/10
Título Original: Hostel.
Gênero: Terror.
Produção: 2005.
Lançamento: 2005.
País: Estados Unidos da América, República Tcheca.
Duração: 1 h 34 min.
Roteiro: Eli Roth.
Direção: Eli Roth.
Elenco: Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonsson, Barbara Nedeljakova, Jan Vlasák, Jana Kaderabkova, Jennifer Lim, Keiko Seiko, Lubomír Bukový, Jana Havlickova, Rick Hoffman, Petr Janis, Takashi Miike, Patrik Zigo, Milda Jedi Havlas.