Retro Review | Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula, 1992)

Francis Ford Coppola dirige 'Drácula de Bram Stoker', a espetacular adaptação do livro de terror gótico estrelada por Gary Oldman, Winona Ryder e Keanu Reeves


Gary Oldman como Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Gary Oldman como Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


O lançamento de Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe e o trailer de Drácula: A Última Viagem do Demeter colocaram o rei dos vampiros novamente no centro dos holofotes. Nada mais justo do que aproveitar o momento para revisitar o melhor filme de Drácula já feito. E, com todo o respeito aos clássicos, não estou falando do filme de 1931, mas de Drácula de Bram Stoker, a espetacular adaptação de 1992 dirigida por Francis Ford Coppola.

Inicialmente, Drácula de Bram Stoker seria um filme feito para a televisão, com Michael Apted a bordo para dirigir. As coisas mudaram quando a atriz Winona Ryder (Gone in the Night) viu o roteiro e o levou para Coppola, com quem não falava desde a desistência de O Poderoso Chefão III (1990). Coppola concordou em dirigir o filme e Apted continuou como produtor executivo. Ryder foi escalada para o elenco, que ainda contou com reforços de nomes de peso como Anthony Hopkins (O Lobisomem) e Keanu Reeves (John Wick).


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Vários atores foram sondados para o papel do príncipe das trevas, incluindo Andy Garcia, Gabriel Byrne, Antonio Banderas e Viggo Mortensen. O papel acabou ficando com Gary Oldman (Batman: O Cavaleiro das Trevas), em seu primeiro grande filme americano. Mais tarde, o ator disse que interpretar Drácula nunca esteve em sua lista de desejos, mas não perderia a oportunidade de trabalhar com Coppola, que ele considerava um dos grandes diretores americanos.

Imagem do filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Imagem do filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


Drácula de Bram Stoker abre no ano de 1462, quando o príncipe romeno Drăculea (Oldman) se despede da noiva, Elisabeta (Ryder), e parte em uma cruzada para proteger a igreja do avanço de exércitos que varriam a Europa. Ele retorna vitorioso a seu castelo, apenas para descobrir que Elisabeta cometeu suicídio depois que seus inimigos relataram falsamente sua morte.

Tomado pela fúria, Drăculea renuncia a Deus, profana a igreja e jura se levantar do próprio túmulo para vingar a morte da noiva. Se ele foi amaldiçoado ou se sua transformação foi causada por sua própria força de vontade, como um diálogo posterior sugere, fica a cargo do espectador decidir. De um jeito ou de outro, Drăculea torna-se uma criatura demoníaca que passará os próximos séculos se alimentando do sangue do povo da Transilvânia.

Keanu Reeves e Gary Oldman como Jonathan e Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Keanu Reeves e Gary Oldman como Jonathan e Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


Ao contrário do que muitos acreditam, a cena de abertura intensa não faz parte do livro Drácula, do autor Bram Stoker. Parte do trecho foi vagamente inspirado na história de Vlad III, também conhecido como Vlad Tepes ou Vlad, o empalador, personagem real que reinou sobre uma região específica da Romênia chamada Valáquia. Embora aparentemente Vlad também tenha servido de inspiração para Stoker, no livro a ligação entre os personagens reais e fictícios é implícita.


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A “história de origem”, porém, funciona perfeitamente no filme, conectando-se naturalmente com os eventos apresentados quatro séculos depois, quando o vampiro, agora chamado de Drácula, descobre a existência de uma mulher que pode ser a reencarnação de seu grande amor do passado. A partir daí, o filme reproduz com relativa fidelidade diversas passagens do livro, incluindo o primeiro encontro no castelo e a trágica viagem no navio Demeter.

Winona Ryder e Gary Oldman como Mina e Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Winona Ryder e Gary Oldman como Mina e Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


Drácula de Bram Stoker impressiona nos primeiros segundos, graças à maravilhosa trilha sonora que remete aos filmes de terror da Hammer do final dos anos 50 e 60 e início dos anos 70, particularmente os filmes de Drácula estrelados pelo grande Christopher Lee. A trilha combina coros angelicais e sinfonias grandiosas com sons de órgão, evocando um sentimento de suspense, medo e encanto que complementa perfeitamente a atmosfera do filme e ajuda a intensificar a ação e as emoções do espectador.

Gary Oldman interpreta brilhantemente o príncipe romeno que abraça os poderes das trevas e planeja expandir seu reinado de terror além da Transilvânia. Com uma performance carregada, quase shakespeariana, o ator transmite uma mistura de tristeza e maldade em seu personagem, tornando-o fascinante e aterrorizante ao mesmo tempo. Keanu Reeves não apresenta a mesma energia de Oldman, mas está suficientemente convincente no papel de Jonathan Harker, o advogado que se hospeda no castelo de Drácula e, tarde demais, descobre que está lidando com forças além da compreensão humana.

Cary Elwes, Billy Campbell, Richard E. Grant e Anthony Hopkins como Arthur, Quincey, Jack e Van Helsing no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Cary Elwes, Billy Campbell, Richard E. Grant e Anthony Hopkins como Arthur, Quincey, Jack e Van Helsing no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


Anthony Hopkins rouba uma quantidade absurda de cenas como o brilhante, mas um pouco excêntrico, professor Abraham Van Helsing, especialista em doenças do sangue que não demora a desconfiar que existem forças sobrenaturais agindo em Londres. Winona Ryder está bem como Mina Murray, a encantadora noiva de Jonathan, que acaba sendo consumida pela paixão pelo vampiro. O mesmo pode ser dito de Tom Waits (Os Mortos Não Morrem), que interpreta o atormentado R.M. Renfield, antecessor de Jonathan como agente imobiliário do Conde Drácula em Londres.


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Personagens pouco explorados ou simplesmente ignorados em outras adaptações, como o médico Dr. Jack Seward (Richard E. Grant, de Logan), o texano Quincey P. Morris (Billy Campbell, de O Troll da Montanha) e o Lord Arthur Holmwood (Cary Elwes, de Natal Sangrento), ganham enorme destaque na versão de Coppola. A amizade dos três é convincente, e suas presenças são decisivas no ato final, quando o filme abandona o cenário da Inglaterra para nos levar de volta a um passeio pelas paisagens assustadoras da Transilvânia.

Michaela Bercu, Florina Kendrick e Monica Bellucci como as noivas de Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Michaela Bercu, Florina Kendrick e Monica Bellucci como as noivas de Drácula no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


As noivas de Drácula, interpretadas pela israelense Michaela Bercu, a romena Florina Kendrick (With Criminal Intent) e a italiana Monica Bellucci (Irreversível), também têm seus cinco minutos de fama. Elas são apresentadas surgindo entre lençóis para se contorcer ao lado de Jonathan Harker, numa cena que salta do sexy para o arrepiante num piscar de olhos. As três retornam no final, primeiro para influenciar as ações de Mina e depois para aterrorizar os cavalos de Van Helsing em uma das várias homenagens que o diretor presta ao Teatro das Sombras.

Por último, temos minha personagem favorita: Lucy Westenra, a jovem ruiva com ideias à frente de seu tempo, interpretada por Sadie Frost (A Outra Volta do Parafuso). O fato de Drácula atravessar oceanos de tempo para reencontrar sua noiva perdida pode levar o espectador a crer que Mina é o centro das atenções, mas se você prestar atenção, verá que quase tudo no filme gira em torno de Lucy. Mesmo que seu comportamento seja muito diferente do descrito no livro, Drácula de Bram Stoker ganha uma energia incrível toda vez que essa personagem entra em cena, seja fazendo comentários sobre a literatura da época, seja recebendo seus três pretendentes a marido em sua mansão luxuosa.

Sadie Frost e Winona Ryder como Lucy e Mina no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Sadie Frost e Winona Ryder como Lucy e Mina no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


A cena em que Lucy, sonâmbula, é atraída para o labiríntico jardim da mansão para um encontro desagradável com Drácula, embalada por uma trilha sonora sufocante, está entre os momentos mais angustiantes do filme. Como se não bastasse, a personagem está presente em uma das cenas mais arrepiantes de Drácula de Bram Stoker, quando desce as escadas de uma tumba carregando uma criança, pouco antes de se juntar ao personagem de Anthony Hopkins em uma homenagem ao clássico O Exorcista.

Maquiagem e próteses foram usadas para dar credibilidade às transformações de Drácula, que incluem as formas de um horripilante morcego humanoide e de uma criatura ainda mais medonha, que parece um híbrido infernal de homem e lobo. A chama azul vista na estrada para o castelo de Drácula é o único efeito óptico neste filme. Todos os outros efeitos foram obtidos sem trabalho de pós-produção.

Sadie Frost como Lucy no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola
Sadie Frost como Lucy no filme 'Drácula de Bram Stoker', de Francis Ford Coppola


A fotografia é excepcional, com grande influência de Nosferatu, de FW Murnau. Os cenários criam um visual gótico e suntuoso que evocam a era vitoriana em que a história se passa, enquanto a direção de arte cuidadosa cria uma sensação de autenticidade e imersão na época. O castelo do Conde Drácula é retratado como um local sinistro, mas opulento. Os figurinos elaborados, ricamente detalhados, garantiram um Oscar a Eiko Ishioka. O filme também foi premiado nas categorias de Melhores Efeitos Sonoros e Melhor Maquiagem.

Mesmo após décadas de seu lançamento, a obra se mantém como a melhor adaptação do romance de Stoker. Ouso até dizer que, se não é o melhor filme de vampiros de todos os tempos, com certeza é um dos que melhor representa a mitologia dessas criaturas tão castigadas pelos roteiristas atuais, obcecados em modernizar histórias clássicas. Torço para que A Última Viagem do Demeter siga pelo mesmo caminho. E para que alguém faça logo um spin-off com Lucy.

Nota: 10/10

Título Original: Bram Stoker's Dracula.
Gênero: Terror.
Produção: 1992.
Lançamento: 1992.
País: Reino Unido, Estados Unidos da América.
Duração: 2 h 8 min.
Roteiro: James V. Hart.
Direção: Francis Ford Coppola.
Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Billy Campbell, Sadie Frost, Tom Waits, Monica Bellucci, Michaela Bercu, Florina Kendrick, Jay Robinson, I.M. Hobson, Laurie Franks, Maud Winchester, Octavian Cadia, Robert Getz, Dagmar Stansova, Eniko Öss.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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