A possessão é contagiosa em 'O Mal Que Nos Habita', o novo filme do diretor de 'Aterrorizados', Demián Rugna
Imagem do filme 'O Mal Que Nos Habita', de Demián Rugna. Foto: Shudder |
Considero Aterrorizados (2017) um dos filmes de terror mais apavorantes da última década. Além de uma história envolvente, a obra dirigida e roteirizada pelo argentino Demián Rugna apresenta uma seleção invejável de imagens medonhas que, mesmo após anos, permanecem vividamente gravadas na memória. Não é surpresa que minhas expectativas para o próximo filme de Rugna estivessem extremamente altas.
Pois bem, o novo filme chegou, e chama-se Cuando acecha la maldad, ou O Mal Que nos Habita, no título nacional. Não posso dizer que esse pesadelo supera sua obra anterior no que diz respeito à narrativa, ao ritmo e ao arrepio que percorre a espinha do espectador. No entanto, é inegável que este filme apresenta momentos de genuíno terror, acolhendo o público com choques gráficos que surpreendem de uma maneira que se espera apenas de um seleto grupo de obras do gênero.
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O Mal Que Nos Habita começa em um vilarejo argentino remoto, onde os irmãos Pedro (Ezequiel Rodriguez, de 27: O Clube dos Malditos) e Jimmy (Demián Salomón, de Pesadelo em Família) vivem em uma humilde cabana. Eles acordam de madrugada ouvindo disparos de tiros na floresta, mas a sensatez os impede de se aventurarem nas sombras, onde o desconhecido pode abrigar ameaças inimagináveis. O que se desdobra na manhã seguinte é uma cena de violência indescritível, capaz de transformar irreversivelmente o curso de suas vidas.
Revelar mais detalhes sobre os eventos iniciais seria injusto, pois uma parte significativa da magia reside na imprevisibilidade que os primeiros 20 minutos proporcionam. Quanto menos se souber, mais profundamente o espectador se imergirá na narrativa. O que é crucial entender é que os irmãos serão compelidos a enfrentar uma insidiosa ameaça sobrenatural, com o potencial de desencadear uma catástrofe de proporções monumentais na região rural que envolve o prólogo do filme.
O Mal Que Nos Habita pode ser visto como uma sombria alegoria que expõe os desdobramentos quando a confiança entre membros da comunidade, no seio das famílias e entre o governo e seus súditos se desintegra. No entanto, é importante ressaltar que a metáfora jamais obscurece a narrativa ou os arrepios visceralmente impactantes que a permeiam. Como um mestre ilusionista que desvia a atenção de seu truque, Rugna cria cenas de terror que não apenas surpreendem pela imprevisibilidade, mas também ultrapassam certos limites, que a maioria dos diretores e roteiristas estadunidenses não ousaria se aproximar.
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Neste sombrio mundo retratado por Rugna, nem mesmo os mais vulneráveis, como animais, idosos e crianças, encontram refúgio diante da ameaça que se alastra como uma enfermidade contagiosa. O cineasta vai além, apresentando cenas de violência com uma brutalidade anárquica que nos remete à estética do mestre Lucio Fulci. O Mal Que Nos Habita é um festival de imagens grotescas, meticulosamente concebidas para que o espectador quase possa sentir o nauseante odor exalado pelo "apodrecido", o hospedeiro da entidade sobrenatural, cujo visual é apenas uma entre muitas imagens igualmente perturbadoras que povoam o filme.
Rugna constrói a tensão por meio desses momentos extremos de horror abjeto, retratando uma maldade capaz de induzir seres humanos e criaturas a atos de violência inesperadamente chocantes, todos mergulhados na perversidade. A possessão que subjaz à trama acrescenta uma camada adicional de tensão, tornando cada personagem um enigma, uma fonte potencial de perigo. Somos imersos na história sem a benevolência de um contexto elaborado, e apenas no segundo ato o roteiro começa a lançar fragmentos de informações. No entanto, diferentemente do que aconteceu no recente Colheita Sombria, a deliberada ausência de explicações detalhadas enriquece a experiência.
Curiosamente, na segunda metade da obra, quando as revelações começam, o filme perde boa parte de seu ímpeto. A inclusão de uma nova personagem, que desempenha o papel de uma espécie de narradora e assegura que o público compreenderá os eventos vindouros, não favorece o filme. A exploração da mitologia dos possuídos, embora necessária, acaba mitigando o ritmo vertiginoso estabelecido no início, levando a um final que também não rivaliza com a intensidade inicial.
Tive problemas para digerir a insistência dos personagens em tomar decisões questionáveis mesmo após todas as regras para enfrentar a entidade serem colocadas na mesa. Ainda assim, O Mal Que Nos Habita consegue se estabelecer como um dos filmes de terror mais impactantes do ano.
Nota: 7/10
Título Original: Cuando acecha la maldad / When Evil Lurks.
Gênero: Terror.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Argentina, Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 39 min.
Roteiro: Demián Rugna.
Direção: Demián Rugna.
Elenco: Ezequiel Rodríguez, Luis Ziembrowski, Demián Salomón, Federico Liss, Silvina Sabater, Emilio Vodanovich, Paula Rubinsztein, Desirée Salgueiro, Virginia Garófalo, Marcelo Michinaux.
Ed, posteriormente gostaria de saber sua análise sobre o filme "Jogos Mortais X".
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