Crítica | Colheita Sombria (Dark Harvest, 2023)

Uma entidade sobrenatural renasce anualmente para aterrorizar uma comunidade isolada em 'Colheita Sombria', o novo filme de terror do diretor David Slade


Imagem do filme 'Colheita Sombria', de David Slade
Imagem do filme 'Colheita Sombria', de David Slade. Foto: © 2023 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc.


Baseado no romance de Norman Partridge, o filme de terror Colheita Sombria nos transporta para Bastion, uma comunidade isolada na Illinois dos anos 1960, onde o Halloween não é apenas um pretexto para doces e travessuras. Na verdade, a noite das bruxas sinaliza o início de uma batalha mortal entre os jovens locais e Sawtooth Jack (ou Jack Dentes de Serra, na versão nacional), uma criatura sobrenatural nefasta com uma cabeça de abóbora podre que ressurge anualmente em algum ponto dos vastos campos de milho que cercam a cidade.

Os jovens de Bastion precisam destruir Jack antes que ele chegue à igreja, já que o fracasso nessa missão significaria a condenação irremediável da cidade e de sua safra. A família do vencedor ganha uma nova casa e a admissão em um seleto grupo que dita as regras na cidade. Já o jovem que realiza esse ato heroico recebe um Corvette reluzente e a permissão para deixar a cidade, um privilégio negado aos demais moradores. Aparentemente a sensação de liberdade é tão grande que o último vencedor acelerou seu Corvette para fora da cidade, apreciou o mundo exterior e nunca mais retornou.


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O filme gira em torno de Richie Shepard (Casey Likes, de A Era do Ouro), que deseja seguir os passos de seu irmão, vencedor do ano anterior. Porém, durante os preparativos para enfrentar Jack, Richie descobre segredos profundos enterrados na cidade que colocarão em risco todos ao seu redor. Verdade seja dita, o segredo é um tanto óbvio e já foi explorado em outros filmes. Acredito até que boa parte do público o desvendará apenas lendo a sinopse.

Imagem do filme 'Colheita Sombria', de David Slade
Imagem do filme 'Colheita Sombria', de David Slade. Foto: © 2023 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc.


O diretor David Slade, um veterano no gênero conhecido por obras como o bom filme de vampiros 30 Dias de Noite, episódios de séries como Hannibal e Black Mirror, além de colaborações na antologia Cine Pesadelo, se destaca por sua disposição em apresentar cenas de violência gráfica e mortes brutais. A cinematografia é notável, especialmente durante o ápice da batalha, na qual os jovens mascarados e armados perseguem Jack enquanto ele semeia o pânico nos milharais e estradas rurais, criando uma aura quase fantasmagórica.

Essa agitação é intercalada com sequências de câmera lenta que acrescentam um toque de mistério e eficácia à narrativa. Infelizmente, a ação também é frequentemente interrompida por longas pausas, nas quais o roteiro tenta desenvolver os personagens. Eles são absolutamente desinteressantes e cercados por estereótipos que minam sua capacidade de cativar genuinamente. O diálogo, em muitos momentos, soa superficial. Até o núcleo emocional do filme, refletido no desejo de Richie de se reunir com seu irmão, é prejudicado pela superficialidade da trama e pela performance monótona de Likes.

Emyri Crutchfield como Kelly no filme 'Colheita Sombria', de David Slade
Emyri Crutchfield como Kelly no filme 'Colheita Sombria', de David Slade. Foto: © 2023 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc.


O interesse romântico de Richie, Kelly (Emyri Crutchfield, da série True Detective), aparentemente existe para adicionar complexidade à história do protagonista. No entanto, sua personalidade impulsiva e sua ascendência étnica são exploradas de forma tangencial, servindo mais como desculpa para comentários sociais sem sutileza. Como a química entre o casal também é praticamente inexistente, acredito que o filme poderia funcionar melhor se simplesmente deixasse o romance chato de lado e se concentrasse um pouco mais no drama de Annie (Megan Best, de As Apimentadas: Torça ou Morra), que parece ter uma história triste a ser explorada, mas é inexplicavelmente ignorada pelo roteiro.


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O líder da cidade, Jerry Ricks (Luke Kirby, de O Estrangulador de Boston), assume a persona de um vilão caricato, com interpretações sem profundidade, o que não contribui substancialmente para o desenvolvimento da narrativa nem para a performance geral. Jeremy Davies (O Telefone Preto) se esforça no papel do pai de Richie, Dan, mas seu personagem é tão engessado que é difícil se importar com ele. O mesmo pode ser dito de Elizabeth Reaser (de Ouija: Origem do Mal), que interpreta a mãe, Donna.

West Mulholland como Mitch no filme 'Colheita Sombria', de David Slade
West Mulholland como Mitch no filme 'Colheita Sombria', de David Slade. Foto: © 2023 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc.


Colheita Sombria ainda sofre com a incapacidade do roteiro de construir o universo do filme de maneira satisfatória. Os eventos se desenrolam sem um contexto apropriado, e as regras da cidade não são exploradas em profundidade, embora sua inclusão demande uma análise mais aprofundada para estabelecer uma base sólida para o enredo. Lacunas relevantes se acumulam durante a construção da narrativa. O ato final demora uma eternidade para ser concluído, resultando em uma experiência cansativa demais para entreter.

Nota: 2.5/10

Título Original: Dark Harvest.
Gênero: Terror.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 33 min.
Roteiro: Michael Gilio.
Direção: David Slade.
Elenco: Casey Likes, Emyri Crutchfield, Dustin Ceithamer, Alejandro Akara, Ezra Buzzington, Jeremy Davies, Elizabeth Reaser, Luke Kirby, Austin Autry, Megan Best, Jake Brennan, Britain Dalton, Steven McCarthy, Maclean Fish, Nazariy Demkowicz, West Mulholland, Carter Heintz, Logan Tomanek, Dylan McEwan, Ryder Dueck.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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