Crítica | Ele Vem à Noite (Im Nachtlicht / In the Light of the Night, 2020)

Uma mulher descobre segredos sombrios em um moinho de água no filme de estreia do diretor e roteirista Misha Kreuz.


Diana Maria Frank como Minthe Hellheim no filme 'Ele Vem à Noite'.
Diana Maria Frank como Minthe Hellheim no filme 'Ele Vem à Noite', de Misha Kreuz. Foto: © Copyright: Uhlandfilm.



Ele Vem à Noite, o filme de estreia do diretor e roteirista Misha Kreuz, inicia-se com citações à mitologia grega, mais precisamente a Lykaon, rei arcádio conhecido por irritar Zeus, que o transformou em um lobo. Isso nos dá uma ideia sobre o tema do filme. Para deixar as coisas um pouco mais enigmáticas, Kreuz emenda com a imagem de uma mulher flutuando nas águas avermelhadas de um lago, evocando os últimos dias de uma gravidez.

Nunca saberemos se a imagem é um pesadelo da protagonista, Minthe Hellheim (Diana Maria Frank, da série Bettys Diagnose), ou uma memória reprimida lutando para vir à tona. Mas descobrimos rapidamente que Minthe terá um péssimo dia. Começa com a notícia de que ela terá que deixar o apartamento onde vive de favor. Prossegue com a informação de que ela perdeu seu emprego temporário como caixa de um supermercado.


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Sem teto, sem fonte de renda e chocada demais para se juntar a uma amiga em um trabalho estranho em uma boate, Minthe aceita a oferta de emprego para restaurar um antigo moinho de água no Vale do Lobo, região florestal próxima de sua cidade natal que, coincidentemente, carrega seu sobrenome. Se você assistiu a Jogos Perigosos ou qualquer outro filme de terror sobre moças quebradas que aceitam trabalhos suspeitos, provavelmente já imagina que essa história não vai terminar bem.

Ruby O. Fee como Eva no filme 'Ele Vem à Noite'.
Ruby O. Fee como Eva no filme 'Ele Vem à Noite', de Misha Kreuz. Foto: © Copyright: Uhlandfilm.



Embora a abertura instigue uma ligeira tensão, a atmosfera nebulosa de Ele Vem à Noite não se sustenta ao longo da trama. Os problemas começam com um diálogo carregado de exposição e questionamentos desprovidos de contexto que desintegram parte do mistério sobre a protagonista. Da mesma forma, o resto da trama desvenda-se com exposições e explicações completas aos personagens envolvidos, enquanto suas motivações permanecem superficialmente iluminadas ou, em alguns casos, completamente obscuras.


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A decisão de Minthe em retornar à sua cidade natal e sua súbita e inexplicável amizade com Rick (Sebastian Hülk, da série Dark), um detetive alcoólatra que surge do nada e desaparece da mesma forma, não acrescenta nada à narrativa. A caracterização dos demais personagens masculinos revela-se uma jornada estereotipada, destacando-se por violência, machismo evidente e busca desmedida por poder.

Sebastian Hülk como Rick no filme 'Ele Vem à Noite'.
Sebastian Hülk como Rick no filme 'Ele Vem à Noite', de Misha Kreuz. Foto: © Copyright: Uhlandfilm.



Há uma metáfora aqui, reforçada pelo surgimento de uma organização secreta (na verdade, são apenas duas mulheres) que caça homens que não conseguem controlar seus instintos animalescos. Mas essa subtrama parece aleatória, além de ser um bom exemplo de lacunas narrativas que comprometem a coesão do enredo. É sério que todos os policiais da cidade estão mobilizados para descobrir quem matou um certo personagem com uma flecha de besta, mas ninguém pensou em interrogar aquela moça que passeia de moto pela cidade com uma besta nas costas?

Bem antes de chegar em sua metade, tanto roteiro quanto direção parecem completamente perdidos, com a trama principal se desgastando e subtramas dolorosamente desinteressantes ganhando mais e mais destaque. Muito simbolismo é enfatizado em intervalos regulares, enquanto situações importantes são deixadas sem resolução. Outras, como descobrimos no final, foram resolvidas em segredo, porque o diretor achou que seria mais legal não mostrar ao espectador as cenas de confronto.

Diana Maria Frank como Minthe Hellheim no filme 'Ele Vem à Noite'.
Diana Maria Frank como Minthe Hellheim no filme 'Ele Vem à Noite', de Misha Kreuz. Foto: © Copyright: Uhlandfilm.



Quanto às cenas de terror, a abordagem tímida merece menção apenas pelo seu caráter inexpressivo. Em um universo paralelo, vislumbro Ele Vem à Noite como um filme simples e assustador de lobisomens, sobre uma mulher isolada em um moinho, enfrentando as investidas de uma criatura amedrontadora que espreita na floresta nas noites de lua cheia. Infelizmente, essa versão divertida do filme permanece inalcançável em nossa dimensão.

Nota: 1/10

Título Original: Im Nachtlicht / In the Light of the Night.
Gênero: Mistério, terror.
Produção: 2020.
Lançamento: 2022.
País: Alemanha.
Duração: 1 h 44 min.
Roteiro: Misha Kreuz.
Direção: Misha Kreuz.
Elenco: Diana Maria Frank, Ralf Drexler, David Rott, Stefanie Philipps, Sebastian Hülk, Mandy Kieroth, Axel Gottschick, Peter Eberst, Jens-Peter Fiedler, Juri Senft, Markus Kloster, Mareile Blendl, Rudolf Schlager, Björn Jung.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

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  1. O filme é tão estranho quanto a própria protagonista... Fraco e totalmente sem sentido.

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