Dois padres tentam salvar a alma de uma menina possuída por um demônio em 'O Exorcista', obra-prima do cinema de terror dirigida por William Friedkin e estrelada por Ellen Burstyn e Linda Blair
A atriz Linda Blair como Regan no filme 'O Exorcista', de William Friedkin |
Um novo capítulo da franquia O Exorcista foi lançado recentemente, cortesia do diretor David Gordon Green e da produtora Blumhouse. E o filme é tão ruim que me fez querer rever o original, apenas para tirar o gosto amargo da boca. Após reassistir ao clássico, posso dizer que ele continua chocante até hoje, meio século após seu lançamento, e que o filme faz a versão moderna de Green parecer ainda mais tímida e desinteressante do que provavelmente é.
A obra-prima de 1973 é dirigida por William Friedkin, cuja filmografia também inclui Operação França, Viver e Morrer em Los Angeles e Killer Joe - Matador de Aluguel. O filme tem como base o romance de mesmo nome de William Peter Blatty, que por sua vez baseou-se em um exorcismo supostamente genuíno de 1949. Só que, enquanto na história real um padre afirmou ter exorcizado um demônio de um menino de 13 anos, no filme a possuída é uma menina de 12.
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A pré-adolescente Regan MacNeil (Linda Blair, de Noite Infernal) mora em Washington, D.C., com a mãe, a atriz Chris (Ellen Burstyn, de Dominada Pelo Ódio). Regan é doce e gentil, mas começa a apresentar comportamentos estranhos após brincar com um tabuleiro Ouija. Por comportamentos estranhos, eu quero dizer blasfemar, fazer xixi no tapete da sala e levitar na cama. Além, claro, de usar crucifixos para fazer coisas tão medonhas que me dá agonia só de lembrar da cena.
Linda Blair e Ellen Burstyn como Regan e Chris no filme 'O Exorcista', de William Friedkin. Foto: © 1973 - Warner Bros. Entertainment |
Como nenhum médico consegue identificar a causa do problema, Chris recorre a um padre, Damien Karras (Jason Miller, de Maldição da Múmia), que está passando por uma crise de fé após uma perda pessoal. Padre Karras começa a investigar a situação de Regan e chega à conclusão de que ela está possuída por um demônio. Bem, na verdade, ele não acredita que ela está possuída. Mas quando o experiente Padre Lankester Merrin (Max von Sydow, de Conan, o Bárbaro) entra em cena para realizar um exorcismo, suas dúvidas rapidamente desaparecem.
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O Exorcista lida com temas tabus para a época em que foi lançado. Alguns, até para a época atual. O filme tem cenas perturbadoras e uma atmosfera intensa e arrepiante. O tom é sombrio desde o início, e o suspense é construído de forma gradual e habilidosa ao longo da narrativa. A trilha sonora é marcada por sua simplicidade e eficácia, enquanto a ausência dela em momentos-chave aumenta a tensão e a sensação de desconforto no espectador.
Linda Blair, Max von Sydow e Jason Miller como Regan, Merrin e Karras no filme 'O Exorcista', de William Friedkin |
A direção de Friedkin é precisa, e a edição e montagem são notáveis pela habilidade em criar tensão. Os efeitos especiais são sutis, mas efetivos, e a maquiagem utilizada durante as cenas de possessão é especialmente marcante. A equipe contou com a ajuda de técnicas como próteses, pintura facial e movimentos controlados por controle remoto. Muitas cenas aconteceram em um quarto refrigerado para capturar o autêntico hálito gelado dos atores nas cenas de exorcismo.
Linda Blair, que tinha 13 anos durante as filmagens, está incrível como Regan, transmitindo tanto vulnerabilidade quanto terror ao longo do filme. Dizem que sua atuação foi tão intensa que um de seus diálogos perturbou o ator Max von Sydow a ponto de fazê-lo realmente esquecer suas falas. Falando em Sydow, ele dá um show à parte como o Padre Merrin, trazendo sabedoria e autoridade ao personagem. Sydow tinha 44 anos na época das filmagens, e o mestre da maquiagem Dick Smith foi responsável pela aplicação de quantidades generosas de látex na testa, olhos e pescoço do ator, fazendo-o parecer muito mais velho.
Burstyn também está ótima como Chris MacNeil, a mãe desesperada disposta a fazer qualquer coisa para salvar sua filha. Enquanto isso, Jason Miller, em sua estreia no cinema, traz uma profundidade emocional para o padre Karras, que é essencial para a história. Além do elenco principal, O Exorcista conta com outras performances memoráveis, como a de Lee J. Cobb (Sindicato de Ladrões) como o Tenente William F. Kinderman, e a de Mercedes McCambridge (Assim Caminha a Humanidade) como a voz do demônio.
Antes de O Exorcista, o terror ainda era visto como um gênero de nicho, com uma base de fãs relativamente pequena. O sucesso comercial ajudou a mudar isso, provando que filmes de terror podiam ser lucrativos e atraentes para um público amplo, abrindo caminho para o sucesso de outras obras nos anos seguintes. O longa-metragem, que aterrorizou plateias e fez pessoas desmaiarem nos cinemas, também abriu caminho para novas possibilidades narrativas dentro do gênero de terror. Ao usar temas religiosos e explorar a dinâmica da possessão demoníaca, o filme quebrou barreiras em relação ao que poderia ser explorado no gênero, permitindo uma maior experimentação e ousadia em relação ao conteúdo e temas.
A obra de William Friedkin deixou uma marca indelével no cinema e é considerada por muitos o filme mais assustador já feito. Sua abordagem chocante e temas controversos podem não agradar a todos os gostos, mas sua importância histórica e cultural não pode ser negada.
Nota: 10/10
Título Original: The Exorcist.
Gênero: Terror.
Produção: 1973.
Lançamento: 1973.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 2 h 2 min.
Roteiro: William Peter Blatty.
Direção: William Friedkin.
Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max von Sydow, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran, William O'Malley, Barton Heyman, Peter Masterson, Rudolf Schündler, Gina Petrushka, Robert Symonds, Arthur Storch, Thomas Bermingham, Vasiliki Maliaros, Titos Vandis, John Mahon, Wallace Rooney, Ron Faber, Donna Mitchell, Roy Cooper, Robert Gerringer, Mercedes McCambridge.