Novo filme da saga 'Rua do Medo' tenta reviver o espírito dos anos 1980, mas peca pela falta de ousadia, ritmo atropelado, vilão pouco inspirado e protagonista sem carisma
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Um assassino mascarado está de olho em Melissa (Ella Rubin) no filme 'Rua do Medo: Rainha do Baile'. Foto: Netflix © 2025 |
Quatro anos após a trilogia Rua do Medo conquistar o público da Netflix com sua mistura afiada de horror e nostalgia, a franquia retorna com um novo capítulo: Rua do Medo: Rainha do Baile, também inspirado na obra literária do autor R. L. Stine. Com direção do britânico Matt Palmer (Calibre), a sequência tenta homenagear os slashers oitentistas, mas tropeça na própria falta de personalidade.
A trama se passa em 1988, no tradicional baile de formatura da Shadyside High, onde um assassino mascarado volta a atacar. Seu alvo? As candidatas ao título de Rainha do Baile. Lori Granger (India Fowler, de Os Estranhos: Capítulo 1) entra na disputa de última hora e, sem saber, vira o próximo nome na lista de vítimas. A premissa parece pronta para entregar o caos sangrento que os fãs esperam, mas o resultado é morno — e previsível.
Leigh Janiak, responsável pela direção da trilogia original, sabia exatamente como construir ritmo, atmosfera e referências nos filmes anteriores. Cada capítulo tinha sua própria identidade — do terror urbano pós-Pânico em 1994, ao camp slasher de Sexta-Feira 13 em 1978. A diretora arriscou até um mergulho sombrio no folk horror em 1666, encerrando a trilogia de maneira satisfatória.
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Tiffany (Fina Strazza) olha feio para Lori (India Fowler) no filme 'Rua do Medo: Rainha do Baile'. Foto: Cr. Alan Markfield/Netflix © 2025 |
Palmer, por outro lado, entrega uma experiência sem frescor. Apesar dos esforços para criar uma ambientação oitentista — com paleta de cores vibrantes, músicas de Billy Idol, Roxette e Laura Branigan, e alguns objetos de cena curiosos (como um pôster de Zumbi 2, de Lucio Fulci) —, o filme falha ao capturar o espírito caótico, estilizado e escandaloso da época. O figurino, por exemplo, carece do exagero visual que marcou a década.
Rua do Medo: Rainha do Baile também não apresenta personagens interessantes. Lori, a protagonista, tem um arco mal desenvolvido e pouca presença. Sua relação com a amiga Megan (Suzanna Son, de Red Rocket) é morna e sem impacto na trama. Do elenco, destacam-se apenas Fina Strazza (A Mulher Invisível), que parece se divertir no papel da malvada Tiffany; e Ella Rubin (Until Dawn: Noite de Terror), que entrega uma interpretação mais sólida como a jovem com crise de consciência, Melissa.
O filme acrescenta pouco à mitologia da franquia. As conexões com os filmes anteriores são feitas de maneira preguiçosa, por meio de flashbacks expositivos e falas mal informadas — como a afirmação equivocada de que o massacre do baile foi pior que o do Acampamento Nightwing. Apenas a cena pós-crédito apresenta uma conexão que merece destaque.
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Lori (India Fowler) descobre que há um novo assassino em Shadyside no filme 'Rua do Medo: Rainha do Baile'. Foto: Netflix © 2025 |
Com mais pontos baixos do que altos, resta torcer para que os choques visuais salvem o filme. E embora eles também tenham seus problemas, não posso negar que me diverti com alguns. As mortes seguem a fórmula de Sexta-Feira 13, com vítimas sendo eliminadas uma a uma até o terceiro ato, quando os corpos são descobertos e a final girl se prepara para o confronto final com o vilão mascarado.
Matt Palmer escorrega erra ao optar por efeitos digitais em vez de maquiagem prática, mas entrega uma boa dose de violência gráfica, com direito a machadadas, facadas, decapitações e até um rosto partido ao meio por uma serra — cena que, de novo, seria muito mais impactante com efeitos práticos. O confronto final é satisfatório, ainda que um pouco apressado. Já o visual do vilão decepciona, especialmente se comparado aos outros assassinos da franquia.
Fãs da trilogia podem até encontrar algum prazer nos detalhes e na trilha sonora, mas não devem esperar o mesmo nível de criatividade ou energia da trilogia de Janiak. Apesar de alguns momentos divertidos e uma boa curadoria musical, Rua do Medo: Rainha do Baile é o elo mais fraco da franquia. Um retorno burocrático, que carece de ousadia, estilo e alma.
Nota: 4,8 / 10
Título Original: Fear Street: Prom Queen.
Título Nacional: Rua do Medo: Rainha do Baile.
Gênero: Terror.
Produção: 2025.
Lançamento: 2025.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
Roteiro: Matt Palmer, Donald McLeary.
Direção: Matt Palmer.
Elenco: India Fowler, Suzanna Son, Fina Strazza, Katherine Waterston, Lili Taylor, Chris Klein, Ariana Greenblatt, David Iacono, Darrin Baker, Ella Rubin, Rebecca Ablack, Ilan O'Driscoll, Ryan Rosery, Damian Romeo, Dakota Taylor, Luke Kimball, Eden Summer Gilmore, Brennan Clost, Cecilia Lee Joseph Chiu.
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