Nastassja Kinski interpreta jovem que carrega uma maldição mortal em 'A Marca da Pantera', o fascinante drama de terror do diretor Paul Schrader
A atriz Nastassja Kinski como Irena no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
Em 1942, Simone Simon interpretou Irena Dubrovna, uma imigrante sérvia que acreditava ser descendente de uma raça de mulheres que se transformavam em grandes felinos quando emocionalmente excitadas. Nascia Sangue de Pantera, clássico em preto e branco dirigido por Jacques Tourneur que apresentou o que muitos consideram o primeiro jump scare do cinema.
Quatro décadas depois, o filme ganhou um remake: A Marca da Pantera, dirigido por Paul Schrader (Vivendo na Corda Bamba), que também reescreveu partes do roteiro revisionista de Alan Ormsby, e acrescentou uma reviravolta final ao filme. Vamos falar um pouco deste clássico da década de 1980, estrelado por Nastassja Kinski (Uma Filha Para o Diabo), Malcolm McDowell (Laranja Mecânica) e John Heard (Living Among Us).
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A filha de Klaus Kinski interpreta Irena Gallier, uma jovem de sorriso encantador que desembarca em Nova Orleans para reencontrar o irmão, Paul (McDowell), do qual foi separada após a morte dos pais, quando eram crianças. Durante um de seus passeios pela cidade, Irena vai parar em um zoológico, onde faz amizade com seu administrador, Oliver (Heard), e não demora para conseguir um emprego.
John Heard e Nastassja Kinski como Oliver e Irena no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
Para que a amizade entre Irena e Oliver se transforme em atração, é um pulinho só. Mas o relacionamento dos dois acaba fazendo com que nossa heroína descubra um segredo que mudará sua vida: graças a uma inconveniente maldição ancestral, sexo a transforma literalmente em uma pantera, e a única maneira de conseguir de volta suas formas femininas é bebendo sangue humano.
A premissa curiosa rende uma história envolvente e bem construída, repleta de situações interessantes e metáforas que, embora reflitam os pensamentos de sua época, acabaram ganhando um significado muito mais amplo com o passar dos anos. A jornada de horror e descobertas de Irena é registrada em cenários internos opressivos e em longas cenas externas embaladas pela bela música tema de David Bowie, e a não menos memorável trilha sonora de Giorgio Moroder.
Nastassja Kinski e Malcolm McDowell como Irena e Paul no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
O diretor escancara elementos que no original eram apenas sugeridos, como a violência e a sexualidade. Não necessariamente nessa ordem, e o fato de Irena passar boa parte do tempo de exibição do filme em uma camisola, semi-nua ou nua, é um bom indicativo disso. Mas embora o próprio diretor admita que seu remake "contém mais pele do que sangue", você pode esperar por algumas mortes horríveis, que ganham um realismo impressionante graças ao ótimo trabalho da equipe de efeitos práticos.
A magia dos efeitos especiais à moda antiga também está presente nas cenas de transformação. Não é nada tão elaborado quanto o que Rick Baker fez em Um Lobisomem Americano em Londres, referência da década de 1980 quando o assunto são humanos que se transformam em criaturas medonhas, mas o trabalho de maquiagem em A Marca da Pantera é suficientemente convincente para que o espectador compre a ideia de aquela mulher está realmente se tornando um animal.
Nastassja Kinski como Irena no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
O filme conta com outros recursos, simples mas criativos, que ajudam a criar ilusões interessantes. A cena em que o personagem Paul salta na cama como um felino, por exemplo, foi filmada com ele pulando da cama, andando para trás todo o caminho para fora do quarto, e descendo as escadas. O filme, então, foi invertido. Aparentemente, o mesmo recurso foi usado na cena em que ele faz um movimento brusco no chão e salta para a sacada de uma varanda, pouco antes de perseguir Irena.
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Originalmente, a protagonista seria interpretada por Bo Derek, atriz conhecida por filmes como Mulher Nota 10 (1979) e Tarzan, o Filho da Selva (1981). É difícil imaginar como A Marca da Pantera seria com ela, mas é ainda mais difícil imaginar o filme sem a presença de Nastassja Kinski. A atriz realmente parece ter entendido os conflitos da protagonista, e mesmo em forma humana, muda com uma naturalidade impressionante de garota inocente que gosta de desenhar animais no zoológico, para predadora implacável que vaga nua por florestas escuras, aterrorizando corujas e coelhos.
John Heard e Annette O'Toole como Oliver e Alice no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
McDowell dá seu costumeiro show como o irmão da moça-pantera, que guarda seus próprios segredos. Para não entregar spoilers, vamos dizer apenas que o Paul de McDowell espelha alguns interesses de seu personagem no polêmico Calígula, de 1979. Heard não está extraordinário, mas cumpre sua função como o interesse amoroso que irá despertar a fera adormecida em Irena. E Ruby Dee (As Mil Palavras) faz uma participação rápida, mas engraçada no papel de Female, a governanta que cuida da casa dos irmãos.
A Marca da Pantera ainda conta com a presença de Annette O'Toole, que 20 anos depois interpretaria Martha Kent na série Smallville. Ela está adorável como Alice, a peça que faltava para formar um quadrilátero amoroso que trará consequências assustadoras para todos. Falando em O'Toole, a cena que mostra sua personagem sendo aterrorizada na piscina é uma homenagem direta a um dos momentos mais famosos do filme original.
A atriz Nastassja Kinski como Irena no filme 'A Marca da Pantera', de Paul Schrader | ©Universal Pictures |
Pode-se dizer que a cena da piscina, o povo-gato e a ideia da mulher que se transforma em felino são os poucos elementos que Sangue de Pantera e A Marca da Pantera têm em comum, pois a história toma um rumo bem diferente. Geralmente gosto mais dos filmes originais, e torço o nariz sempre que um remake faz mudanças drásticas na história. Mas neste caso, minha paixão pela nova versão fala muito mais alto.
Nota: 8.5/10
Título original: Cat People.
Gênero: Fantasia, drama, terror, suspense
Produção: 1982.
Lançamento: 1982.
País: Estados Unidos.
Duração: 118 minutos.
Roteiro: DeWitt Bodeen, Alan Ormsby.
Direção: Paul Schrader.
Elenco: Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard, Annette O'Toole, Ruby Dee, Ed Begley Jr., Scott Paulin, Frankie Faison, Ron Diamond, Lynn Lowry, John Larroquette, Tessa Richarde, Patricia Perkins, Berry Berenson, Fausto Barajas.
A Marca da Pantera já nasceu cult e clássico, tudo junto e misturado e a razão de eu ter me apaixonado por Nastassja Kinski como atriz. Ela se entrega de corpo e alma nesta trama. Talento não lhe falta e rouba todas as cenas em que aparece. Merece ser visto e revisto. O restante do elenco merece o seu valor e não deixa por menos, tudo funciona maravilhosamente bem.
ResponderExcluirSANGUE DE PANTERA (1942) é um clássico e imortal! Um retorno ao cinema em preto e branco, que possui excelentes atores e atrizes cativantes e competentes. Não espere por efeitos especiais eles não existem nesta trama. Ao invés disso eles apelam para luzes e sombras e muito mistério. Consegue agradar e cumprir com maestria os apaixonados pela sétima arte. Um retorno as origens, ao passado e que vale a pena conferir. Simone Simon, Jane Randolph e Kent Smith se entregam de corpo e alma e merecem atenção e aplausos!
ResponderExcluirAlgumas curiosidades:
Sangue de Pantera foi a primeira produção de Val Lewton, que era um jornalista, romancista e poeta.
Lewton e sua produção são creditados por inventar ou popularizar a técnica de filme de terror chamada "Lewton Bus", em português "Ônibus do Lewton". O termo deriva da cena em que Irena está seguindo Alice. O público espera que Irena se transforme em uma pantera a qualquer momento e ataque. No ponto mais tenso, quando a câmera focaliza o rosto confuso e aterrorizado de Alice, o silêncio é quebrado por aquilo que soa como um rosnar de pantera, mas é apenas um ônibus encostando. Esta técnica tem sido usada muitas vezes até hoje. Qualquer cena em que a tensão é dissipada por um simples momento de sobressalto, um "boo!", é um 'Lewton Bus'.
DeWitt Bodeen escreveu o roteiro de Sangue de Pantera baseado no conto de Lewton "The Bagheeta" publicada em 1930.
A MALDIÇÃO DO SANGUE DA PANTERA (1944). Neste filme praticamente quase todo o elenco esta de volta. Continua o espetáculo de luz e sombras o que nos faz remeter ao passado dos filmes Noir. O visual costumava ter fortes influências da corrente cinematográfica conhecida como expressionismo alemão e da técnica de claro/escuro do pintor barroco Caravaggio (daí a escolha do termo “noir“, que significa "preto" em francês. No entanto, decepciona ao não trazer a maldição da pantera de volta na trama. Em 2010, O Movimento Arts Film Journal classificou A Maldição do Sangue de Pantera como 35° melhor filme de todos os tempos. Ann Carter ( Amy Reed) rouba todas as cenas em que aparece. Apesar de tudo é suave e encantador ao que se refere ao clima, figurino e locações. A Marca da Pantera é superior a toda trilogia, mas não apaga o deslumbre, charme e o hipnotismo dos filmes clássicos e nem nunca vai apagar.
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