Clancy Brown e Caitlin Custer contam histórias assustadoras em 'The Mortuary Collection', uma surpreendente antologia de terror do diretor e roteirista Ryan Spindell
O ator Clancy Brown como Montgomery Dark no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
Após realizar curtas-metragens e colaborar com a série Two Sentence Horror Stories, o diretor Ryan Spindell está estreando na direção de longas-metragens com The Mortuary Collection. E ele faz isso com o pé direito, entregando uma antologia de contos de terror impressionantemente horríveis e ao mesmo tempo insanamente divertidos.
O ótimo Clancy Brown (Pequeno Demônio) interpreta Montgomery Dark, figura enrugada e esquelética que dirige uma funerária localizada no topo de uma montanha em Raven's End, cidadezinha cercada por uma floresta sinistra e envolta por uma neblina que se recusa a desaparecer. A performance de Brown homenageia grandes astros do horror gótico do passado. Seu visual é uma carta de amor ao Tall Man, personagem interpretado por Angus Scrimm em Fantasma (1979).
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Montgomery não apenas mantém um arquivo de como as pessoas morreram, mas por que morreram. Esse detalhe deixa curiosa a jovem Sam (Caitlin Custer, da série Teen Wolf), que quer um emprego de ajudante na funerária que mais parece uma casa dos horrores, graças ao excelente trabalho da direção de arte. Sam pede que Montgomery conte algumas histórias assustadoras da cidade. É nesse momento que o filme assume o formato de antologia.
A atriz Christine Kilmer como Emma no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
A primeira história é ambientada nos anos 50. É sobre Emma (Christine Kilmer, da série Shameless), uma mulher que usa sua beleza para conquistar o coração de estranhos em uma festa e esvaziar seus bolsos no processo. Quando vai ao banheiro conferir os lucros da noite, ela acaba tendo uma surpresa, digamos, lovecraftiana.
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Esse conto tem apenas cinco minutos, o que não deixa espaço para desenvolvimento ou grandes reviravoltas. Mas o diretor usa esse tempo com competência. A mistura de CGI e efeitos práticos é convincente. Há uma certo suspense e uma morte bizarra. Kilmer faz um bom trabalho em seus poucos minutos na tela. Montgomery lembra que essa história é apenas um aquecimento. Ele não está mentindo, já que as coisas ficam cada vez mais pesadas e sangrentas.
A atriz Ema Horvath como Sandra no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
O segundo conto leva a política de sexo e gênero contemporânea para os anos 60. Jake (Jacob Elori, de A Barraca do Beijo) é um playboy que faz declarações falsas sobre liberdade sexual e empoderamento feminino para seduzir calouras em uma fraternidade. Ele cresce os olhos para cima da tímida estudante Sandra (Ema Horvath, de Eu compartilho. Eu gosto. Eu sigo.), e nem imagina que pagará um preço alto por sua arrogância.
Esse é o segmento mais divertido de todos. Está repleto de momentos memoráveis, como a homenagem a Jake, e a maratona sexual de sete horas, resumida em uma montagem hilária de poucos segundos. O conto também é o mais indigesto. Será particularmente horripilante para o público masculino. Mas acredito que ninguém vai ficar indiferente diante das cenas de body horror, bem à moda antiga, que se intensificam conforme a história avança.
O ator Barak Hardley como Wendell no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
O terceiro conto nos leva para os anos 70 para acompanhar a história trágica do casal Wendell e Carol Owens (Barak Hardley, de Caçadores de Recompensa, e Sarah Hay, de Braid). O segmento começa mostrando seu casamento e avança para os últimos dias de Carol, que está lutando contra uma doença fatal. Para evitar spoilers, vamos dizer que Wendell toma uma decisão horrível, e suas consequências serão assustadoras.
Esse é o segmento mais triste da antologia, e também o mais perturbador. Cada cena parece ter sido projetada para causar desconforto. As coisas ficam ainda mais estranhas quando as consequências dos atos de Wendell começam a ganhar uma fina camada de humor-negro. Destaque para a cena do elevador, que é literalmente um banho de sangue invertido, e para os minutos finais, horríveis e estranhamente comoventes.
A atriz Caitlin Custer no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
Algo curioso nesta antologia é que o diretor e roteirista parece ter consciência de seus erros e acertos. No final de cada conto, Sam dá sua opinião sobre o que funcionou ou não. Insatisfeita porque as histórias de Montgomery sempre terminam com o mal sendo punido, ela decide contar a última história — uma adaptação de The Babysitter Murders, curta-metragem que Spindell dirigiu e a própria Caitlin Custer estrelou em 2015.
No conto, uma jovem babá cuida de uma criança em uma noite de tempestade e é surpreendida pela chegada de um paciente que acabou de fugir de um hospital psiquiátrico. O espectador também ficará surpreso no final. Mas antes disso, vai acompanhar um confronto violento, com direito a dedos moídos e crânios esmagados. O ritmo ágil, as cenas de violência, a sensação de perigo constante e a reviravolta final fazem desse o melhor segmento da antologia.
Caitlin Custer e Clancy Brown como Sam e Montgomery Dark no filme 'The Mortuary Collection', de Ryan Spindell |
Mas o diretor ainda reserva algumas surpresas para o público. A história de Sam e Montgomery na funerária acaba gerando um conto de terror à parte, fechando o filme com chave de ouro. The Mortuary Collection é uma das melhores antologias de terror que eu já assisti. Em uma comparação simples, é tudo que Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro poderia ter sido se não fosse limitado pela classificação indicativa PG-13. Se vai virar um clássico nos próximos anos, eu não sei. Mas merece.
Nota: 8.7/10
Título original: The Mortuary Collection.
Gênero: Terror, fantasia.
Produção: 2019.
Lançamento: 2020.
País: Estados Unidos.
Duração: 1 h 48 min.
Roteiro: Ryan Spindell.
Direção: Ryan Spindell.
Elenco: Clancy Brown, Caitlin Custer, Tristan Byon, Eden Campbell, Hannah R. Loyd, Christine Kilmer, Mike C. Nelson, Jacob Elordi, Brennan Murray, Michael Bow, Ema Horvath, Ethan Clossin, Anthony Farrington, Darryl Love, Clavacia Smith, James Bachman, Jennifer Irwin, Sarah Hay, Barak Hardley, Darrell Salk, Phyllis Applegate, David Fierro, Fernanda Romero, V Nixie, Marissa Rivera, Tom Woodruff Jr., Josephine McAdam, Kayli Hernandez, Sam Eidson, Jeff Whitaker, Bradley Bundlie, Jamie Reay, Kirk C. Johnson, DeMorge Brown, Joe Hartzler, Ben Hethcoat, Alison Gallaher.
Agradável e inesperada surpresa, neste ano de pandemia, aonde pouca coisa, a sétima arte- o cinema, produza este resultado! O primeiro conto Emma (Christine Kilmer) é uma obra de arte impecável e apesar de simples, é assustadora e faz sempre parte do universo da nossa mente. Impecável no figurino anos 50 e delicioso a cada segundo! Parece que o telespectador está dentro de uma pintura, de um quadro inigualável e pintado a mão e muito bem pintado pelo mais habilidoso artista de forma carinhosa e amorosa, um estandarte de ouro. No segundo conto fiquei com pena daquele playboy apesar de tudo, porém não consegui desgrudar o olho da tela. É nojeira atrás de nojeira, um conto que traduz a realidade na versão invertida. A maratona sexual esta sim, pode se traduzir como realmente divertida e utopia necessária para os jovens, sejam do sexo masculino ou feminino. O terceiro conto não é nada inferior aos anteriores. Sim, perturbador! Um cara de muita muita pouca sorte e que decidi, equivocadamente, resolver os problemas da forma mais nefasta ou fúnebre possível, o termo que acharem mais apropriado, apesar de que todos caminham na mesma direção. A cena do elevador é de causar arrepio ao mais frio e indiferente, e levanta todos os fios do corpo; todos mesmos sem exceção, somados aos calafrios, e conseguiu me levantar da poltrona e tomar um bom e enorme copo de água gelado com açúcar. Cena por cena é horror atrás de horror a moda antiga e tradicional, fórmula simples e batida pelos anos, porém sempre surpreendente e de não insignificante valor. O melhor, como não poderia, ficou realmente por último e mostra que as aparências enganam, e que o tom doce e suave e beleza nunca foram documento. A violência corre solta e sem censura, e parece que ouvimos o som de crânios e ossos sendo esmagados. Vale pela indicação e vale pelo que representa na quebra de paradigmas destas super produções milhonárias ou baratas que caem na mesmice de sempre, que não quebram nenhuma barreira e tão pouco surpreendem o telespectador. Já nasceu clássico!! Policarpo adorouuu!!
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