Crítica | Um Clássico Filme de Terror (A Classic Horror Story, 2021)

Cinco estranhos acordam em um pesadelo no novo filme de terror da Netflix; Matilda Lutz estrela o longa, dirigido por Roberto De Feo e Paolo Strippoli


Matilda Anna Ingrid Lutz em imagem de 'Um Clássico Filme de Terror', de Roberto De Feo e Paolo Strippoli | ©Netflix


Quando nos deparamos com um filme batizado de Um Clássico Filme de Terror, é natural que nossas expectativas fiquem altas. Como expectativas altas quase sempre terminam em decepção, tratei de baixar as minhas antes de assisti-lo. E, ainda assim, me decepcionei. O longa italiano de Roberto De Feo e Paolo Strippoli, lançado esta semana na Netflix, com certeza tem bastante estilo e uma premissa cheia de possibilidades, mas acaba se perdendo, principalmente a partir de seu plot twist no mínimo duvidoso.

A cena de abertura evoca tanto a O Massacre da Serra Elétrica quanto a Terror em Silent Hill. Essas duas obras voltam a receber homenagens no decorrer do filme, primeiro com a câmera acompanhando o veículo que transporta os protagonistas bem no estilo do clássico de Tobe Hooper, e depois com uma sirene que, assim como na adaptação cinematográfica dos games de terror da Konami, anuncia que as coisas vão ficar ruins.


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Antes das coisas ficarem ruins, somos apresentados à jovem Elisa, interpretada por Matilda Anna Ingrid Lutz, a mesma que fez Jen no delicioso Vingança, de Coralie Fargeat. Elisa está vomitando e, como sabemos, toda mulher que vomita no início de um filme de terror está automaticamente grávida. Essa informação se confirma em um diálogo por celular entre Elisa e sua mãe, que também revela um pouco sobre a personalidade da protagonista.

Imagem de 'Um Clássico Filme de Terror', de Roberto De Feo e Paolo Strippoli | ©Loris T. Zambelli


Nossa heroína embarca em uma viagem pelo interior da Itália, em uma carona compartilhada com quatro estranhos. Temos a loira simpática Sofia (Yuliia Sobol, de Desafio de um Campeão) e seu irresponsável namorado inglês Mark (Will Merrick, da série Skins); um médico mal-humorado chamado Riccardo (Peppino Mazzotta, de Perdoai as Nossas Dívidas); e um rapaz chamado Fabrizio (Francesco Russo, de Classe Z), que ama filmes de terror e está fazendo vídeos da viagem para seu blog.


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Depois de algumas conversas e garrafas de bebida, o motorista perde o controle e bate na árvore mais próxima (se beber, não dirija). Nesse momento já podemos dizer que a situação está ruim. Mas a coisa piora quando eles acordam e percebem que não estão mais na pista, e sim no meio de uma clareira cercada por uma floresta assustadora. E eles não estão sozinhos.

Yuliia Sobol e Will Merrick em imagem de 'Um Clássico Filme de Terror', de Roberto De Feo e Paolo Strippoli | ©Netflix


Mesmo com essa premissa básica (ou talvez justamente por isso), o filme se sustenta bem em sua primeira metade. Os diretores brincam com clichês como o celular que não funciona, a descoberta de indícios de rituais e, é claro, a disposição dos personagens em tomar decisões questionáveis como entrar em cabanas horripilantes que surgiram do nada. Ou, no caso de Sofia e Elisa, em retornar sozinhas à cabana horripilante, no meio da noite, enquanto os outros tiram um cochilo.

A fotografia em tons de sépia, a trilha sonora eficaz e o mistério crescente garantem a atmosfera apropriada para um filme de terror à moda antiga. Temos até alguns efeitos práticos sangrentos e muito bem elaborados. É uma pena que quando a ameaça se revela, os personagens não contribuem para a imersão. Todos parecem sofrer de uma incapacidade crônica de reagir a situações de perigo, e apenas ficam parados enquanto os outros morrem. Essa passividade também se estende à final girl, que só toma uma atitude nos minutos finais e, ainda assim, de maneira bem morna.

Imagem de 'Um Clássico Filme de Terror', de Roberto De Feo e Paolo Strippoli | ©Loris T. Zambelli


O filme sai dos trilhos depois de um plot twist, que joga para o alto toda a mitologia pré-estabelecida para mergulhar em um exercício de metalinguagem que propõe reflexões sobre a indústria cinematográfica italiana. As referências a filmes de terror continuam, e algumas até se equilibram perigosamente naquela linha fina que separa a homenagem da apropriação. Mas a sensação que tive foi de que os diretores estavam menos interessados em se comunicar com seu suposto público alvo, e mais em acenar para o cinema de arte e para fãs do pós-terror.

É provável que muitos estejam dispostos a mergulhar nas camadas do filme e refletir sobre suas mensagens. Mas não é o meu caso.

Nota: 4/10

Título original: A Classic Horror Story.
Gênero: Terror, mistério.
Produção: 2021.
Lançamento: 2021.
País: Itália.
Duração: 1h 35min.
Roteiro: Lucio Besana, Roberto De Feo, Paolo Strippoli, Milo Tissone, David Bellini.
Direção: Roberto De Feo, Paolo Strippoli.
Elenco: Matilda Anna Ingrid Lutz, Francesco Russo, Peppino Mazzotta, Will Merrick, Yuliia Sobol, Alida Baldari Calabria, Cristina Donadio, Francesca Cavallin, Justin Korovkin, Giuseppe Russo.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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