Crítica | Na Mente do Demônio (Demonic, 2021)

Mãe e filha enfrentam demônios metafóricos e outro muito real em 'Na Mente do Demônio'; híbrido de terror e ficção científica é dirigido por Neill Blomkamp


na-mente-do-demonio-imagem-14
A atriz Carly Pope em imagem do filme 'Na Mente do Demônio', de Neill Blomkamp


Filmar durante a pandemia se revelou um trabalho complicado, mas muitos diretores aceitaram o desafio. Alguns contornaram as limitações com bastante criatividade e entregaram delícias como Cuidado Com Quem Chama, escolhido pela Sangue Tipo B como o melhor filme de terror de 2020. Outros não se saíram tão bem, e o resultado foram obras de qualidade duvidosa como Na Mente do Demônio, lançado recentemente nos Estados Unidos através da IFC Midnight.

Curiosamente, Na Mente do Demônio tem assinatura de um cineasta que se mostrou criativo no passado: Neill Blomkamp, o mesmo realizador do elogiado Distrito 9. A exemplo de seus trabalhos anteriores (sua filmografia também inclui Elysium e Chappie), Na Mente do Demônio tem muitos elementos de ficção científica. Só que dessa vez a pegada é mais voltada para o terror. Algo como um encontro de O Exorcista, Black Mirror e Assassins Creed. Sem as cenas medonhas do primeiro, a profundidade do segundo, e os gráficos de última geração do terceiro.

na-mente-do-demonio-imagem-04
O ator Michael J Rogers em imagem do filme 'Na Mente do Demônio', de Neill Blomkamp


Carly (Carly Pope, de Três Louras Contra a Máfia) é uma mulher de meia-idade que aceita participar de um projeto de realidade virtual que permitirá que se comunique com a mãe em coma. O passeio pelo mundo dos sonhos (uma representação das memórias de sua mãe) revela uma desavença familiar de décadas. As duas terão que lidar com seus demônios interiores. E com outro, que parece muito real.


PUBLICIDADE


Durante a jornada, a protagonista visita paisagens despovoadas, laboratórios de alta tecnologia e florestas pouco iluminadas. As cenas no ambiente virtual são intencionalmente imperfeitas, com uma renderização incompleta que deixa o mundo com a aparência de uma pintura em movimento. O roteiro do próprio Blomkamp entrega uma boa quantidade de mistérios, e esses elementos somados me mantiveram interessado na história por algum tempo.

na-mente-do-demonio-imagem-13
Imagem do filme 'Na Mente do Demônio', de Neill Blomkamp


Já a resolução dos mistérios não é tão empolgante quanto a premissa. A maioria das respostas chega através de diálogos expositivos. No final, fica claro que os personagens não tinham razão para ser tão misteriosos assim. Nem tão robóticos. Mas não dá para reclamar muito deles, já que a própria protagonista também tem dificuldades para expressar suas emoções.


PUBLICIDADE


Os conceitos e idéias sobre tecnologia acabam não levando a lugar nenhum, o que faz com que o filme fique devendo como ficão científica. Ele também é fraco como terror, principalmente porque seu "vilão" não é uma ameaça tão grande quanto os diálogos prometiam. Bem, na verdade ele é, mas o diretor parece hesitante em se aprofundar nele. Sempre que o filme ameaça ficar assustador, Blomkamp corta a cena e volta a focar no drama dos personagens sem emoção.

na-mente-do-demonio-imagem-03
O ator Chris William Martin em imagem do filme 'Na Mente do Demônio', de Neill Blomkamp


Confrontos potencialmente divertidos acontecem fora da tela. A única cena de terror que gera uma certa tensão acaba se revelando um pesadelo. Quando o filme acabou, fui invadido pela mesma sensação que tive ao assistir longas recentes como The Silence, A Nuvem e Blood Conscious: a de que havia um bom filme de terror escondido em algum lugar por aqui, mas o diretor só permitiu que o público assistisse às partes chatas dele.

Nota: 3.7/10

Título original: Demonic.
Gênero: Terror, ficção científica, drama.
Produção: 2021.
Lançamento: 2021.
País: Canadá.
Duração: 1h 44min.
Roteiro: Neill Blomkamp.
Direção: Neill Blomkamp.
Elenco: Carly Pope, Chris William Martin, Michael J Rogers, Nathalie Boltt, Terry Chen, Kandyse McClure, Jason Tremblay, Quinton Boisclair, Derek Versteeg, Christopher Wardrop, Andrea Agur.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

Postar um comentário

Antes de serem publicados, os comentários serão revisados.

Postagem Anterior Próxima Postagem