Crítica | Censor (2021)

Niamh Algar mergulha no universo dos video nasties em 'Censor', o surpreendente filme de estreia da diretora Prano Bailey-Bond


A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor'
A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor', de Prano Bailey-Bond | ©Kinostar


Censor, o impressionante longa-metragem de estreia da diretora galesa Prano Bailey-Bond, nos leva para o ano de 1985, no auge do videocassete. É uma data importante, pois um ano antes a British Board of Film Classification, orgão responsável pela classificação indicativa dos filmes nos cinemas do Reino Unido, havia iniciado uma verdadeira caça às bruxas aos video nasties — filmes de baixíssimo orçamento, com conteúdo violento, que chegavam sem controle às videolocadoras.

Enid, a personagem central interpretada por Niamh Algar (From the Dark), é funcionária desse orgão. Basicamente, seu trabalho é passar os dias em uma sala esfumaçada sem janelas, assistindo filmes violentos, anotando em um caderno cada detalhe dos horrores que observa na tela, para depois determinar quais pedaços precisam ser podados para tornar as obras adequadas para os jovens da Inglaterra de Thatcher.


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Desde os primeiros minutos, fica claro que Enid leva seu trabalho muito a sério, e realmente acredita que, com seu sacrifício, está protegendo os jovens da influência maligna dos vídeos desagradáveis. Sua cruzada para tornar o mundo melhor fica ainda mais intensa após um homem cometer um crime horrível, supostamente influenciado por um dos filmes que ela não censurou.

A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor'
A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor', de Prano Bailey-Bond | ©Kinostar


Mas embora fique chocada com muito do que vê nas fitas, Enid se sente estranhamente atraída por um título em particular: 'Don't Go in the Church', do diretor cult Frederick North (Adrian Schiller, de A Cura). O video nastie revive lembranças reprimidas de seu passado. Conforme a repulsa e o fascínio iniciam uma batalha silenciosa, a linha que separa a ficção da realidade começa a desaparecer.


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A jornada obsessiva de Enid em direção ao mundo violentos dos filmes que assiste é marcada por uma trilha sonora pulsante e muitas metáforas visuais. A diretora brinca com cores que reverenciam o giallo e clássicos slashers. Há frequentes mudanças no formato de tela, um recurso que também serve como referência para que o público se situe entre o que é real e o que é ilusão no filme.

A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor'
A atriz Niamh Algar como Enid no filme 'Censor', de Prano Bailey-Bond | ©Kinostar


Censor tem suas raízes no curta-metragem Nasty, que a própria Bailey-Bond dirigiu em 2015. Mas os fãs do gênero também vão notar ecos de outros filmes, que vão de O Corretor (1991), de Atom Egoyan, a Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1983), de David Cronenberg, em especial em sua metade final, quando a diretora começa a inverter clichês sobre os efeitos danosos do terror, e a realidade sombria passa a caminhar de mãos dadas com a fantasia bizarra.

Algar entrega uma performance sólida, transmitindo as mudanças físicas e emocionais da protagonista de maneira sutil e convincente. Também gostei do trabalho de Michael Smiley (A Freira), que interpreta o produtor Doug Smart. Gostaria que a diretora abraçasse mais o gore, o que combinaria bem com parte dos temas discutidos em seu filme. Mas mesmo com a abordagem contida, fiquei surpreso com o resultado geral. Inclusive com a cena final, que provavelmente vai dividir o público.

Nota: 7/10

Título original: Censor.
Gênero: Mistério, terror.
Produção: 2021.
Lançamento: 2021.
País: Reino Unido.
Duração: 1h 24m.
Roteiro: Prano Bailey-Bond, Anthony Fletcher.
Direção: Prano Bailey-Bond.
Elenco: Niamh Algar, Michael Smiley, Nicholas Burns, Vincent Franklin, Sophia La Porta, Adrian Schiller, Clare Holman, Andrew Havill, Felicity Montagu, Danny Lee Wynter, Clare Perkins, Guillaume Delaunay, Richard Glover, Erin Shanagher, Beau Gadsdon, Amelie Child Villiers, Matthew Earley, Ric Renton, Bo Bragason, Amelia Craighill, Madeleine Hutchins, Robert Vernon.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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