Crítica | The Sadness (Ku bei, 2021)

Casal tenta sobreviver a pandemia mortal em 'The Sadness', terror impiedoso e ultra-violento do diretor Rob Jabbaz


Imagem do filme 'The Sadness'
Imagem do filme 'The Sadness', de Rob Jabbaz | ©Capelight Pictures/Central


Um jovem casal precisa lutar para sobreviver a uma pandemia que transforma os infectados em sádicos enlouquecidos e sanguinários em The Sadness, um filme de terror taiwanês impiedoso e ultra-violento dirigido pelo canadense Rob Jabbaz. The Sadness é o longa-metragem de estreia de Jabbaz, que também assina o roteiro. Os protagonistas são interpretados por Berant Zhu (We Are Champions) e Regina Lei, em sua estreia no cinema.

O filme começa um ano após Taiwan lidar com uma pandemia com sintomas relativamente leves. Tanto que a população baixou a guarda, e o assunto agora rende apenas discussões entre pessoas comuns e debates de médicos na TV. Alguns consideram a pandemia um golpe político. Outros a descartaram como uma simples gripe. Mas ainda existem cientistas preocupados com o potencial de mutação do vírus.


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Como logo descobrimos, o terceiro grupo está certo. Uma mutação espontânea dá origem a uma praga que altera a mente de suas vítimas, remove suas inibições e integridade moral, além de potencializar seus instintos mais cruéis. O vírus é semelhante ao que causa a raiva, como um médico lembra a certa altura. Mas a capacidade de fazer suas vítimas cometerem atos sádicos com um sorriso no rosto o torna algo completamente novo.

O ator Berant Zhu como Jim no filme 'The Sadness'
O ator Berant Zhu como Jim no filme 'The Sadness', de Rob Jabbaz | ©Capelight Pictures/Central


Não que o conceito da doença que desperta instintos sombrios no ser humano seja original. A HQ Crossed, de Garth Ennis, trata justamente disso, e há outros exemplos no próprio cinema de terror. Em O Exército do Extermínio (1973), mais tarde refilmado com o título de A Epidemia, George A. Romero mostrou os efeitos de um vírus que causa insanidade permanente nos infectados. Em 1975, David Cronenberg entregou Calafrios, sobre um parasita que transforma os residentes de um condomínio em loucos sedentos por sexo. Mais recentemente, em 2017, Joe Lynch entregou Um Dia de Caos, sobre outro vírus que afeta as mentes dos funcionários de um prédio.


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The Sadness tem um pouco de tudo citado no parágrafo acima. Também tem sangue, tortura e perversão quase em tempo integral, e tanto os efeitos práticos quanto a maquiagem são impecáveis. Não é nada que vá impressionar os fãs de um Fulci, por exemplo. Mas se você não tem uma certa bagagem com o cinema de terror, fica o alerta de que existe uma boa chance deste filme deixá-lo chocado. O diretor inclusive revelou que a Netflix rejeitou a oferta de comprar os direitos de exibição de The Sadness, por considerá-lo violento demais para seu catálogo.

Regina Lei e Tzu-Chiang Wang como Kat e "o homem de negócios" no filme 'The Sadness'
Regina Lei e Tzu-Chiang Wang como Kat e "o homem de negócios" no filme 'The Sadness', de Rob Jabbaz | ©Capelight Pictures/Central


Acompanhamos os eventos de The Sadness através dos olhos do casal Jim (Zhu) e Kat (Lei), que tentam se reencontrar no meio do caos. Ao lado de Jim, observamos a brutalidade que toma conta das ruas conforme o vírus se espalha sem controle. Ao lado de Kat, acompanhamos uma perseguição implacável que nos leva a um hospital, o que me fez lembrar imediatamente do delicioso UTI Zumbi (2019), de Lars Damoiseaux, meu filme favorito de mortos-vivos dos últimos anos.

Mas o hospital é apenas um dos muitos cenários apresentados em The Sadness. Minha cena favorita, por exemplo, acontece em um vagão de metrô, onde temos um banho de sangue digno de O Último Trem (2008), de Ryûhei Kitamura. Também merece destaque a coletiva de imprensa do governo, que termina de maneira literalmente explosiva, numa clara homenagem a Scanners: Sua Mente Pode Destruir (1981), outro clássico do mestre Cronenberg.

Imagem do filme 'The Sadness'
Imagem do filme 'The Sadness', de Rob Jabbaz | ©Capelight Pictures/Central


O pesadelo pandêmico de Rob Jabbaz perde bastante o fôlego conforme se aproxima do ato final, marcado por diversas facilitações do roteiro e por uma dose de drama pouco funcional. A mudança de foco, do ótimo vilão previamente estabelecido para uma ameaça mais "humana", também não me agradou muito. Ainda assim, o impacto gráfico continua forte, e quem gosta de cinema extremo vai encontrar um bom filme aqui.

Nota: 7/10

Título Original: Ku bei / The Sadness.
Gênero: Terror.
Produção: 2021.
Lançamento: 2021.
País: Taiwan.
Duração: 1 h 39 min.
Roteiro: Rob Jabbaz.
Direção: Rob Jabbaz.
Elenco: Berant Zhu, Regina Lei, Ying-Ru Chen, Tzu-Chiang Wang, Emerson Tsai, Wei-Hua Lan, Ralf Chiu, Chi-Min Chou, Lue-Keng Huang.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

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  1. Aquela cena quase no final, no hospital, com a menina na cadeira de rodas e sem conseguir revidar e aquele velho desgraçado se aproximando dela me deu todo tipo de sentimento ruim possível, alugou um triplex na minha mente pelos próximos 10 anos

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