Crítica | Morte, Morte, Morte (Bodies Bodies Bodies, 2022)

Halina Reijn dirige 'Morte, Morte, Morte', híbrido matador de humor-negro e mistério da A24


Arte do filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24
Arte do filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24


A primeira coisa que você precisa saber é que Bodies Bodies Bodies, filme da A24 lançado esta semana nos cinemas nacionais com o título de Morte, Morte, Morte, não é um slasher. A sinopse e o material promocional apontavam para esse caminho, e a Sangue Tipo B inclusive chegou a classificá-lo assim. Mas a verdade é que o filme dirigido pela holandesa Halina Reijn (Operação Valquíria) tem muito pouco do subgênero dos assassinos mascarados, e assisti-lo com a expectativa errada pode prejudicar sua experiência.

Acredito que parte da confusão quanto ao gênero de Morte, Morte, Morte vem do fato de que quando Kristen Roupenian (Cat Person) escreveu o roteiro, sua intenção era mesmo entregar um filme de terror tradicional, sobre um grupo de jovens perseguidos por um assassino misterioso durante uma tempestade de neve. O roteiro foi fortemente reescrito pela estreante Sarah DeLappe, e o produto final acabou tendo pouca semelhança com a ideia original.

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Assista sabendo o que vai encontrar (ou, neste caso, não vai) e é muito provável que você se divirta com essa crítica ácida à Geração Z, que coloca sete jovens ricos, na faixa dos 20 e poucos anos, investigando um mistério à la Agatha Christie. O cenário para a maioria das cenas, claro, é uma mansão remota, local perfeito para reunir os amigos de longa data e festejar durante a passagem de um furacão.

Amandla Stenberg e Maria Bakalova como Sophie e Bee no filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24
Amandla Stenberg e Maria Bakalova como Sophie e Bee no filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24


Viajamos para a mansão na companhia de Sophie (Amandla Stenberg, de O Ódio que Você Semeia), que está doida para apresentar aos amigos sua nova namorada, uma garota do leste europeu chamada Bee (Maria Bakalova, de Fita de Cinema Seguinte de Borat). Única pessoa que aparentemente não está se afogando em privilégios, Bee é a mais tímida do grupo, e seu silêncio faz dela um grande (mas não o único) ponto de interrogação nessa história.

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Logo conhecemos a aparentemente enciumada ex-namorada de Sophie, Jordan (Myha'la Herrold, de Plano B), o deliciosamente insuportável dono da mansão, David (Pete Davidson, de O Plano Imperfeito), e sua namorada atriz, Emma (Chase Sui Wonders, de Daniel Isn't Real), que acha que todos estão apaixonados por ela. Também somos apresentados à podcaster Alice (Rachel Sennott, de Shiva Baby) e seu namorado muito mais velho que ela, Greg (Lee Pace, de Sombras de um Desejo), que domina como poucos a fina arte de abrir champanhe com um facão.

Após a primeira noite de farra e os primeiros indícios de que as amizades podem não ser tão fortes quanto aparentavam, os jovens decidem jogar o jogo que dá título ao filme: uma variação da brincadeira de detetive, onde os jogadores se esbofeteiam e correm em um quarto escuro enquanto o assassino os "mata" através do toque, esperando não ser identificado. A brincadeira vai muito bem, até que eles descobrem que um dos amigos foi assassinado de verdade.

Imagem do filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24
Imagem do filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24


A noite infernal destes jovens altamente neuróticos é embalada por músicas pulsantes e uma trilha sonora que favorece a tensão. As cenas externas apresentam um visual ameaçador, em boa parte graças à tempestade que parece durar a noite inteira. As cenas internas têm uma escuridão faminta, iluminada apenas por colares e pulseiras luminosas e lanternas de iPhone. Mesmo não sendo um slasher, você pode esperar por alguns corpos espalhados pelo chão, e os efeitos práticos não decepcionam.

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Todo o elenco entrega atuações sólidas, com destaque para a atriz Rachel Sennott. Ela está hilária como a podcaster que persegue as últimas tendências e desafios do TikTok, e calcula cada frase para não soar ofensiva. Sua Alice é uma caricatura com aspectos tanto atraentes quanto moralmente suspeitos do influencer da Geração Z, e não pude deixar de pensar o quanto seria divertido acompanhar um debate vazio entre ela e Deidre, a influenciadora de língua afiada interpretada por Lucy Martin no surpreendente body horror The Seed.

Amandla Stenberg, Maria Bakalova, Chase Sui Wonders e Rachel Sennott como Sophie, Bee, Emma e Alice no filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24
Amandla Stenberg, Maria Bakalova, Chase Sui Wonders e Rachel Sennott como Sophie, Bee, Emma e Alice no filme 'Morte, Morte, Morte', de Halina Reijn | Foto: ©A24


À medida que sangue e segredos começam a vazar, o caos desencadeia uma crise de egos que explode em acusações e traições. E, é claro, em palavras-chave puxadas do Twitter e hilariamente subvertidas para se adaptar às necessidades de cada um. De maneira sempre muito bem humorada, a diretora e sua roteirista aproveitam para discutir assuntos como gaslighting, cultura do cancelamento, a hipocrisia de reconhecer questões sociais sem implementar mudanças, e a tendência atual de problematizar assuntos cuja solução, no fim das contas, é mais simples do que imaginávamos.

Uma ligeira queda de ritmo na metade final não chega a comprometer a diversão. Já a revelação final pode tanto frustrar quanto provocar uma crise de risos. De um jeito ou de outro, não dá para negar que o final combina perfeitamente com a mensagem do filme.

Nota: 6.5/10

Título Original: Bodies Bodies Bodies.
Gênero: Mistério, suspense, comédia, terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 34 min.
História: Kristen Roupenian.
Roteiro: Sarah DeLappe.
Direção: Halina Reijn.
Elenco: Amandla Stenberg, Maria Bakalova, Rachel Sennott, Chase Sui Wonders, Pete Davidson, Myha'la Herrold, Lee Pace, Conner O'Malley.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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