Crítica | Na Mente de um Assassino em Série (A Wounded Fawn, 2022)

Um fim de semana romântico vira um pesadelo surreal em 'Na Mente de um Assassino em Série', filme de terror do diretor Travis Stevens estrelado por Josh Ruben e Sarah Lind


Imagem do filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse
Imagem do filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse


Novo trabalho do cineasta Travis Stevens, Na Mente de um Assassino em Série abre com uma cena maravilhosamente bem montada, onde damas e cavalheiros disputam com lances altos a 'Ira das Erínias', escultura muito antiga representando as três Fúrias da mitologia grega, Tisífone, Megera e Alecto, deusas responsáveis por punir aqueles que causam o mal. Como se espera da cena de abertura de um filme de terror, seu desfecho é assustador.

Antes das coisas voltarem a ficar assustadoras, seremos apresentados e passaremos um tempo com uma carismática curadora de museu chamada Meredith (Sarah Lind, de Lobocop). Diálogos inseridos de maneira muito natural revelam que ela rompeu um relacionamento de três anos com um companheiro abusivo. Meredith ainda carrega cicatrizes emocionais, mas não perdeu a fé nos homens e está otimista com a possibilidade de encontrar alguém que a faça feliz.


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Nossa protagonista encantadora inclusive tem um encontro marcado com um cara aparentemente legal chamado Bruce (Josh Ruben, de Plano B). Novamente, como se espera de um filme de terror, o casal planeja passar alguns dias em uma casa no meio de uma floresta. Nem é preciso dizer que o passeio vai terminar muito mal. E como desta vez as coisas acontecem de uma forma diferente do habitual, recomendo que você não assista ao trailer, que contém algumas imagens que podem ser classificadas como spoilers.

Josh Ruben como Bruce no filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse
Josh Ruben como Bruce no filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse


Quem assistiu ao bizarro filme de casa assombrada Garota do Terceiro Andar e a comédia sombria A Monstra - Sede de Sangue, sabe que Travis Stevens é um contador bastante versátil de histórias de terror. Em Na Mente de um Assassino em Série ele dá um passo à frente, entregando o filme narrativamente mais ambicioso de sua carreira. O visual arrebatador também chama a atenção nesta história de serial killer complexa e imaginativa, que celebra a arte, a beleza e a mitologia com uma fúria implacável.


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A inspiração são os filmes do cinema grindhouse dos anos 70, com toda sua audácia, tela granulada e sangue falso à base de tinta vermelha aguada. O visual ganha o reforço de cores vivas, porque não dá para brincar com a estética setentista sem fazer um aceno a Dario Argento. Como em A Bruxa do Amor e O Quarto Secreto, a presença de tecnologia moderna em um universo que emana charme vintage resulta em um clima atemporal irresistível. O ótimo elenco contribui para tornar a experiência ainda mais gratificante.

Josh Ruben e Sarah Lind como Bruce e Meredith no filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse
Josh Ruben e Sarah Lind como Bruce e Meredith no filme 'Na Mente de um Assassino em Série', de Travis Stevens. Foto: ©BarBHouse


Em sua primeira metade, o filme se desenrola como um suspense não particularmente inovador, mas tenso e inteligente o suficiente para manter o espectador esperando pelo que acontecerá na cena seguinte. Perto do último ato, Na Mente de um Assassino em Série segue por um caminho diferente, estabelecendo-se como um thriller de vingança horrivelmente violento e sangrento. Infelizmente, o filme também se torna febrilmente psicodélico, em um nível que beira e às vezes até ultrapassa a fronteira do surrealismo.


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Na Mente de um Assassino em Série deve agradar quem ama filmes repletos de simbolismo oculto. Fãs do terror europeu à moda antiga com uma leve pegada de thriller psicossexual também terão uma cota alta de diversão. Mas acredito que as decisões tomadas pelo diretor para finalizar esta história sobre demônios que podem ser reais ou metafóricos, dependendo da interpretação de cada um, devem dividir opiniões em ambos os grupos.

Nota: 6/10

Título Original: A Wounded Fawn.
Gênero: Terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
Roteiro: Nathan Faudree, Travis Stevens.
Direção: Travis Stevens.
Elenco: Sarah Lind, Josh Ruben, Malin Barr, Katie Kuang, Laksmi Priyah Hedemark, Tanya Everett, Marshall Taylor, Neal Mayer, Nikki James, Leandro Taub.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

3 Comentários

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  1. Honestamente, esse foi, sem a menor sombra de dúvida, o pior filme que assisti na minha vida.

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  2. Sim, o filme começa com os clichês de suspense e revela logo o serial killer, mas e daí? Clichês são bem-vindos também, o fantástico que nos segue ancestralmente é estrutural à ficção. E esse é o problema do filme Wounded Fawn... ele sai rapidamente do clichê e parte para um surrealismo que descontextualiza tudo e não há mais espaço para o racional nem mesmo para uma associação simbólica mítica. Sim, passa uma ideia de vingança... mas o processo dessa vingança é impossível para uma realidade plausível, porque mesmo que o vilão esteja sob efeito de LSD ou um caso extremo de esquizofrenia ou seja lá o que o diretor quis inserir como elemento causador do transtorno psicodélico e psicopático, a descontextualização da mudança de ação das personagens impossibilita o plausível. Melhor que fosse um clichê no qual a gente torce que a mocinha indefesa saia ferida como um cervo que lutou até se desvencilhar das garras de uma leoa... com tudo: sirene de carro de polícia detetive, as amigas chegando e pegando na mão da mocinha já em cima de uma maca.

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  3. Filme claramente defendido somente por aqueles que gostam de se sentir integrantes da elite intelectual que se diverte com coisas exóticas e incompreendidas, ou por críticos que não podem se deixar levar à expor publicamente opiniões totalmente pessoais. Facilmente o pior filme que vi e verei na minha vida.

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