Crítica | Clube da Mordida (Bit, 2019)

Nicole Maines e Diana Hopper estrelam 'Clube da Mordida', uma fábula vampírica subversiva sobre empoderamento feminino e identidade dirigida por Brad Michael Elmore


Char Diaz, Zolee Griggs, Diana Hopper e Friday Chamberlain como Frog, Izzy, Duke e Roya no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore
Char Diaz, Zolee Griggs, Diana Hopper e Friday Chamberlain como Frog, Izzy, Duke e Roya no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore


Em Clube da Mordida, Nicole Maines (série Supergirl) interpreta Laurel, uma jovem de 18 anos que ganha permissão dos pais para pegar a estrada e ir passar o verão dormindo no sofá do irmão mais velho, Mark (James Paxton, de Fanático), que persegue o sonho de ser ator em Los Angeles. Os irmãos vão juntos a uma boate, onde Laurel atrai imediatamente os olhares de quatro mulheres, entre elas uma moça chamada Izzy (Zolee Griggs, de Noivas em Guerra), que se apressa em convidá-la para uma diversão pós-festa.

O que nossa heroína não sabe é que suas futuras novas amigas, impecavelmente vestidas, são vampiras que vagam pelas ruas de Los Angeles há décadas, confundindo a percepção de seguranças de boates, fazendo discursos sobre empoderamento feminino e bebendo o sangue de homens malvados. Bem, na verdade, elas bebem indiscriminadamente, mas o sangue de predadores sexuais e de trolls da internet estão entre seus drinks favoritos.


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Assim como em Os Garotos Perdidos, é só uma questão de tempo até que Laurel seja “convidada” a entrar para o clube das moças festeiras com presas. E assim como em Clube da Luta, essas damas também têm suas próprias regras. Não falar sobre o Clube da Mordida é uma delas, embora a líder das sugadoras de sangue admita que só a colocou lá para parecer legal. Já a regra sobre jamais transformar um homem em vampiro, pois eles não sabem lidar com o poder, é levada muito a sério e pode até render alguns anos de castigo para as infratoras.

Matt Pierce e Nicole Maines como Andy e Laurel no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore
Matt Pierce e Nicole Maines como Andy e Laurel no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore


Clube da Mordida começa como uma crítica nem um pouco sutil à sociedade patriarcal. Rapidamente, o diretor e roteirista Brad Michael Elmore, mesmo realizador de Boogeyman Pop, expande o leque e passa a flertar com temas como moralidade, identidade, e até saúde mental. Além disso, Elmore tenta reescrever as regras dos seres sobrenaturais noturnos, ao mesmo tempo em que mantém algumas características do mito vampírico estabelecido.

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Com tantas pontas esperando para serem amarradas, não é surpresa que a maioria continue solta quando os créditos rolam após os 90 minutos de filme. Algumas subtramas são simplesmente ignoradas, como aquela envolvendo o melhor amigo de Laurel, Andy (Matt Pierce). Outras ganham uma resolução tão rápida que passam a sensação de serem aleatórias, como aquela dos caçadores de vampiros. Ou de uma certa ameaça que parecia invencível, mas é eliminada da maneira mais simples possível.

Zolee Griggs, Nicole Maines e Friday Chamberlain como Izzy, Frog e  Laurel no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore
Zolee Griggs, Nicole Maines e Char Dias como Izzy, Laurel e Frog e no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore


Mas enquanto a falta de foco e de imaginação atrapalham, a falta de sutileza é balanceada com algumas decisões acertadas, em especial as relacionadas com a jornada de Laurel. O roteiro nunca se aprofunda no passado da personagem, interpretada com bastante confiança por Maines. Também não explica os motivos dela parecer um pouco distante de tudo e de todos, inclusive dos pais. Mas há indícios de que tanto Laurel quanto seu irmão passaram por anos de turbulência, presumivelmente devido a questões relacionadas à atribuição de gênero, e Elmore confia em seu público para preencher as lacunas.


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A ausência proposital de informações sobre Laurel dá um certo charme ao filme, que também chama a atenção ao fazer uma inesperada ligação com as noivas de Drácula, as vampiras sem nome que dividem o castelo com o príncipe das trevas no romance gótico de terror de 1897 do autor Bram Stoker. O elo com as noivas ainda revela as motivações de Duke, a líder das garotas perdidas alérgicas a homens que guarda um segredo capaz de destruir a todas.

Diana Hopper como Duke no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore
Diana Hopper como Duke no filme 'Clube da Mordida', de Brad Michael Elmore


Duke é interpretada por Diana Hopper (Mudança Mortal), que se sai muito bem tanto capturando a frieza quanto oferecendo vislumbres da fragilidade subjacente que ajudam a deixar sua personagem interessante. A história dessa Heather Chandler do inferno vem acompanhada de um elaborado flashback ambientado na década de 1970, com direito a um divertido número de dança ao som de 'Rasputin', com a participação especial de um personagem que eu realmente não esperava ver.

Clube da Mordida não tem orçamento para grandes sequências de ação ou efeitos mirabolantes de fantasia, mas consegue entregar algumas imagens elegantes dentro de suas limitações. Não é enfadonho como a maioria dos filmes de terror social costumam ser, e ocasionalmente é até atrevido o suficiente para subverter a própria mensagem. Se mal consegue atingir a marca do regular, é mais por alguns furos de roteiro e pela quantidade exagerada de temas e subtramas que traz à tona e não tem tempo para desenvolver.

Nota: 4.8/10

Título Original: Bit.
Gênero: Terror, comédia.
Produção: 2019.
Lançamento: 2019.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 30 min.
Roteiro: Brad Michael Elmore.
Direção: Brad Michael Elmore.
Elenco: Diana Hopper, Nicole Maines, Zolee Griggs, Friday Chamberlain, Char Diaz, James Paxton, Greg Hill, Julia Voth, Brent Chase, Riley Litman, Dayton Sinkia, Matt Pierce, M.C. Gainey, Muneeb Rehman, Zack Cosby, James Jagger, Michael J. Renda, Tyner Pesch, Webster P. Whinery Jr., Lauren Stamile, Jamie Kaler, Tiffany Milian, Seya Hug, Heston Mosher.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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