Retro Review | O Galeão Fantasma (El buque maldito / The Ghost Galleon, 1974)

Os templários mortos-vivos retornam, agora em alto mar, em 'O Galeão Fantasma', terceiro filme da 'Quadrilogia dos Mortos Cegos' do diretor Amando de Ossorio


Blanca Estrada como Kathy no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio
Blanca Estrada como Kathy no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio


Corram para as colinas, porque os cavaleiros templários mortos-vivos mais famosos do cinema voltaram. E assim como nos filmes anteriores, A Noite do Terror Cego (1972) e O Retorno dos Mortos Vivos (1973), eles querem tatear, agarrar e morder pessoas. Infelizmente, desta vez os vilões cadavéricos criados pelo diretor e roteirista espanhol Amando de Ossorio não estão acompanhados de seus cavalos putrefatos que galopam em câmera lenta. Mas tudo bem, porque agora eles possuem um navio fantasma.

Se você não faz ideia de como os mortos-vivos cegos conseguiram um navio fantasma, basta perguntar ao Professor Grüber, interpretado por Carlos Lemos (Viagem a Lugar Nenhum). Ele é um estudioso do misterioso galeão, que nunca é detectado por radares ou instrumentos de navegação, mas está sempre presente em conversas sobre casos de desaparecimento de pequenas embarcações. Como logo descobriremos, Grüber também é a pessoa certa para se procurar quando um golpe publicitário desastrado dá muito errado e termina com duas jovens modelos desaparecidas em alto mar.

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As modelos em apuros são Kathy e Lorena Kay, interpretadas por Blanca Estrada (Uma Vela Para o Diabo) e Margarita Merino. Elas deveriam fingir que estavam perdidas no mar para atrair a atenção da mídia e impulsionar as vendas do barco resistente que pilotam, mas acabam perdidas de verdade. As moças não demoram para avistar um galeão holandês do século XVI navegando errante envolto por uma misteriosa neblina. Não há ninguém a bordo, exceto alguns templários mortos-vivos que, claro, irão persegui-las pelos quatro cantos da embarcação amaldiçoada.

Jack Taylor e Bárbara Rey como Howard e Noemi no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio
Jack Taylor e Bárbara Rey como Howard e Noemi no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio


Jack Taylor (A Maldição da Vampira) interpreta o empresário de artigos esportivos Howard Tucker, (ir)responsável pelo golpe publicitário. Assim que entra em cena, fica claro que Howard não está muito preocupado com o bem-estar das belas damas. Mas ele precisa fingir que se importa, pois a impaciente colega de quarto de Kathy, a também modelo Noemi (Bárbara Rey, de As Garras de Lorelei), está fazendo escândalo e não descarta sequer a possibilidade de acionar as autoridades policiais caso não obtenha informações sobre a amiga desaparecida.

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Tucker se apressa em partir para o mar em uma missão de resgate. Leva Noemi com ele para que ela não divulgue a história. Grüber também vai junto, pois está ansioso para conhecer o galeão fantasma. A expedição ainda conta com a presença de Lillian (Maria Perschy, de Um Amor em Roma), a ambiciosa diretora da agência de modelos “Barbie Models”, e do vilanesco Sérgio (Manuel de Blas, de A Noite Escura), assistente de Howard, cujo trabalho é proteger o patrão e cometer algumas maldades. Ou melhor, apenas proteger o patrão, já que ele já havia cometido maldades suficientes antes de embarcar.

Imagem do filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio
Imagem do filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio


O Galeão Fantasma apresenta alguns cenários internos impressionantes, com corredores escuros iluminados por velas, paredes de madeira decoradas com símbolos e objetos satânicos, portas secretas e até um tesouro perdido que, claro, despertará a cobiça de Sérgio. Uma névoa fantasmagórica ajuda a criar a atmosfera enquanto a cinematografia faz justiça à visão do diretor, imergindo o público em uma paleta de cores frias e cinzentas, amplificando o senso de terror e desolação.

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A trilha sonora desempenha um papel essencial ao amplificar as sensações do filme, aprofundando ainda mais a imersão em sua narrativa. O uso cuidadoso de instrumentos de corda e coros melancólicos acentua os momentos de tensão e o desconforto que permeia a experiência. Especialmente quando os mortos de pele seca entram em cena, com suas roupas sujas em farrapos, arrastando-se lentamente pelo convés e pelos corredores do galeão amaldiçoado em busca de novas vítimas.

Bárbara Rey como Noemi no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio
Bárbara Rey como Noemi no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio


Se nos filmes anteriores os espaços abertos permitiam mais mobilidade e uma chance maior de escapar do destino cruel de se tornar um banquete para os mortos, o navio oferece opções de fuga bastante limitadas, aumentando a sensação de claustrofobia. E não ajuda muito que os vilões continuam exercendo um pavor congelante sobre as vítimas, fazendo com que fiquem paradas enquanto eles se aproximam lentamente. Essas cenas representam a visão ingênua daquela época, mas, paradoxalmente, essa ingenuidade torna o filme ainda mais cativante e nostálgico para os espectadores contemporâneos.

Mas enquanto a visão da época funciona a favor da obra — mesmo que seja para arrancar algumas risadas —, as limitações orçamentárias impedem que o diretor alcance voos muito altos e comprometem seriamente a diversão. Um bom exemplo disso são as cenas externas do navio fantasmagórico. Você não precisará de um olhar muito apurado para perceber que a embarcação é apenas um barco de brinquedo em uma piscina ou talvez uma banheira. E o que dizer daqueles objetos que deveriam ser caixões, mas parecem mais caixas de fósforo afundando na água?

A atriz Blanca Estrada como Kathy no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio
A atriz Blanca Estrada como Kathy no filme 'O Galeão Fantasma', de Amando de Ossorio


O Galeão Fantasma ainda sofre com problemas de ritmo. Há várias cenas que se estendem demais, incluindo pessoas subindo e descendo escadas, e personagens carregando objetos de um lado para o outro no navio. Isso sem contar as longas cenas que mostram as mãos dos mortos-vivos saindo lentamente dos caixões. Acredito que o filme se beneficiaria com alguns personagens a mais no lugar dessas cenas cansativas. Ou talvez com algumas mortes extras, já que algumas ocorrem fora da tela ou são tímidas demais para causar o devido impacto.

Se você assistiu aos dois filmes anteriores, também notará que algumas situações parecem repetitivas. A história de Noemi e Kathy, por exemplo, lembra muito a de Virginia e Betty, interpretadas por María Elena Arpón e Lone Fleming em A Noite do Terror Cego, com direito inclusive à cena gratuita de agressão. Colocando tudo na balança, mesmo sendo um filme atmosférico, com vários acertos e um final depressivo memorável, O Galeão Fantasma acaba se tornando o capítulo mais fraco da Quadrilogia dos Mortos Cegos de Ossorio, que seria concluída no ano seguinte com A Noite das Gaivotas.

Nota: 4.9/10

Título Original: El buque maldito.
Gênero: Terror, suspense, aventura.
Produção: 1974.
Lançamento: 1974.
País: Espanha.
Duração: 1 h 29 min.
Roteiro: Amando de Ossorio.
Direção: Amando de Ossorio.
Elenco: Maria Perschy, Jack Taylor, Bárbara Rey, Carlos Lemos, Manuel de Blas, Blanca Estrada, Margarita Merino.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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