Julia Garner interpreta Terry Gionoffrio nessa prequel tímida demais de 'O Bebê de Rosemary', dirigida por Natalie Erika James.
Arte do filme 'Apartamento 7A', de Natalie Erika James |
A Primeira Profecia, lançado este ano, conseguiu o que parecia impossível: ser uma prequel à altura do filme original (A Profecia, de 1976), ao mesmo tempo em que encontrava uma identidade própria e expandia uma mitologia já conhecida, abrindo novos caminhos para a franquia.
O mesmo não pode ser dito de Apartamento 7A, da diretora Natalie Erika James. O filme estrelado pela talentosa Julia Garner (série Ozark) chega com a promessa de ser uma prequel intrigante de O Bebê de Rosemary (1968), mas, infelizmente, tropeça em suas próprias ambições e acaba sendo ofuscado pela falta de ousadia.
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Apartamento 7A conta a história de Terry Gionoffrio, meses antes de seu encontro com Rosemary Woodhouse no porão assustador do infame prédio de apartamentos Bramford, em Manhattan. Reencontramos Terry perseguindo o sonho de ver seu nome estampado nas luzes da Broadway. Um passo em falso depois e ela está sendo levada de maca pelos corredores sufocantes de um hospital, com uma lesão no tornozelo que a afasta por um tempo do agitado mundo da dança.
Marli Siu e Julia Garner como Terry e Annie no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Gareth Gatrell / Paramount+ |
É justamente na tentativa de retomar sua carreira que Terry, agora conhecida na cidade como "a garota que caiu", chega ao prédio Bramford. Sua intenção é se encontrar com Alan Marchand (Jim Sturgess, de Refúgio do Medo), um produtor da Broadway que demonstra um curiosidade preocupante pela vida no campo.
O destino de Terry acaba se cruzando com o de Roman e Minnie Castevet, interpretados por Kevin McNally (série The Crown) e Dianne Wiest (Os Garotos Perdidos). Sim, estamos falando do mesmo casal de idosos intrometidos e suspeitosamente generosos que fez amizade com Rosemary e seu marido Guy no clássico de 1968.
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Essa conexão com o filme original é, por um lado, um aceno reconfortante para os fãs, mas também sublinha uma repetição desgastante. Se você já conhece O Bebê de Rosemary, sabe como a história da pobre Terry termina. Assim, o verdadeiro desafio de James e seus co-roteiristas seria nos manter em suspense, providenciando surpresas e alguns sustos pelo caminho, até chegar à conclusão previsível.
Julia Garner e Dianne Wiest como Terry e Minnie no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Gareth Gatrell/Gareth Gatrell/Paramount+ - © 2024 Paramount Pictures. All Rights Reserved. |
Porém, o filme segue por trilhas já percorridas, resultando numa experiência morna que mais ecoa o original do que expande seu universo. Os realizadores parecem se perguntar: "E se recontássemos a história de O Bebê de Rosemary, só que desta vez sem o marido?". Essa "nova" ótica acaba sendo uma versão diluída.
Aqui, a trama carece de cenas chocantes e do suspense visceral que fez o filme de 1968 ser memorável. O subtexto que outrora era uma crítica sutil ao controle de corpos femininos, ganha uma nova roupagem, mas perde o impacto pela falta de nuances.
No entanto, nem tudo está perdido. A direção de Natalie Erika James é competente, como já demonstrado em seu filme anterior, o perturbador e surpreendentemente comovente Relíquia Macabra. Ela cria algumas imagens marcantes, como a alucinação de Terry nos corredores do Bramford, onde a arquitetura do prédio se contorce para refletir a fragmentação psicológica da personagem.
Julia Garner como Terry no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Paramount+/Paramount+ - © 2024 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED. |
O elenco também se destaca, especialmente Julia Garner. Sua Terry é vulnerável, mas determinada, e Garner consegue transmitir essa dualidade com habilidade. Mas mesmo com uma performance sólida, não há muito o que fazer quando em um filme que mais parece um remake, só que tímido demais em cenas que tinham potencial para chocar.
No fim das contas, Apartamento 7A é um filme visualmente interessante, mas narrativamente decepcionante. Para quem nunca viu O Bebê de Rosemary, pode até ser uma introdução intrigante. Para os fãs do original, ele não passa de uma sombra, desprovida da intensidade e do choque que fizeram de sua inspiração um marco do cinema de terror.
Se você está em busca de uma experiência realmente perturbadora, é melhor voltar ao clássico de Polanski. O que Apartamento 7A faz é apenas nos lembrar do quão brilhante O Bebê de Rosemary continua a ser.
Nota: 4.9/10
Título Original: Apartment 7A.
Gênero: Drama, suspense, terror.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América, Austrália, Reino Unido.
Duração: 1 h 44 min.
Roteiro: Natalie Erika James, Christian White, Skylar James.
Direção: Natalie Erika James.
Elenco: Julia Garner, Dianne Wiest, Kevin McNally, Jim Sturgess, Marli Siu, Rosy McEwen, Andrew Buchan, Anton Blake Horowitz, Raphael Sowole, Tina Gray.