Crítica | Apartamento 7A (Apartment 7A, 2024)

Julia Garner interpreta Terry Gionoffrio nessa prequel tímida demais de 'O Bebê de Rosemary', dirigida por Natalie Erika James.


Arte do filme 'Apartamento 7A', de Natalie Erika James
Arte do filme 'Apartamento 7A', de Natalie Erika James


A Primeira Profecia, lançado este ano, conseguiu o que parecia impossível: ser uma prequel à altura do filme original (A Profecia, de 1976), ao mesmo tempo em que encontrava uma identidade própria e expandia uma mitologia já conhecida, abrindo novos caminhos para a franquia.

O mesmo não pode ser dito de Apartamento 7A, da diretora Natalie Erika James. O filme estrelado pela talentosa Julia Garner (série Ozark) chega com a promessa de ser uma prequel intrigante de O Bebê de Rosemary (1968), mas, infelizmente, tropeça em suas próprias ambições e acaba sendo ofuscado pela falta de ousadia.


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Apartamento 7A conta a história de Terry Gionoffrio, meses antes de seu encontro com Rosemary Woodhouse no porão assustador do infame prédio de apartamentos Bramford, em Manhattan. Reencontramos Terry perseguindo o sonho de ver seu nome estampado nas luzes da Broadway. Um passo em falso depois e ela está sendo levada de maca pelos corredores sufocantes de um hospital, com uma lesão no tornozelo que a afasta por um tempo do agitado mundo da dança.

Marli Siu e Julia Garner como Terry e Annie no filme 'Apartamento 7A'
Marli Siu e Julia Garner como Terry e Annie no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Gareth Gatrell / Paramount+


É justamente na tentativa de retomar sua carreira que Terry, agora conhecida na cidade como "a garota que caiu", chega ao prédio Bramford. Sua intenção é se encontrar com Alan Marchand (Jim Sturgess, de Refúgio do Medo), um produtor da Broadway que demonstra um curiosidade preocupante pela vida no campo.

O destino de Terry acaba se cruzando com o de Roman e Minnie Castevet, interpretados por Kevin McNally (série The Crown) e Dianne Wiest (Os Garotos Perdidos). Sim, estamos falando do mesmo casal de idosos intrometidos e suspeitosamente generosos que fez amizade com Rosemary e seu marido Guy no clássico de 1968.


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Essa conexão com o filme original é, por um lado, um aceno reconfortante para os fãs, mas também sublinha uma repetição desgastante. Se você já conhece O Bebê de Rosemary, sabe como a história da pobre Terry termina. Assim, o verdadeiro desafio de James e seus co-roteiristas seria nos manter em suspense, providenciando surpresas e alguns sustos pelo caminho, até chegar à conclusão previsível.

Julia Garner e Dianne Wiest como Terry e Minnie no filme 'Apartamento 7A'
Julia Garner e Dianne Wiest como Terry e Minnie no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Gareth Gatrell/Gareth Gatrell/Paramount+ - © 2024 Paramount Pictures. All Rights Reserved.


Porém, o filme segue por trilhas já percorridas, resultando numa experiência morna que mais ecoa o original do que expande seu universo. Os realizadores parecem se perguntar: "E se recontássemos a história de O Bebê de Rosemary, só que desta vez sem o marido?". Essa "nova" ótica acaba sendo uma versão diluída.

Aqui, a trama carece de cenas chocantes e do suspense visceral que fez o filme de 1968 ser memorável. O subtexto que outrora era uma crítica sutil ao controle de corpos femininos, ganha uma nova roupagem, mas perde o impacto pela falta de nuances.

No entanto, nem tudo está perdido. A direção de Natalie Erika James é competente, como já demonstrado em seu filme anterior, o perturbador e surpreendentemente comovente Relíquia Macabra. Ela cria algumas imagens marcantes, como a alucinação de Terry nos corredores do Bramford, onde a arquitetura do prédio se contorce para refletir a fragmentação psicológica da personagem.

Julia Garner como Terry no filme 'Apartamento 7A'. Foto: Paramount+/Paramount+ - © 2024 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED.


O elenco também se destaca, especialmente Julia Garner. Sua Terry é vulnerável, mas determinada, e Garner consegue transmitir essa dualidade com habilidade. Mas mesmo com uma performance sólida, não há muito o que fazer quando em um filme que mais parece um remake, só que tímido demais em cenas que tinham potencial para chocar.

No fim das contas, Apartamento 7A é um filme visualmente interessante, mas narrativamente decepcionante. Para quem nunca viu O Bebê de Rosemary, pode até ser uma introdução intrigante. Para os fãs do original, ele não passa de uma sombra, desprovida da intensidade e do choque que fizeram de sua inspiração um marco do cinema de terror.

Se você está em busca de uma experiência realmente perturbadora, é melhor voltar ao clássico de Polanski. O que Apartamento 7A faz é apenas nos lembrar do quão brilhante O Bebê de Rosemary continua a ser.

Nota: 4.9/10

Título Original: Apartment 7A.
Gênero: Drama, suspense, terror.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América, Austrália, Reino Unido.
Duração: 1 h 44 min.
Roteiro: Natalie Erika James, Christian White, Skylar James.
Direção: Natalie Erika James.
Elenco: Julia Garner, Dianne Wiest, Kevin McNally, Jim Sturgess, Marli Siu, Rosy McEwen, Andrew Buchan, Anton Blake Horowitz, Raphael Sowole, Tina Gray.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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