Crítica | A Libertação (The Deliverance, 2024)

Lee Daniels dirige um elenco comprometido em um filme de exorcismo sem exorcista, que funciona melhor como drama do que como terror.


Andra Day e Anthony B. Jenkins como Ebony e Andre no filme 'A Libertação'
Andra Day e Anthony B. Jenkins como Ebony e Andre no filme 'A Libertação'. Foto: Netflix


Quando foi anunciado que Lee Daniels estava dirigindo um filme de terror chamado The Deliverance, fiquei bastante empolgado. Afinal, estamos falando do homem por trás do aclamado Preciosa - Uma História de Esperança, drama indicado a seis Oscars, incluindo duas indicações para Daniels: Melhor Diretor e Melhor Filme.

Além disso, The Deliverance tem como base o caso real de Latoya Ammons, que afirmava ter vivido em uma casa habitada por espíritos malignos na cidade de Gary, Indiana, nos Estados Unidos. Esse caso tornou-se amplamente conhecido em 2014, após uma reportagem do Indiana Star detalhar os eventos que teriam ocorrido no local.

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Em 2022, foi noticiado que a Netflix havia desembolsado US$ 65 milhões na aquisição do filme, o que só aumentou minha curiosidade. Agora, The Deliverance finalmente chega à plataforma de streaming com o título nacional A Libertação, e, se eu tivesse que analisá-lo apenas pela metade inicial, diria que foi um bom investimento. Infelizmente, os problemas na segunda metade me impedem de fazer essa afirmação.

Glenn Close e Andra Day como Alberta e Ebony no filme 'A Libertação'
Glenn Close e Andra Day como Alberta e Ebony no filme 'A Libertação'. Foto: Netflix


O filme segue Ebony, uma mãe solteira que se muda com a família para uma nova casa em algum lugar de Pittsburgh. Ebony é atormentada por demônios metafóricos, como o vício em álcool e o temperamento violento. E também pelas contas, muitas contas. Quando seus três filhos começam a agir de maneira estranha, machucando a si mesmos e uns aos outros, ela suspeita que sua família pode estar sendo atormentada por outro demônio, este muito real.

Andra Day (Estados Unidos vs. Billie Holiday) faz um trabalho louvável como a mãe batalhadora, mas preocupantemente volátil, garantindo ao filme uma carga de tensão antes mesmo de as forças sobrenaturais começarem a se manifestar. A excelente Glenn Close (Atração Fatal) não fica atrás, roubando a maioria das cenas em que aparece. A troca de farpas e os confrontos entre mãe e filha estão entre os momentos mais interessantes do filme.

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A atriz e produtora Mo'Nique (Um Natal Quase Perfeito) também se destaca como Cynthia, a agente do Serviço de Proteção à Criança, que investiga relatos de abuso e negligência no lar instável de Ebony. Caleb McLaughlin (série Stranger Things), Demi Singleton (Goldie) e Anthony B. Jenkins (minissérie Um Homem da Flórida) não têm muito o que fazer como os filhos de Ebony, Nate, Sante e Andre, mas são convincentes quando a possessão se intensifica.

Anthony B. Jenkins e Andra Day como Andre e Ebony no filme 'A Libertação'. Foto: Netflix


Por outro lado, os personagens masculinos adultos são mal desenvolvidos, e nem mesmo Omar Epps (Terror no Dia das Bruxas) recebe uma linha de diálogo digna de destaque. Como vem acontecendo em muitos filmes recentes, tive a sensação de que o roteiro forçava para que apenas o elenco feminino se sobressaísse. O fato de o padre que realizou o exorcismo no caso real ter sido excluído do filme só reforçou essa impressão.

Em vez do padre, entra em cena outra mulher, Bernice James, interpretada por Aunjanue Ellis-Taylor (Três Amigas Todos os Domingos). Curiosamente, o filme começa a sair dos trilhos justamente quando ela assume o protagonismo. Bernice é apresentada como a solução para todos os problemas, mas acaba não fazendo diferença alguma na história. Para piorar, a personagem evoca lembranças desagradáveis do terrível O Exorcista: O Devoto, o que é suficiente para comprometer a credibilidade de qualquer filme.

A certa altura, A Libertação recorre a clichês batidos, concentrando-se na luta de Ebony para convencer alguém a acreditar nela. Some-se a isso a dificuldade de Lee Daniels em lidar com as cenas de terror e a decisão de utilizar efeitos especiais — muitos deles questionáveis —, e temos um filme que nem o bom elenco consegue sustentar até o final.

Algumas imagens grotescas ainda se destacam, mas muitos momentos beiram o humor involuntário. Sou a favor de uma dose de tosqueira divertida e até gostaria que os filmes de terror abraçassem mais esse lado. No entanto, em A Libertação, essa tentativa (intencional ou não) de flertar com o cinema B não funciona, não diverte e ainda destoa completamente do tom sério que havia sido construído. O que começa como um drama de terror intenso e sufocante termina com a sensação de um potencial desperdiçado.

Nota: 4.9/10

Título Original: The Deliverance.
Gênero: Drama, terror.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 52 min.
Roteiro: David Coggeshall, Elijah Bynum.
Direção: Lee Daniels.
Elenco: Andra Day, Glenn Close, Anthony B. Jenkins, Caleb McLaughlin, Demi Singleton, Aunjanue Ellis-Taylor, Mo'Nique, Omar Epps, Miss Lawrence, Javion Allen, Todd Anthony, Bryant Bentley, Jonathan Berry, Loryn Bonner, Colleen Camp, Guy Collins, Cynthia Dallas, Girly Daniels.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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